Em 19 de outubro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) autorizou a entrada de 294 militares norte-americanos no Brasil. Esses militares pertencem ao Exército do Sul, à 101.ª Divisão Aerotransportada, ao 7.º Grupo de Forças Especiais e à Guarda Nacional de Nova York.
Eles estão participando do exercício conjunto denominado CORE 23/Southern Vanguard 24, que envolve a realização de treinamentos e exercícios no Pará e Amapá, em colaboração com cerca de 1,2 mil militares brasileiros da 23.ª Brigada de Infantaria de Selva.
Em Belém, os militares dos EUA passaram por um estágio de combate e sobrevivência na selva, que foi concluído no último sábado (4). Agora, estão se preparando para se deslocar para o Amapá. Segundo a embaixada dos EUA no Brasil, esse exercício é planejado e executado anualmente pelo Exército do Sul dos Estados Unidos e é patrocinado pelo Comando Sul dos EUA (Southcom).
A principal finalidade dessas operações é aumentar a interoperabilidade entre as forças dos Estados Unidos e do Hemisfério Ocidental, bem como com o Brasil.
Conforme destacado pela embaixada norte-americana, é importante ressaltar que esses exercícios são planejados com muita antecedência e não estão vinculados a eventos do mundo real. Além disso, o exercício no Brasil faz parte de uma estratégia maior de diplomacia militar para prevenir conflitos e promover a segurança internacional.
Havia certa preocupação entre o Exército e os americanos de que esse exercício pudesse ser politizado por setores de partidos de esquerda, destacando as diferenças entre a diplomacia do Itamaraty e a das Forças Armadas.
Essa preocupação foi acentuada quando a general Laura Richardson, do Southcom, fez críticas à presença chinesa na América Latina, alertando para o que ela considera uma ameaça à democracia durante uma entrevista na Florida International University.
Nesse contexto, os exercícios militares na Amazônia têm como objetivo ampliar a interoperabilidade entre o Exército dos Estados Unidos e forças de países integrantes da OTAN. Isso visa capacitar o Exército Brasileiro para participar de operações internacionais de acordo com os interesses nacionais e compromissos internacionais do Brasil.
Uma das novidades do exercício é o ambiente operacional, que inclui a presença de grupos indígenas em regiões com baixa densidade populacional e áreas de selva inabitada, onde o transporte fluvial é predominante.
A general Richardson não estará presente nos exercícios na Amazônia, mas o general Andrew P. Poppas, do U.S. Army Forces Command (Forscom), visitará a região antes de participar da Conferência de Comandantes dos Exércitos Americanos (CCEA) no Rio. A conferência, presidida pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, reunirá delegações de 22 países das Américas, Espanha e Portugal, com o foco na integração.
Para os generais brasileiros, é evidente que os Estados Unidos estão preocupados em expandir sua influência na região devido ao crescente envolvimento da China na América do Sul. Os exercícios e a conferência representam oportunidades para demonstrar a capacidade de cooperação do Brasil e fortalecer a diplomacia militar, promovendo a confiança mútua entre as forças armadas de diferentes nações.
Esses eventos também fornecem ao ex-presidente Lula uma oportunidade para adotar uma abordagem pragmática em relação às relações internacionais. No passado, questões relacionadas à neutralidade em disputas entre China, Rússia e EUA geraram debates, mas Lula mantém canais abertos com os Estados Unidos e a França, adaptando-se às mudanças na dinâmica geopolítica.
Os exercícios com os militares brasileiros ocorrerão até o dia 16, enquanto a conferência se estenderá até o dia 9, quando o Brasil passará a presidência para o México. No entanto, não há indicações de exercícios conjuntos com os chineses no horizonte devido a barreiras doutrinárias, linguísticas e logísticas significativas, além de complexidades financeiras.
Em resumo, os exercícios militares e a conferência representam oportunidades cruciais para fortalecer a cooperação internacional e promover a diplomacia militar, enquanto refletem as preocupações geopolíticas em evolução na região.