Além dos impactos ambientais a seca também pode desencadear uma série de consequências econômicas, afetando diversos setores e a estabilidade financeira do Estado e dos municípios. Jose Barbosa Filho e Yunier Sarmiento Ramírez A seca é uma ocorrência climática cada vez mais frequente e impactante em todo o mundo, com implicações que transcendem fronteiras geográficas e setores econômicos. Essa crise hídrica prolongada não apenas desafia a disponibilidade de água, mas também gera uma série de efeitos adversos em três áreas interligadas: ambiental, social e econômica. A seca que atinge o estado do Amazonas em 2023 tem sido uma das mais severas já registradas na região. Estados da região Norte do país veem rios baixarem a níveis históricos, e focos de queimada no Amazonas se multiplicam. A situação é tão grave que o governador Wilson Lima decretou estado de emergência em 55 municípios do Estado. Imagem da seca no município de Benjamin Constant, no Alto Solimões¹. Foto: Reprodução/Defesa Civil do Amazonas A seca que afeta o Amazonas em 2023 que pode ser um dos efeitos das mudanças climáticas na região. Diante desse cenário, é importante entender as causas da seca no Amazonas e entre as principais causas destacam-se:
- O fenômeno climático "El Niño" ocorre no Oceano Pacífico, caracterizado pelo aquecimento das águas superficiais do mar. Esse aquecimento pode afetar o clima em várias regiões do mundo, incluindo a região amazônica e constitui uma das possíveis causas de seca que afetaram o estado do Amazonas em 2023.
- O desmatamento na região amazônica é outro fator que tem contribuído para a redução da umidade do ar e para a intensificação dos eventos climáticos extremos, como a seca. A desflorestação e a manipulação ambiental são fatores que prejudicam a seca na região.
- Por causa desses eventos o Estado do Amazonas está enfrentando uma seca histórica este ano, o que tem causado impactos ambientais e socioeconômicos significativos. A seca tem afetado não apenas a população, mas também a biodiversidade da região, com a redução do nível do rio Amazonas e o aumento dos incêndios florestais. Além disso, a seca tem impactos significativos na economia da região, afetando a produção agrícola e o transporte de mercadorias pelo rio Amazonas.
Considerando as causas acima mencionadas, torna-se essencial destacar os impactos ambientais, sociais e econômicos da seca para fornecer uma visão abrangente dos desafios que a sociedade enfrenta diante dessas características climáticas. Por exemplo, a seca além de seus efeitos diretos sobre a disponibilidade de água, também desencadeia uma série de impactos ambientais adversos, afetando ecossistemas, recursos naturais e a biodiversidade. Esses impactos ambientais têm consequências graves para o equilíbrio ecológico e podem desencadear efeitos em cascata em toda a cadeia alimentar. Dentre os principais impactos ambientais da seca estão:
- Redução do nível do rio Amazonas: Com a seca, o nível do rio Amazonas está baixando de forma significativa atingindo um recorde histórico. Essa redução do nível do rio tem impactos significativos na biodiversidade da região, afetando a vida de peixes, botos e outros animais aquáticos.
- Morte de animais e plantas: A falta de água durante uma seca pode levar à morte de animais e plantas, incluindo a perda de espécies nativas. Isso pode afetar a biodiversidade e a cadeia alimentar local.
- Perda de habitat: Com a diminuição da água disponível, os habitats aquáticos e úmidos podem encolher ou desaparecer, impactando a vida selvagem que depende deles. Isso pode levar à migração forçada ou à extinção de espécies.
- Aumento dos incêndios florestais: A seca também aumenta o risco de incêndios florestais na região. Uma das ações do governo federal para combater a seca é intensificar o combate aos incêndios florestais.
- Esgoto de água potável: Com a redução do nível do rio Amazonas, muitas comunidades ribeirinhas estão enfrentando escassez de água potável. Algumas cidades estão sem água na torneira e sem trânsito-pipa para abastecimento.
Fonte: Victória Louzada – Dia a Dia Notícia2. Fotos: Reprodução/Instagram-chicobatatafotos² Além dos impactos ambientais a seca também pode desencadear uma série de consequências econômicas, afetando diversos setores e a estabilidade financeira do Estado e dos municípios. Quando a escassez de água persiste, os impactos econômicos podem se intensificar. Alguns dos principais impactos econômicos são:
- Aumento do preço dos alimentos: Com a escassez de água e a redução da produção agrícola, o preço dos alimentos está aumentando. Algumas famílias enfrentam dificuldades para comprar alimentos básicos afetando a nutrição das comunidades o que impacta na pobreza e a qualidade de vida da população.
- Isolamento de comunidades: A seca também está isolando algumas comunidades ribeirinhas, que dependem do transporte fluvial para se deslocarem. Algumas cidades estão ficando isoladas e além da escassez de alimentos existe falta de outros suprimentos outros suprimentos necessários não só para a população senão para o desenvolvimento da atividade econômica.
- Agricultura: A agricultura é um dos setores mais vulneráveis à seca. A falta de água adequada leva à diminuição da produção ao aumento dos custos de produção, afetando os agricultores e o fornecimento de alimentos. A perda de colheitas pode resultar em preços mais altos dos alimentos para os consumidores.
- Impactos na pesca: A redução do nível do rio Amazonas também está afetando a pesca na região. A pesca está sendo afetada pela redução da quantidade de peixes e pela dificuldade de acesso aos locais de pesca.
