No Brasil, esse fenômeno climático é responsável por alterar a distribuição de umidade e as temperaturas em diversas áreas do mundo e, dessa maneira, ocasiona secas prolongadas nas Regiões Norte e Nordeste. Portal Amazônia, com informações de BRASIL 61 Foi anunciada no início de junho pela Administração Nacional de Atmosferas e Oceanos (NOOA – sigla em inglês), a formação do El Niño no Brasil. Este é um fenômeno climático que se caracteriza pelo aquecimento anormal da superfície da água do Oceano Pacífico, ou seja, acima da média, e por um longo período de tempo. O fenômeno não tem um período de duração definido, mas pode persistir até dois anos ou mais. Ele é classificado por faixas e no Brasil a faixa que influencia o país é a 3.4. El Niño é anunciado no Brasil. Foto: Reprodução/Agência Brasil Segundo o NOOA, o último El Niño ocorreu de 2018 a 2019 e, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Brasil estava num período neutro, que nem El Niño e nem El Niña se formam, mas que foi confirmada a atuação do fenômeno El Niño no país e que ele deve durar até o próximo verão. A especialista do Inmet, Andrea Ramos, explica por que esse fenômeno acontece: "Durante a formação do El Niño, o comportamento dos ventos alísios tem um papel fundamental. Esses ventos são constantes que vêm tanto do Hemisfério Sul quanto do Hemisfério Norte. Normalmente, os ventos interferem no Oceano Pacífico e ele empurra as águas da superfície oeste. No entanto, quando esses ventos alísios estão enfraquecidos ou interferem a direção, essa troca de água não ocorre, e as mais quentes permanecem por mais tempo paradas na superfície, podendo chegar até em torno de 3ºC acima da média, formando assim o El Niño". No Brasil, esse fenômeno climático é responsável por alterar a distribuição de umidade e as temperaturas em diversas áreas do mundo e, dessa maneira, ocasiona secas prolongadas na região Norte e Nordeste e chuvas intensas na região Sul, acrescenta a meteorologista do Inmet. "Isso ocorre porque a água da superfície do pacífico está muito mais quente do que o normal [e] evaporar com mais facilidade. Ou seja, ar quente sobe para atmosfera mais alta, levando umidade e formando uma grande quantidade de nuvens de chuva", conclui. O fenômeno ainda não está definido com um Super El Niño, classificação mais intensa, mas o Instituto de Meteorologia do Brasil já está em monitoramento para acompanhar possíveis alterações. Os últimos três Super El Niños que ocorreram na história ocorreram em 1982/1983, o segundo em 1997/1998 e o terceiro em 2015/2016. O Inmet prevê que em 2023, o volume de chuvas deve voltar a ser intenso, principalmente na região Sul do país, como foi em 2015, em Porto Alegre e Guaíba (RS). Fonte: Brasil 61
Livro revela como a castanha se tornou uma das mais importantes atividades econômicas da Amazônia Além dos usos comerciais, pesquisas na área da saúde apontam que substâncias presentes na castanha-do-pará podem retardar o envelhecimento e até ajudar a prevenir alguns tipos de câncer. PORTAL AMAZÔNIA, COM INFORMAÇÕES DO JORNAL DA USP Castanha-do-Brasil, noz amazônica, tocari e tururi. São muitos os nomes da árvore e semente que conhecemos em geral como castanha-do-pará. Desde a chegada dos europeus à América do Sul, a árvore da família botânica Lecythidaceae, nativa da floresta amazônica, é mencionada e descrita em relatos de viajantes, religiosos e naturalistas. Apreciadas pelo seu sabor, as amêndoas são utilizadas tanto na culinária em geral, em especial no acompanhamento de doces, como pelo setor de cosméticos, que utiliza o óleo obtido da castanha para a fabricação de xampus, condicionadores e sabonetes. Além dos usos comerciais, pesquisas na área da saúde apontam que substâncias presentes na castanha-do-pará podem retardar o envelhecimento e até ajudar a prevenir alguns tipos de câncer. Ouriço da castanheira após a queda no solo. Foto: José Jonas Almeida/Arquivo pessoal Com base na tese de doutorado 'Do extrativismo à domesticação: as possibilidades da castanha-do-pará', defendida no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, surgiu o livro 'A Castanha do Pará na Amazônia', publicado pela Paco Editorial. O trabalho, que tem como foco a história econômica da árvore e sua semente famosa, foi inédito em sua abordagem. Na obra, o historiador José Jonas Almeida revela em etapas como a produção de castanha-do-pará representou uma das mais importantes atividades da Amazônia e um recurso natural fundamental para a sobrevivência das populações tradicionais daquela região. Já durante sua pesquisa de mestrado, Almeida se aproximou do tema, tendo como objeto de estudo Marabá, localizada no sul do Pará. No passado, a cidade foi a maior produtora de castanhas do mundo. O interesse específico pela semente surgiu quando o pesquisador investigou a economia da cidade durante o período da ditadura militar brasileira.
