Novo comando da PGR defende apuração de suposto rastreamento ilegal da Abin; gestão Aras tinha pedido arquivamento
A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou no Supremo Tribunal Federal a favor da operação deflagrada nesta sexta-feira (20) para investigar suposto monitoramento ilegal de celulares por parte de servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
O parecer favorável da PGR é assinado pela vice-procuradora-geral da República Ana Borges, com o aval também da atual chefe interina do órgão, Elizeta Ramos. E é uma mudança de posição em relação à gestão anterior, chefiada por Augusto Aras.
Em março, a então vice-PGR Lindôra Araújo havia defendido que a investigação sobre a conduta dos servidores da Abin fosse arquivada (veja detalhes abaixo).
Segundo a investigação, o grupo usou um software chamado FirstMile para rastrear a localização de pessoas – inclusive autoridades – a partir do GPS de celulares, sem autorização judicial e sem qualquer controle.
A operação foi pedida pela Polícia Federal ao STF e autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Segundo os investigadores, há indícios de que o uso do sistema se intensificou nos últimos anos do governo Bolsonaro para monitorar ilegalmente servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e até mesmo juízes e integrantes do STF.
Em nota após a operação, a Abin informou que instaurou um procedimento para apurar a questão, que todas as solicitações da PF e do STF foram atendidas integralmente, e que colaborou com as investigações desde o início.
Cerca de 20 pessoas foram intimadas a prestar esclarecimentos. Os depoimentos simultâneos serão tomados ainda na manhã desta sexta, na sede da PF.
PGR DEFENDIA ARQUIVAMENTO
O uso do sistema FirstMile, desenvolvido pela empresa israelense Cognyte, foi revelado em março pelo jornal O Globo. Segundo a reportagem, a ferramenta permitia monitorar até 10 mil celulares a cada 12 meses – sem qualquer protocolo oficial ou autorização judicial.
Em manifestação ao STF naquele momento, a vice-PGR Lindôra Araújo argumentou que a apuração não deveria avançar porque foi determinada com base em matéria jornalística e de forma genérica.
A PGR foi consultada naquele momento depois que Moraes determinou que a Abin entregasse a lista de vigiados e demais informações pertinentes, incluindo as conclusões da apuração interna feita pela própria agência.
Se o entendimento da PGR tivesse sido acatado, o caso poderia ter sido arquivado sem as diligências adicionais que levaram à operação desta sexta.
A operação, chamada de "Última Milha", é um desdobramento do inquérito das fake news, que apura ataques e ações contra o Supremo e as instituições.
O objetivo dessa frente da investigação é descobrir se a Abin foi utilizada de forma clandestina e com desvio de finalidade.
Fonte: G1
Abin fez mais de 30 mil ações ilegais de espionagem durante governo Bolsonaro
Segundo as investigações da Polícia Federal (PF), a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) utilizou um sistema de monitoramento de geolocalização, conhecido como FirstMile, de maneira indevida em mais de 30 mil ocasiões. A revelação foi publicada pela colunista Bela Megale, do jornal O Globo, nesta sexta-feira (20).
Entre os alvos monitorados, estão cerca de 1,8 mil pessoas, incluindo jornalistas, advogados, políticos, policiais e até ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que foram considerados adversários pela gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na Operação Última Milha, para investigar o uso indevido do software, a PF executou dois mandados de prisão e 25 de busca e apreensão em vários estados, incluindo São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Goiás e Distrito Federal. O ministro Alexandre de Moraes, do STF, foi responsável pela expedição dos mandados.
Rodrigo Colli, especialista em contrainteligência cibernética da Abin, e Eduardo Arthur Izycki, oficial de inteligência, estão entre os detidos. Além disso, cinco diretores da agência foram afastados, incluindo Paulo Maurício Fortunato Pinto, secretário de Planejamento e Gestão da Abin.
De acordo com as informações reveladas pela agência, o contrato para uso do FirstMile teve início no final de 2018, na gestão de Michel Temer. O software, adquirido por R$ 5,7 milhões da empresa israelense Cognyte, permitia o monitoramento de até 10 mil celulares anualmente, com a capacidade de criar históricos de deslocamento e alertas em tempo real.
A Abin divulgou uma nota informando que o software em questão foi descontinuado em maio de 2021 e que uma investigação interna estava em andamento desde fevereiro deste ano. A agência afirmou que compartilhou informações com a PF e o STF e cumpriu as determinações de afastamento temporário dos servidores ordenadas pela Justiça.
Espionagem ilegal: PF apreende US$ 170 mil em dinheiro com diretor afastado da Abin
A Polícia Federal (PF) encontrou US$ 171 mil em espécie durante busca e apreensão na casa do secretário de planejamento de gestão da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Paulo Maurício Fortunato.
Ele é um dos alvos da Operação Ultima Milha, deflagrada nesta sexta-feira (20), que apura uso de equipamentos da Abin para espionagem ilegal quando a agência era presidida pelo atual deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), no governo Bolsonaro.
Fortunato foi afastado de suas funções pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ele desempenhou o cargo de diretor de Operações de Inteligência da agência durante a gestão bolsonarista.
O ex-dirigente agora afastado foi nomeado como secretário de Planejamento e Gestão, a terceira posição mais alta na estrutura da Abin, pelo atual chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, antes de ser alvo de investigação.
Há indícios de que o uso do sistema “FirstMile” se intensificou nos últimos anos do governo Bolsonaro para monitorar ilegalmente servidores públicos, políticos, policiais, advogados, jornalistas e até mesmo juízes e integrantes do STF.
Ao todo, a PF cumpre 25 mandados de busca e apreensão e dois de prisão preventiva nos estados de São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Goiás e no Distrito Federal. A ação foi autorizada por Alexandre de Moraes.
Os investigados podem responder por crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial, ou com objetivos não autorizados em lei.