Deparei-me com um anúncio bastante curioso: uma Universidade está oferecendo curso de Direito “sem viés ideológico”, destinado “aqueles que desejam trilhar o caminho jurídico com excelência para a glória de Deus”. E convida: “Seja você um futuro advogado, promotor, juiz ou defensor público de sucesso com aulas práticas desde o início do curso, que proporcionará os alicerces necessários para enfrentar os desafios do mundo com maestria”. Para arrematar: “Inscreva-se agora e faça parte da próxima geração de juristas comprometidos com a justiça e a ética”. Fiquei preocupado com a situação dos meus colegas advogados formados em universidades que não botavam a glória de Deus acima dos códigos, das leis terrestres e da Constituição. E essa preocupação engloba ainda os juízes, promotores, procuradores, defensores públicos e ministros de Cortes Superiores que ralaram a bunda na cadeira da escola para receber o diploma laico, livre e democrático. Será que a partir de agora vamos ter duas classes de advogados, a dos que fazem da doutrina jurídica a sua bíblia e os que vão fazer da bíblia o norte para suas decisões? Valei-me dona OAB, nos acuda Ministério da Educação, entre em ação, Ministério Público! Antes que cassem meu diploma, anulem minha OAB e me devolvam ao Mobral!
Tião Lucena advogado e jornalista
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