Partindo de viagens feitas para a região, o historiador reuniu um conjunto de documentos de fontes oficiais, matérias de jornais, livros de viajantes, estudos botânicos e informações obtidas tanto da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) quanto de bibliotecas internacionais, como a Biblioteca do Congresso, localizada em Washington, nos EUA. De acordo com sua análise, a atividade ao redor da castanha-do-pará "garantiu a manutenção da economia de alguns municípios na primeira metade do século 20, entre eles Marabá, tendo movimentado um comércio ativo", afirma. Da Amazônia para o mundo A estrutura da tese e, posteriormente, do livro foi sendo construída ao longo dos anos de doutorado. "Primeiro pesquisei a história da castanha, como ela foi descoberta pelos portugueses no período colonial e pelos espanhóis, que relataram encontros nas regiões amazônicas que hoje são a Bolívia e o Peru", descreve Almeida. Exemplar de castanheira no munícipio de Marabá, sudeste do estado do Pará. Foto: Reprodução/Casa de Cultura de Marabá A partir daí, investigando principalmente o material da Embrapa, o historiador desvendou os mistérios sobre como aconteceu o chamado processo de domesticação da planta. "Visitei em Manaus, por exemplo, uma fazenda que planta e produz castanha-do-pará. Originalmente, ela era extraída da floresta amazônica", relembra ele. Em seguida, Almeida se concentrou em entender o aproveitamento da amêndoa, seu uso para a alimentação e a decorrente domesticação. "Descobri que ela é conhecida no exterior há mais tempo do que eu imaginava", aponta ele, ao explicar que, desde o final do século 18, os ingleses já estavam consumindo a castanha por meio de importações portuguesas. "Encontrei anúncios de jornais na Inglaterra que já divulgavam castanha-do-pará, tapioca e arroz do Pará", comenta. Apelidada de brazil nut pelos ingleses, a planta foi alvo de planos mercantis ousados por parte dos europeus. Os ingleses, que já tinham levado a seringueira da Amazônia para a Malásia para plantá-la, quebrando assim a economia brasileira da borracha, tentaram fazer algo similar com a castanha-do-pará. Frutos (ouriços) da castanheira coletados na floresta amazônica. Foto: Reprodução/Editorial Paco Sementes foram enviadas para a Jamaica, para Trinidad, em seguida para o jardim botânico inglês e de lá para a Ásia. As tentativas de plantio aconteceram no Sri Lanka, na Malásia e até mesmo na Austrália, "mas não deu resultado em termos comerciais", afirma o historiador ao explicar que, para ser produzida em grande escala, a planta precisa de insetos polinizadores, um gênero específico de abelhas, por exemplo. Gênero que só existe na Amazônia e que precisa estar perto da floresta para fazer a polinização. "Ou seja, dependia de um ecossistema específico", sumariza. Foto: Divulgação/Acervo pesquisador Alimentado prioritariamente pelas exportações brasileiras, o mercado europeu foi acompanhado pelo surgimento de uma demanda dos Estados Unidos, país no qual a amêndoa foi popularizada no começo do século 19. "Nos EUA, existiu uma sociedade importadora de castanha, a Brazil Nut Association", conta Almeida. Criado em 1933, o grupo comprava, distribuía e cuidava das propagandas em grandes veículos de imprensa, dentre eles, a famosa revista Life. Mas e no Brasil? De acordo com o especialista, o mercado brasileiro para a castanha-do-pará sempre foi muito reduzido. "Essas amêndoas de forma geral (avelã, castanha, noz), são amêndoas mais consumidas nas regiões de clima temperado. Por isso o êxito na Europa e nos EUA", afirma ele. Culturalmente, elas completam um conjunto de amêndoas que são consumidas em grandes feriados, sobretudo no segundo semestre de cada ano. No mercado interno, sem essa demanda, a castanha-do-pará permaneceu cara, em especial por causa de seu transporte. Castanhas sem casca (parte superior) e com casca. Foto: Reprodução/Folheto publicado pela Acre State Business Agency Entretanto, houve tentativas pontuais de ampliar o consumo entre os brasileiros. "Há um tempo atrás, no século 19, no livro O Cozinheiro Nacional (reeditado recentemente), havia muitas receitas com castanha-do-pará para sopas, frango e até pombos, mas hoje realmente temos muito pouca procura no Brasil", comenta. Vale lembrar que há pouco mais de 80 anos, a população brasileira era em grande parte desnutrida, por isso os nutrólogos da época recomendavam castanhas para crianças e mães amamentando, por exemplo. Ainda assim, o mercado interno da castanha-do-pará atualmente representa cerca de 2% do total que é produzido, sendo concentrado prioritariamente para exportação. Perda de mercado Durante a elaboração da tese (publicada em 2017), Almeida procurou entender uma das grandes mudanças no mercado de exportação da castanha que deixou o Brasil no segundo lugar como um dos maiores produtores, perdendo a primeira posição para a Bolívia, com o Peru crescendo como o terceiro maior exportador. "O interessante é que na Bolívia é basicamente extrativismo, eles ainda não plantam", conta o historiador ao relatar que o plantio, também chamado de cultivo racional, é uma iniciativa relativamente nova até mesmo no Brasil. "Existe uma fazenda que foi implantada por um empresário de São Paulo, Sérgio Vergueiro – tataraneto do senador Vergueiro, primeiro fazendeiro que trouxe imigrantes para o Brasil -, que se beneficiou na época dos incentivos fiscais que o governo concedeu para quem fosse investir na Amazônia", descreve ele.
