A expansão da exploração madeireira, da mineração e da agropecuária desenfreada ameaça diretamente suas terras e modos de vida. OGUARANY@GMAIL.COM">OLÍMPIO GUARANY - OGUARANY@GMAIL.COM A Amazônia é mais do que uma vasta extensão de floresta tropical; é o lar de centenas de povos indígenas, cujas vidas, culturas e identidades estão entrelaçadas com as profundezas da selva. Hoje, em meio às discussões da Cúpula da Amazônia, celebramos o Dia dos Povos Indígenas, um dia para refletirmos da necessidade imperiosa de proteger essas comunidades ancestrais e valorizar sua rica contribuição para a biodiversidade e para a própria essência da região. Ao longo de séculos, essas comunidades desenvolveram uma compreensão íntima da biodiversidade e dos ecossistemas complexos que compõem a floresta. Seus conhecimentos tradicionais, transmitidos de geração em geração, abrangem desde técnicas de caça e coleta sustentável até a utilização de plantas medicinais para tratar doenças.
Povos indígenas. Foto: Reprodução A riqueza diversificada de suas tradições, línguas, crenças espirituais e práticas artísticas únicas são a prova inquestionável da capacidade de se adaptar e se relacionar harmoniosamente com o ambiente em que vivem. Naveguei o rio Amazonas desde a sua foz até o rio Napo no Peru; atravessei a Amazônia peruana e cheguei ao pé da cordilheira dos Andes, antes de subir até o topo, na cidade de Quito, Equador, numa expedição que durou quase dois anos. Pelo que vi, posso dizer que aquela numerosa e imensa população indígena que habitava as margens do rio Amazonas como registraram frei Gaspar de Carvajal, na expedição de Orellana (1541-1542) e o padre Cristobal de Acuña na descida da expedição de Pedro Teixeira (1637-1639) não existe mais. As margens do rio Amazonas são, praticamente, um vazio demográfico. As populações indígenas foram quase que dizimadas pelo homem branco e suas mazelas; os que sobreviveram fugiram para o interior, sendo que a maioria habita a calha norte. Os povos que visitei enfrentam uma série de desafios alarmantes. A expansão da exploração madeireira, da mineração e da agropecuária desenfreada ameaça diretamente suas terras e modos de vida. A violência e a discriminação também representam ameaças iminentes. Muitos povos indígenas são alvo de perseguição, deslocamento forçado e até mesmo assassinato, geralmente em decorrência de conflitos sobre o acesso aos recursos naturais. O que fazer? É indispensável que sejam implementadas políticas para a região amazônica baseadas no respeito pelos direitos e a autonomia dos povos indígenas. É crucial envolver essas comunidades na tomada de decisões que afetem suas vidas e territórios. Qualquer política de para conservação da Amazônia não pode ser separada da proteção dos direitos humanos e da preservação das identidades culturais e devem, necessariamente, incluir medidas para combater a exploração ilegal e garantir a gestão sustentável dos recursos naturais. Além disso, investir em educação, saúde e desenvolvimento econômico para as comunidades indígenas é fundamental para garantir um futuro próspero e harmonioso para todos. Neste Dia dos Povos Indígenas é imperativo lembrar que a riqueza da Amazônia reside em sua diversidade, tanto natural quanto cultural. A preservação da floresta e de seus habitantes originais é um compromisso que devemos abraçar com urgência. A Amazônia não pode ser reduzida a meros números de hectares de terra; ela é uma teia intricada de vidas humanas, animais e plantas, interconectadas. Portanto, todas as medidas a serem implementadas devem ter um olhar que honre e proteja os povos indígenas da Amazônia. Somente através de um esforço conjunto e comprometido podemos assegurar que a Amazônia, com toda a sua beleza e vitalidade, continue a florescer por muitas gerações vindouras. Sobre o autor Olímpio Guarany é jornalista, documentarista e professor universitário. *O conteúdo é de responsabilidade do colunista |