Brasil : Amazônia possui maior parte da água doce do país, mas menores percentuais de acesso à água potável, aponta estudo
Enviado por alexandre em 23/03/2023 10:00:00

"A distribuição de água no Brasil é bastante desigual em termos geográficos e sociais, embora o país detenha 12% de toda a água doce do planeta", explica Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil.


Uma pesquisa realizada pela GlobeScan, Radar Survey, em parceria com Circle of Blue e o WWF apontou que 81% dos brasileiros estão muito preocupados com a escassez de água potável, percentual bem acima da média mundial de 58%. A preocupação tem motivo: apenas 15% dos entrevistados no Brasil declaram não serem afetados pela falta de água potável e 40% informaram já terem sido prejudicados por secas. 

Um percentual ainda maior está muito preocupado com a poluição dos rios, chegando a 84% (contra uma média global de 62%). Enquanto apenas 5% disseram não serem afetados pelas mudanças do clima, 68% dos entrevistados disseram ter sido afetados pela alta do preço dos alimentos causada pelo clima.

"A distribuição de água no Brasil é bastante desigual em termos geográficos e sociais, embora o país detenha 12% de toda a água doce do planeta", explica Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil.

"Na Amazônia está a maior parte da água doce do país e, ao mesmo tempo, os menores percentuais de acesso a serviços de água potável e esgoto. O crescente desmatamento coloca em risco o regime de chuvas que abastece lençóis freáticos no centro sul do país. No Cerrado, onde nascem oito das doze principais bacias hidrográficas do país, metade das áreas naturais já foram convertidas em lavoura ou pasto. Em todo o Brasil, vemos a superfície de água dos rios diminuindo. Ou seja, já temos evidências suficientes de que o país está a caminho da insegurança hídrica",

afirma.
Foto: Adriano Gambarini/

O estudo foi lançado às vésperas do Dia Mundial da Água e da primeira Conferência da Água que a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará em 46 anos, entre os dias 22 e 24 de março. Ele mostra que a preocupação com a escassez de água potável aumentou nos últimos anos em todo o mundo, passando de 49% em 2014 para 61% em 2022 entre os 17 países rastreados de forma consistente. 

Aumentou também a preocupação global com as mudanças climáticas (45% em 2014 para 65% em 2022). A mudança climática está fortemente ligada à escassez de água: no total da amostra, de cada dez pessoas que se declararam pessoalmente afetadas pelas mudanças climáticas, quase quatro disseram que experimentaram a seca.

Os principais resultados da pesquisa incluem:

- 58% das pessoas em todo o mundo acreditam que a escassez de água doce é um problema "muito sério". Mexicanos, colombianos e brasileiros relatam a maior preocupação com o acesso à água, enquanto as pessoas na China, Hong Kong, Japão e Coréia do Sul são as menos propensas a dizer que a escassez de água potável é um problema "muito sério".
- As pessoas na Argentina, Coréia do Sul, Vietnã, Colômbia, Alemanha e Peru relatam os maiores aumentos de preocupação com a escassez de água no ano passado.
- 30% das pessoas em todo o mundo afirmam que são "grandemente" afetadas pessoalmente pela escassez de água potável, enquanto a maioria global se sente pelo menos ou moderadamente afetada pessoalmente (56%). Apenas um quarto (25%) diz que não é afetado.
- A maioria das pessoas pesquisadas na Colômbia, Itália, México, Peru e Turquia dizem que são muito afetadas pessoalmente pela falta de água potável. Em contraste, menos de um em cada dez diz que foi muito afetado na Alemanha, Japão e Holanda.
- Globalmente, as pessoas em áreas urbanas (32%) são mais propensas do que aquelas em áreas rurais (28%) ou cidades e áreas suburbanas (26%) a se sentirem muito afetadas pela falta de água potável.
- Até 38% das pessoas dizem que foram "muito" pessoalmente afetadas pelas mudanças climáticas, enquanto até 75% foram pelo menos "moderadamente" afetadas.
- As pessoas que dizem ter sido pessoalmente afetadas pelas mudanças climáticas geralmente mencionam a seca como uma das formas pelas quais foram impactadas; 37 por cento das pessoas que vivenciam a mudança climática afirmam pessoalmente que isso ocorre devido à seca.

