Regionais : Associação de produtores ameaça ir ao Planalto se o Incra não esclarecer sobre as mortes de trabalhadores rurais no Sul de Canutama e por não se manifestar pelo fim de grilos em terras da região
Enviado por alexandre em 06/03/2024 23:51:27

Por Xico Nery, correspodente do "PORTAL DO ZACARIAS" no interior do Amazonas - Apesar da prisão pela Polícia Civil de Rondônia de dois acusados das mortes de três dirigentes da Associação dos Produtores Rurais das Comunidades do Igarapé Arara (ASPROCRIA), ao longo da BR-319, autoridades responsáveis pelo inquérito policial ainda não esclareceram os crimes nem divulgaram nada a respeito depois de quase quatro anos após o crime.

 

Ainda em 2017, a Polícia Federal que ficou incumbida de levar o caso adiante, até agora, não apresentou aos familiares e à entidade representativa nenhuma nova informação sobre o assunto cujas investigações já se arrastam desde 2017.

 

O desaparecimento cinematográfico dos sem-terra Flávio Lima de Souza, Marinalva de Souza (mulher de Flávio) e Jairo Feitoza Pereira (ex-brigadista do Instituto Chico Mendes da Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), aconteceram em áreas sob a responsabilidade da 15ª Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no entorno da Floresta Nacional Mapinguari (Flona) e da Unidade de Conservação Campos Amazônicos, na tríplice divisa dos municípios de Canutama, Lábrea e Humaitá, Região Sul do Estado.

 

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Foi Eduardo Lucas, ainda em 2017, no governo Michel temer (MDB-SP) e sob Jair Bolsonaro (2019-22) o responsável pela elaboração do processo de inscrição das famílias relacionadas à demarcação da área para reordenamento dos lotes em terras pertencentes à União no bioma do Igarapé Arara, localizado fora da Flona Mapinguari e entorno do Projeto de Assentamento São Francisco, com acesso pelos quilômetros 42, 45 e 58 da BR-319.

 

MISTÉRIO?

 

Na véspera do desaparecimento dos dirigentes da ASPROCRIA (Associação dos Produtores Rurais das Comunidades do Igarapé Arara), as vítimas estiveram com Lucas na sede da Unidade do Incra, em Humaitá, e receberam Eduardo Lucas, na ocasião, "o sinal verde" para reocupar pacificamente as terras após a entrega das coordenadas ao próprio Lucas que as teria repassado à chefia do Setor de Desenho (Topografia) para a esperada execução do projeto fundiário.

 

Familiares e amigos das vítimas cobram do Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública da União (DPU), Ministério Público do Estado (MPE), Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP-AM), Ouvidoria do Incra e a Polícia Federal. Mas até agora, “esses órgãos não deram quaisquer respostas plausíveis sobre o andamento do caso.

 

Segundo o Vice-Presidente, Evandro Silva, e o Tesoureiro da entidade, Gerson Bispo de Lima, “os donos da antiga fazenda Shalom, atualmente Fazenda Rondônia, que moram em Ariquemes e em São Paulo, não teriam sido encontrados pelas autoridades amazonenses para responderem por seus funcionários presos e um terceiro que teria fugido para o estado de Goiás”.

 

Fazenda Rondônia, palco do sumiço de trabalhadores rurais em 2017

 

Os dois dirigentes, conforme a declaração, à época, falam que: "fomos obrigados a entrar em um veículo da antiga fazenda Shalom (atual Fazenda Rondônia), em uma zona de mata das fundiárias do imóvel, apesar das áreas terem sido determinadas pelo então chefe da Unidade Avançada do Incra, Eduardo Lucas, para elaboração das coordenadas para posterior liberação das ocupações”.

 

Os três líderes sem-terra que desapareceram no dia 14 de dezembro de 2017 ao cruzarem a área da suposta fazenda, após autorização de Eduardo Lucas, os corpos das vítimas nunca foram encontrados nem buscas feitas por militares do 54º Batalhão de Infantaria de Selva (BIS), sediado na cidade de Humaitá, a 600 quilômetros da Capital Manaus.

 

Os corpos  as vítima nunca foram encontrados

após serem vistos na fazenda Shalom

 

As vítimas foram autorizadas pelo ex-Chefe da Unidade do Incra, em Humaitá, para cortar e demarcar as terras em lotes de 500 x 2000, mas foram impedidos nos limites do Igarapé Arara, com a Floresta Nacional Mapinguari e Campos Amazônicos, com o Rio Mucuim, áreas de domínio da União.

 

Segundo Evandro e Gerson, no mesmo dia que receberam o "sinal verde de Eduardo Lucas para entrarem nas terras", Flávio Lima de Souza, Marinalva de Souza e Jairo Feitoza Pereira, desapareceram nunca mais foram vistos enquanto os demais membros do grupo foram obrigados a entrar em um veículo da fazenda e postos para fora da área.

 

“Naquele momento, senti que iria morrer pelas armas dos jagunços da fazenda”, afirmou Evandro Silva que, após quase 6,5 anos, diz está à disposição das autoridades responsáveis pelas investigações e a contar o que sabe a respeito do caso.

 

Os trabalhadores rurais que sumiram misteriosamente enquanto demarcavam a área para famílias de novos assentados do Incra, no Sul de Canutama, segundo Evandro Silva confidenciou aos demais dirigentes da Associação dos Produtores das Comunidades do Igarapé Arara e entorno, “com certeza, podem ter sido mortos por funcionários fortemente armados da antiga Fazenda Shalon”.

 

À época, ele foi posto dentro de um veículo dirigido por “guaxebas da fazenda” (espécie de segurança), e recebeu recados para cair fora da região sob o comando do capataz, Antônio Mjoler Garcia Filho (preso pela Polícia Civil dentro de um guarda-roupa de uma casa da Zona Leste, em Porto Velho). Ele é empresário do ramo da construção civil na cidade de Ariquemes, no estado de Rondônia, a 245 quilômetros do local do desaparecimento das vítimas.

 

Outro envolvido no caso Rinaldo da Silva Mota, visto no dia em que Evandro da Silva, teria sido "forçado a deixar as terras da fazenda Shalon por ordem de Antônio Mijoler Garcia Filho". Ele, também, teve a prisão preventiva decretada. Conforme a juíza titular da Comarca do município de Canutama, "a prisão ocorreu para assegurar a manutenção da ordem pública e como garantia da aplicação da lei penal", em nome da Justiça do Amazonas.

 

“À época, a magistrada autorizou ainda um pedido de busca e apreensão em residências e fazendas", informaram Evandro Silva e Gerson Bispo de Lima, em reuniões de assembleias da entidade na Capital Porto Velho. Porém, outros envolvidos tiveram tempo de escapar ao cerco da Justiça amazonense.

 


As vítimas tinham ordens de Eduardo Lucas, então chefe da Unidade Avançada do Incra, no Sul do Estado, para "tirar as coordenadas das áreas e as repassarem ao servidor, Nã Batista, do Setor de Topografia e Desenho". Com a nova gestão na 15ª Superintendência Regional do Amazonas, a entidade representativa dos trabalhadores rurais desaparecidos já solicitou a manutenção dos direitos de seus associados e cooperados à homologação dos cadastros antigos e aguarda manifestação do gestor Dênis Filho, que assumiu o cargo em meio a um processo de desbolsonarização da autarquia em todo o país.

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