Regionais : Mulheres, sem parceiros e com filhos são as que mais sofrem com aluguel e falta de documentação da casa própria
Enviado por alexandre em 07/12/2023 19:50:17

Dados do IBGE reforçam peso da desigualdade de gênero nos indicadores sociais

Os problemas com a falta de documentação da casa própria e ônus excessivo do aluguel pesa maior sobre as famílias formadas por mulheres, sem cônjuge, com filhos em idade até 14 anos. É o que mostram os dados da nova Síntese de Indicadores Sociais (SIS/IBGE).

 

Em 2022, esse arranjo representava10,9% das famílias que enfrentavam questões relativas à inexistência de documentação de propriedade e de 14,2% que sofriam ônus excessivo com aluguel. Na outra ponta, com os menores indicadores para esses dois pontos estão os casais sem filhos, no caso da inexistência de documentação de propriedade (7,8%) e os casais com filhos, no caso do ônus excessivo com aluguel (3,6%).


Para a professora Ana Diniz, coordenadora do Núcleo de Estudos de Diversidade e Inclusão no Trabalho do Insper, os dados evidenciam como as mulheres são sobrecarregadas, muitas vezes, sem a corresponsabilização masculina, o que faz com que estejam em condições mais difíceis para manter a sua unidade familiar.

  

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- Ao falar dessas mulheres que estão sobrecarregadas e super oneradas em relação a condição de moradia, a gente tem também uma questão um tanto dramática que é, como que as residências que têm filhos, especialmente crianças e adolescentes até 14 anos, são as que mais são impactadas por esse tipo de questão, seja a falta de documentação de propriedade ou o ônus executivo do aluguel. Isso mostra que existe uma questão de gênero, mas também existe um potencial de reprodução da pobreza, na medida em que aquelas crianças também não estão tendo as condições adequadas para romper com o ciclo de pobreza e vulnerabilidade.

 

Os indicadores do IBGE apontam ainda que entre os jovens que não estudam nem trabalham, o maior grupo é de mulheres pretas ou pardas (43,3%). Ao todo, segundo a síntese, sete milhões de mulheres entre 15 e 29 anos não estudaram nem trabalharam em 2022. O que leva um outro dado, para o qual Ana chama atenção, que é a divisão sexual do trabalho, corroborado pelos dados:


-As mulheres, por causa da divisão sexual do trabalho - homens preparados para posição de poder e elas para as funções reprodutivas - são historicamente encarregadas de realizar a maior parte desse trabalho do cuidado. Isso ajuda a gente a entender porque é que há essa sobre representação de mulheres que não trabalham e nem estudam. Não é que elas não trabalhem e nem estudem, elas trabalham, mas não no mercado formal. Elas estão no cuidado direto de crianças e outros dependentes ou estão no cuidado indireto que é no cuidado da casa que tem que ser realizado para garantir a, existência daquela unidade familiar.

 

E destaca:

 

-Faltam políticas que facilitem, corresponsabilizem diferentes instituições por esse trabalho de cuidado. E falo não só do Estado, mas também das empresas e outras organizações e da sociedade civil . Na esfera privada, a gente precisa de uma corresponsabilização de género, na qual os homens também se encarreguem dessas funções dentro das famílias. É preciso diminuir a sobrecarga da demanda familiar.

 

Na avaliação da professora, o Brasil está dando um passo na direção correta com o debate de uma Política Nacional de Cuidados:

 

-A discussão dessa política é um marco que a gente precisa celebrar nessa caminhada. Trata-se de uma política difícil de ser desenvolvida, que vai enfrentar inúmeros desafios, tanto do ponto de vista do financiamento, como da articulação dos múltiplos atores que precisam ser envolvidos para que de fato seja implementada. De qualquer forma é um passo rumo a um tipo de abordagem que nos ajudaria a atacar a questão da divisão sexual do trabalho, que está, digamos, na base desses problemas apontados pelos indicadores do IBGE.

 

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Ana ressalta que várias políticas foram desenvolvidas na história, mas muito mais voltadas ao cuidado relacionado à educação e à saúde:

 


 

-Essa política está em construção e tem um forte marcador de romper com as desigualdades. Ela tem que garantir que as pessoas que dependem de algum cuidado tenham acesso a ele na quantidade e qualidade necessária, mas também que as pessoas que proveem esse cuidado, em sua maioria mulheres, tenham a garantia a direitos como acesso ao trabalho e a participação política. 

 

Fonte: O Globo

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