Brasil : O contrato secreto do Exército com uma empresa de espionagem israelense
Enviado por alexandre em 29/08/2023 00:39:24


Militares do Exército Brasileiro. Foto: Reprodução

Por Caio de Freitas Paes, da Agência Pública

Militares negam há cinco meses explicações à Agência Pública sobre uma compra sem licitação de US$850 mil da Comissão do Exército Brasileiro em Washington, capital dos EUA. Divulgado no início do governo Lula, o contrato chama atenção pela fornecedora, a Cognyte Technologies Israel Ltd.

É a mesma fabricante de um software comprado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para vigiar a localização em tempo real de até 10 mil alvos simultâneos, com suspeita de uso ilegal nos governos Temer e Bolsonaro, segundo noticiado pelo O Globo.

O uso do software da Cognyte, chamado “First Mile”, está sob investigação da sede da Polícia Federal em Brasília e do Ministério Público Federal em Minas Gerais, sob olhares do Congresso Nacional. A PF disse à Pública por meio de sua assessoria que a investigação segue em andamento, sob cuidados da sede da corporação em Brasília. Já o MPF respondeu que só irá falar ao final da investigação.

O Exército tem negado explicações sobre seu contrato com a empresa israelense, firmado para a “renovação de licenças de interesse” dos militares, com gasto de mais de R$4 milhões na cotação atual. Também não se sabe quem, dentro do Exército Brasileiro nos EUA, tem acesso aos programas da Cognyte e quais seriam as ferramentas contratadas.

Mas a falta de respostas não se justifica. O Serviço de Informações ao Cidadão do Exército já respondeu a pedidos similares, relatando detalhadamente processos de avaliação para a compra de programas como os da Cognyte, além da quantidade de militares com acesso a softwares similares.

Dado que a Controladoria-Geral da União não analisou o mérito do sigilo imposto pelos militares ao contrato com a empresa israelense, o caso será julgado pela Comissão Mista de Reavaliação de Informações, última instância de recursos via Lei de Acesso à Informação, como manda a lei.

Em abril, a Pública apurou que, além do “First Mile”, existem outros programas com potencial de espionagem ilegal. É o que indica um levantamento interno obtido e publicado na reportagem “Abin de Ramagem gastou R$31 milhões com ferramentas de vigilância secretas e sem licitação“.

Só entre dezembro de 2019 e outubro de 2021, o então diretor-geral da Abin e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) gastou, sem licitação, pelo menos R$ 31 milhões em ferramentas espiãs sem nenhuma informação pública.

Somada a outros três contratos firmados com empresas divulgadas pela agência de inteligência, a cifra torna o ex-delegado da Polícia Federal (PF) – e homem de confiança do clã Bolsonaro – o ex-diretor-geral da Abin que mais gastou com tecnologias de espionagem nos últimos cinco anos.

Publicado na Agência Pública

Página de impressão amigável Enviar esta história par aum amigo Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notícia