Mesmo sem zerar as perdas, os benefícios já poderiam ser sentidos pela população com a diminuição gradual do desperdício. Uma portaria de 2021 do governo federal estabelece como meta para o ano de 2034 a 25% para este indicador.
Caso o indicador de perdas de água caísse do atual patamar de quase 41% para os 25% previstos pela portaria, 25,7 milhões de brasileiros que não têm acesso à água potável hoje poderiam passar a usufruir deste direito.
O que os dados dos últimos anos mostram, porém, é que o país não está avançando para alcançar esta meta, já que 2021 foi o sexto ano seguido de piora do indicador de perda na distribuição (como é possível ver no gráfico no início desta reportagem).
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"É um problema sistêmico. Há poucos recursos investido na área. Por isso, e como ainda são 33 milhões de brasileiros sem acesso à água potável, o operador acaba priorizando a ampliação da rede, ou a ampliação da rede de coleta de esgoto, e acaba não investindo tanto para diminuir as perda", diz Machado.
REGIÃO NORTE PERDE METADE DA ÁGUA QUE PRODUZ
Esta situação é ainda mais grave em alguns locais do país, como no Norte -- que, historicamente, sempre teve poucos investimentos em saneamento e, consequentemente, os piores indicadores do setor no país, como é possível ver no gráfico abaixo.
Importante dizer que o indicador caiu de 55,1% em 2017 para os atuais 51,2% no Norte do país, mas ainda continua muito elevado, já que a região perde mais da metade da água que é captada e tratada por conta de vazamentos e fraudes.
Não por acaso, os quatro estados com mais desperdício do país estão no Norte: Amapá, Acre, Roraima e Rondônia (veja o ranking completo mais abaixo).
Já no Sudeste, o índice é mais baixo que o Norte (38%), mas está subindo: em 2017, era de 34,4%. Como esta é a região mais populosa do país, a alta regional acaba pressionando consideravelmente o indicador nacional para cima.
Já os estados do Nordeste, a segunda região com mais perdas, seguem estáveis: o indicador passou de 46,3% em 2017 para 46,2%.
Veja o ranking do desperdício por estado:
Amapá: 74,8% da água produzida é perdida
Acre: 74,4%
Roraima: 64%
Rondônia: 61,4%
Maranhão: 59,2%
Amazonas: 53%
Rio Grande do Norte: 52,2%
Mato Grosso: 48,4%
Sergipe: 48,4%
Alagoas: 47%
Pernambuco: 46%
Piauí: 45,3%
Ceará: 45,2%
Rio de Janeiro: 45%
Rio Grande do Sul: 42%
Bahia: 39,7%
Espírito Santo: 38,8%
Minas Gerais: 37,5%
Pará: 37,4%
Tocantins: 35,5%
Paraíba: 35,4%
Distrito Federal: 35,1%
São Paulo: 34,5%
Santa Catarina: 34,1%
Paraná: 33,8%
Mato Grosso do Sul: 33,4%
Goiás: 28,5%
COMO DIMINUIR AS PERDAS?
Para conseguir melhorar os indicadores, Machado afirma que são necessárias uma série de ações:
Priorização: "O assunto tem que ser colocado na agenda pública dos governantes e das operadoras. A partir disso, os investimentos para diminuir o desperdício começam a chegar."
Fiscalização: "Precisa ter uma fiscalização mais ativa para identificar onde estão os furtos e para combatê-los."
Conscientização: "É precisar fazer companhas de conscientização da população, para que as pessoas entendem a importância de não desperdiçar e possam também fiscalizar, identificar e denunciar fraudes."
Investimento: "A malha de abastecimento das cidades precisa ser setorizada. (...) Dessa forma, é possível ter uma noção mais apurada da água que está circulando e sendo consumida, vem como ter mais eficiência em saber onde estão os vazamentos. Também é importante investir em novas tecnologias, como chips e medidores."
Fonte: G1