- Geração de energia: Usinas hidrelétricas dependentes de reservatórios de água para gerar eletricidade. A escassez de água reduz a produção de energia, aumentando os custos de eletricidade e afetando a indústria e os consumidores. A manipulação ambiental e a redução do nível do rio Amazonas podem intensificar os riscos para a segurança energética.
- Setor industrial: Muitas indústrias carecem de água para processos de fabricação e resfriamento. A falta de água pode interromper a produção e aumentar os custos de operação.
- Turismo: Destinos turísticos que dependem de corpos d'água, como praias, rios e lagos, podem sofrer com a diminuição do turismo devido à manipulação desses recursos naturais durante uma seca. Isso impacta a economia local.
- Desemprego: Com a diminuição da produção agrícola e industrial, muitos empregos podem ser perdidos durante uma seca, levando ao desemprego à diminuição da renda das famílias.
- Custos de combate à seca: O governo e as autoridades locais frequentemente precisam alocar recursos financeiros para combater os efeitos da seca, como a distribuição de água potável, a assistência aos agricultores e a gestão de recursos hídricos. Isso pode sobrecarregar o orçamento público.
- Impacto nas finanças públicas: A diminuição da receita tributária devido à diminuição da atividade econômica e ao aumento dos gastos relacionados à segurança podem criar desafios fiscais para os governos.
- Seguros e indenizações: Durante uma seca, as seguradoras podem enfrentar um aumento nas reivindicações de seguro agrícola e de propriedades. Isso pode aumentar os custos dos prêmios de seguro para agricultores e proprietários.
Finalmente, a seca também tem impactos na sociedade, afetando a vida das pessoas de várias maneiras. Alguns dos impactos sociais da seca incluem:
- Esgotamento de água potável: A falta de água devido à seca pode levar à escassez de água potável para o consumo humano, ou que afeta diretamente a saúde das pessoas. A falta de acesso a água limpa pode resultar em doenças relacionadas à água, como diarreia e desnutrição.
- Saúde mental: A seca prolongada e seus impactos sociais e econômicos podem ter efeitos negativos na saúde mental das pessoas. O estresse, a ansiedade e a depressão podem aumentar, especialmente entre aqueles que enfrentam dificuldades devido à seca.
- Acesso à educação: A seca pode afetar o acesso à educação, pois as crianças podem ser forçadas a abandonar a escola devido ao deslocamento, à busca de água ou à ajuda nas tarefas domésticas relacionadas à seca.
- Aumento da vulnerabilidade: A seca muitas vezes afeta desproporcionalmente grupos vulneráveis, como comunidades rurais pobres, populações indígenas e idosos. Esses grupos podem ter menos recursos para enfrentar os impactos da seca.
- Conflitos e prejuízos sociais: A competição por recursos hídricos e alimentos durante uma seca pode levar a conflitos locais e prejuízos sociais. Isso pode resultar em instabilidade e desordem em algumas áreas.
- Deslocamento populacional (migração): Em algumas áreas, a escassez de água devido à seca pode levar a conflitos por recursos naturais, deslocamento de populações e migração forçada de pessoas que não têm acesso a água potável e alimentos; isso pode aumentar a pressão sobre áreas urbanas e contribuir para conflitos por recursos escassos.
Em resumo, a seca tem uma série de impactos ambientais que afetam a saúde dos ecossistemas, a biodiversidade e a qualidade dos recursos naturais. A mitigação desses impactos exige medidas de conservação, gestão sustentável dos recursos hídricos e promoção da resiliência dos ecossistemas às condições de seca. Os impactos econômicos da seca também são multifacetados e podem ter consequências de longo prazo para as economias locais. Portanto, a gestão eficaz da água, a diversificação econômica e a implementação de estratégias de adaptação são essenciais para minimizar esses impactos e aumentar a resiliência às secas. Por último e não menos importante, para mitigar os impactos sociais da seca, é fundamental implementar medidas de adaptação, como a construção de infraestrutura de armazenamento de água, a promoção de práticas agrícolas sustentáveis, o fortalecimento da segurança alimentar, o apoio às comunidades afetadas e a educação sobre a gestão sustentável dos recursos hídricos. Além disso, é importante integrar a adaptação à seca nas estratégias de desenvolvimento sustentável e na resposta a emergências. Diante desses impactos, é importante que as autoridades tomem medidas para minimizar os efeitos da seca na região. O governo federal está enviando água e cestas básicas para as comunidades afetadas, além de intensificar o combate aos incêndios florestais e arrastar os rios mais secos. No entanto, é preciso que essas medidas sejam acompanhadas de políticas de longo prazo para garantir a sustentabilidade da região e a adaptação às mudanças climáticas. Por esse motivo propõe-se discutir no futuro imediato sobre a importância da adoção de medidas preventivas e de adaptação para enfrentar esses desafios crescentes em um mundo em constante mudança climática. Fontes ¹ Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2023/09/29/seca-severa-faz-amazonas-decretarestado-de-emergencia-em-55-municipios ² Disponível em: https://diaadianoticia.com.br/fotografo-mostra-impactos-da-vazante-e-queimadas-no-amazonas/ Sobre o autor Prof. Dr, José Barbosa Filho possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Amazonas. Desenvolve pesquisas na área de Contabilidade Ambiental, Matemática Financeira e Econometria, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nas seguintes áreas: valoração ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impactos ambientais e gerenciamento de processos.
Contato: jbarbosa@ufam.edu.br *O conteúdo é de responsabilidade do colunista |