Pesquisa que aborda o que é a Amazônia de fato e como pensar a região de uma forma transversal e interdisciplinar, por meio de uma gestão pública baseada em evidências, é a proposta da professora Cláudia Souza Passador da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP), selecionada pelo Portulans Institute para integrar o corpo de pesquisadores de sua Rede Acadêmica de 2023.
Com sede em Washington, nos Estados Unidos, e escritórios em Nova York e Genebra, o Portulans é um instituto educacional e de pesquisa independente que trabalha para desenvolver conhecimento e diálogo entre comunidades sobre políticas e práticas de inovação tecnológica, viabilizando pesquisas sobre os principais problemas que afetam um crescimento econômico sustentável e centrado no ser humano, e tem parceria com a Oxford University e apoio da Google.
O trabalho da pesquisadora traz à tona o debate sobre a pobreza, desigualdade econômica e social, a ausência de saneamento básico da população ribeirinha, além de abordar políticas públicas sobre educação básica e saúde pública.
"São questões que dizem respeito à gestão e políticas públicas, e, com a parceria dos pesquisadores da região, de alguma forma, a inovação tecnológica e social podem ajudar a qualidade de vida dessas pessoas",
explica Cláudia.
Projeto considera condições de vida da população ribeirinha da Amazônia. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O estudo, com duração de um ano, se baseia no Ecossistema de Inovação Tecnológica e Social na Amazônia e busca traçar um panorama desse ecossistema na região da Amazônia Legal. "De um lado, a proposta é realizar um levantamento sobre a inovação tecnológica tradicional, com parques tecnológicos, centros de pesquisa e referência, e de outro lado, um levantamento das tecnologias sociais existentes. São mais de 140 experiências bem-sucedidas que geram trabalho, renda, qualidade de vida e que, ao mesmo tempo, preservam o território da Amazônia. Portanto, pensar em tecnologia e inovação social é também pensar na preservação do território", alerta.
Cláudia lembra que a Amazônia é um imenso território que congrega nove Estados, com uma população de quase 30 milhões de pessoas. A região, diz a pesquisadora, é muito mais do que rios, mata, fauna e a população indígena: ela também envolve as populações das cidades e as questões sociais que envolvem essas pessoas. Além de uma rede de pesquisadores de universidades federais, centros de excelência em pesquisa e extensão e instituições públicas e da sociedade civil.
"A Amazônia Legal também envolve geração de trabalho e renda, desigualdade social, violência, educação, saúde pública etc. A pesquisa é uma forma de discutir esses elementos e trazer para a agenda do governo esse debate. Além de possibilitar uma aproximação com os pesquisadores e atores da região. Com estes pesquisadores e atores precisamos discutir no Brasil o que é a Amazônia. A inovação tecnológica e a inteligência artificial podem auxiliar muito também na preservação do território, na fiscalização e no combate à corrupção", explica.
Segundo a pesquisadora, atualmente, há mais de 140 experiências bem-sucedidas nessa área, como o extrativismo, o artesanato, a elaboração de óleos, produção de farinhas, entre outros elementos que compõem o território amazônico. "Aprofundando esse cenário, a pesquisa promove a efetividade das políticas públicas sobre a região e pode auxiliar na tomada de decisões da gestão dos entes federados presentes; na melhoria do gasto público, na sustentabilidade da floresta, dos povos originários e dos demais cidadãos envolvidos", complementa Cláudia.
Desafios da região
Mulheres da Ilha de Combu, no Pará, se unem para produzir chocolate e derivados – Imagem: Arquivo Pessoal de Cláudia Souza Passador
A população total da Amazônia Legal brasileira é estimada em quase 30 milhões de pessoas e está aumentando acentuadamente, em uma área de 5 milhões de km², que ocupam os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão.
A região enfrenta desafios na saúde pública, na geração de emprego e renda, na educação, na preservação dos povos originários e na proteção da floresta baseada sobre novos padrões de desenvolvimento local, regional, territorial e sustentável.
"A solução para essas demandas, que pode ocorrer por meio de políticas públicas efetivas, influencia diretamente a luta contra o desmatamento, a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e o pacto global para enfrentar as mudanças climáticas globais",
afirma a pesquisadora.
Além da professora Cláudia, outros dois pesquisadores foram selecionados para integrar o corpo de pesquisadores de sua Rede Acadêmica do Portulans Institute em 2023: o norte-americano Courtney Bower, da Universidade de Cornell, e o egípcio Ismaeel Tharwat, da Universidade Americana no Cairo.
*O conteúdo foi originalmente publicado no Jornal da USP