Para Alexis Morgan, líder global de gerenciamento de água do WWF, "A água não vem de uma torneira, ela vem da natureza. Mas com a perda da natureza e o aumento da instabilidade climática, a escassez de água só piorará, impactando sociedades e economias em todo o mundo. No entanto, por meio da colaboração, restaurando pântanos, reconectando rios e reabastecendo aquíferos, provamos maneiras de enfrentar esses desafios compartilhados de água. É hora de investir urgentemente nessas soluções."

J. Carl Ganter, diretor administrativo da Circle of Blue, declarou: "Estamos vendo uma rara convergência, quando a opinião pública está se alinhando com realidades profundas, à medida que o mundo enfrenta desafios crescentes de água que afetam a forma como cultivamos nossos alimentos, geramos nossa energia e apoiamos uma economia e um meio ambiente sustentáveis. Esta pesquisa com cerca de 30.000 pessoas mostra definitivamente que os cidadãos de todo o mundo estão sentindo e falando sobre os efeitos do estresse hídrico e climático. Na véspera da Conferência da Água da ONU, este é um barômetro crucial que revela a crescente demanda pública por ação de líderes políticos e corporativos".

Perrine Bouhana, diretora da GlobeScan, comentou: "Não é nenhuma surpresa que as pessoas estejam cada vez mais preocupadas com a disponibilidade de água potável. As secas do ano passado afetaram a vida de um número incontável de pessoas em todos os continentes. Os indicadores sugerem que isso provavelmente ficará pior. Os altos níveis de preocupação pública com a água significam que há uma oportunidade agora para governos e ONGs ajudarem pessoas e empresas a entender como suas ações podem genuinamente fazer a diferença para este problema globalmente importante que afeta a todos nós".


*Este conteúdo foi originalmente publicado pela WWF Brasil

Entenda a importância da restauração florestal para garantir a Saúde Única na Amazônia

O conceito de Saúde Única é uma abordagem que reconhece a interdependência entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde dos ecossistemas. O artigo divulgado pelo Museu Goeldi - 'Saúde Única: O papel da restauração florestal para garantir a saúde humana, animal e ambiental na Amazônia' - ressaltou que os benefícios da restauração florestal vão além da biodiversidade, do clima e dos serviços ambientais. Essa restauração também está associada ao bem-estar, ao bem-viver, à saúde humana e dos demais organismos vivos da Amazônia.

De acordo com o artigo, apesar do tema ter ganhado evidência com os impactos causados pela pandemia do coronavírus, esse já era um assunto na pauta de cientistas e representantes públicos por serem inúmeras as doenças causadas ou agravadas pelo desequilíbrio ambiental.

Entre os seis objetivos do 'Plano de Ação Conjunta Quadripartite para a Saúde Única (2022-2026) - FAO, PNUMA, WOAH e OMS - está "proteger e restaurar a biodiversidade, prevenir contra a degradação do ecossistema e ambientes mais amplos para conjuntamente dar suporte à saúde das pessoas, animais, plantas e ecossistemas dando base ao desenvolvimento sustentável".

Foto: Reprodução/Pixabay

Assim, o plano se integra a outras iniciativas globais, como a Década da ONU para a Restauração de Ecossistemas (2021-2030), e os diversos acordos internacionais para a proteção do meio ambiente com os quais o Brasil se comprometeu.

"A adoção da abordagem da Saúde Única, como um elemento de planejamento e da implementação de políticas públicas, pode representar um grande avanço para o desenvolvimento local e regional, assim como viabilizar o alcance das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) na Amazônia",

ressaltou Milton Kanashiro, pesquisador da Embrapa e autor principal do artigo.

Sobre a Aliança pela Restauração na Amazônia

A Aliança pela Restauração na Amazônia é uma iniciativa multi-institucional e multissetorial, estabelecida em 2017 que tem como missão articular múltiplos atores para a restauração na Amazônia como estratégia integrada à conservação e com benefícios socioeconômicos compartilhados.

Atualmente é formada por mais de 100 membros, dentre organizações da sociedade civil, academia, cooperativas, associações, empresas, governo, consultores e demais atores da cadeia da restauração e tem como secretaria executiva a The Nature Conservancy (TNC Brasil). 

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