Anúncio de 1909 de casa exportadora de gêneros da Amazônia, entre eles a castanha-do-pará. Foto: ebay/Ad Pires Teixeira Ca Adquirindo uma terra a 200 quilômetros de Manaus, em Itacoatiara, Vergueiro tinha como objetivo principal a criação de gado: "Mas ao derrubar a mata para formar pastagem, a vegetação natural nascia de novo e destruía o pasto, o que inviabilizou a criação". Somente nos anos 1980, quando técnicos da Embrapa sugeriram o plantio da castanha, a fazenda descobriu sua principal vocação econômica e alimentou um mercado que não tinha grandes concorrentes. "Hoje ela produz pupunha também e, ao que se sabe, é a maior produção em fazenda de castanhas que existe", afirma Almeida. Apesar do volume de produção da castanha não ser grande, os exportadores brasileiros a beneficiam, um processo que envolve tirar a casca ao redor das sementes, deixando apenas as amêndoas, para vendê-las enlatadas. Risco de contaminação Anúncio do jornal inglês Hampshire Chronicle, 1796. Foto: British Newspaper Arquive via tese do autor Além do atraso no que se refere à melhoria de técnicas de extração e cultivo, a exportação de castanha-do-pará envolve outros cuidados que o Brasil demorou a tomar. "Países europeus e os EUA fazem uma restrição no que se refere à contaminação por aflatoxina", explica Almeida. A substância é produzida por alguns tipos de fungos e eventualmente encontrada em produtos agrícolas estocados. Quando consumida em grande quantidade pelo organismo humano, é considerada cancerígena, o que levou importadores a controlarem melhor o teor da substância em toda a castanha recebida. Receitas utilizando a castanha-do-pará, impressas pela Brazil Nut Association. "A castanha com casca é mais propensa a ter problemas de contaminação e estragar por causa da umidade. A beneficiada tem uma possibilidade menor porque já foi retirada a casca e feito todo um processo", esclarece ele. Até a década de 1980, a maior parte das exportações do Brasil não era beneficiada e isso gerou problemas. Em 2003, o Brasil teve um carregamento devolvido por parte da União Europeia. Já a produção boliviana é toda beneficiada, o que certamente ajudou a Bolívia a dominar o mercado. Anúncios da Brazil Nuts Association de castanha-do-pará. Outro fator decisivo para derrubar o Brasil da posição de maior exportador foi o desmatamento nas bordas da Amazônia brasileira, principalmente próximo a Marabá. Durante muitos anos, a castanha ficou em primeiro lugar – sobretudo nas décadas de 1920/1930 – como o produto mais importante da Amazônia. "Superando a borracha e ajudando a amenizar a crise da borracha, que foi grave", pontua o pesquisador. "O sustento das populações ribeirinhas ficou basicamente por conta da castanha. E Marabá foi o grande centro produtor até a década de 1980. No entanto, hoje, ela se sustenta com a agropecuária e o setor terciário", revela. O futuro numa casca de noz Castanha da fazenda Aruanã comercializada no mercado interno. Foto: José Jonas Almeida/Arquivo pessoal Para os técnicos da Embrapa, o extrativismo está fadado a acabar. Dotado de opinião mais ponderada, Almeida acredita que em algumas áreas da Amazônia o extrativismo ainda é uma opção para populações, já que é uma alternativa ao desmatamento e uma forma de explorar a floresta mantendo-a em pé. "Não é preciso derrubar a árvore para tirar o fruto da castanheira", destaca ele. No entanto, a persistência dessa visão excludente entre os procedimentos de coleta e cultivo racional não contribuiu para preservar o produto e sua reputação. Para o especialista, o modelo que prevaleceu até aqui foi priorizado por uma estrutura agrária rudimentar e predatória, marcada pelo controle da terra por parte de grupos e oligarquias privilegiadas, o que não colaborou com o crescimento do mercado da castanha-do-pará. Assim, seria preciso uma nova série de políticas públicas que também levassem em consideração os moradores da Amazônia, além de novas estratégias para otimizar o cultivo. Combinar o extrativismo com o plantio poderia ser a chave para voltarmos ao primeiro lugar no topo das exportações. "Uma boa alternativa seria o plantio consorciado com outras plantas como, por exemplo, a pupunha", sugere. A tese, apresentada no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, foi orientada pelo professor Benedicto Heloiz Nascimento *Conteúdo publicado originalmente no Jornal da USP, assinado por Denis Pacheco. Acesse o material original aqui. |