Membros da alta cúpula do Partido Liberal (PL) estão considerando a possibilidade de replicar em outros estados a estratégia adotada no ato pró-Jair Bolsonaro em São Paulo em fevereiro. Essa medida visa reagir às investigações conduzidas pela Polícia Federal (PF) no âmbito da Operação Tempus Veritatis, que apura a trama golpista pelo ex-presidente ao perder as eleições de 2022.
Segundo a Folha de S.Paulo, integrantes do partido têm mantido conversas com Bolsonaro para que ele promova manifestações semelhantes em locais como Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A avaliação dentro do PL é que o evento na capital paulista demonstrou o vigor político do ex-presidente, servindo como uma forma de manter a militância engajada, especialmente em um ano de eleições municipais.
Além disso, o ato reforçou a narrativa propagada por Bolsonaro de que ele é alvo de perseguição por parte do Judiciário e que não teria planejado um golpe de Estado, contrariando as investigações da PF. Para aliados, essa estratégia pode ajudar a “equilibrar” as forças com o Supremo Tribunal Federal (STF), ao demonstrar o apoio popular significativo ao ex-presidente e, consequentemente, dividir o país.
Pessoas próximas ao ex-mandatário concordam com a realização de novos atos, desde que sejam espaçados no tempo, evitando uma banalização que poderia enfraquecer as manifestações.
O último ato realizado pelo ex-presidente na avenida Paulista reuniu cerca de 185 mil de apoiadores, segundo um levantamento da Universidade de São Paulo (USP) e foi convocado por ele mesmo, com o intuito de se defender das suspeitas levantadas pela PF.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reconheceu a dimensão do evento, enquanto políticos de extrema-direita consideraram o evento um sucesso tanto pela quantidade de participantes quanto pelo tom moderado adotado por Bolsonaro em seu discurso.
No lugar de ataques diretos contra instituições como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o STF, como era praxe durante seu mandato, Bolsonaro adotou uma postura mais amena em suas críticas. Ele enfatizou sua busca pela pacificação do país e pediu anistia para os presos pelo ataque de 8 de janeiro de 2023.
“O que é golpe? É tanque na rua, é arma, conspiração. Nada disso foi feito no Brasil”, disse ao discursar para a massa bolsonarista. “Agora o golpe é porque tem uma minuta do decreto de estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenha paciência”, afirmou o ex-presidente.
Por essa fala, Bolsonaro acabou fornecendo, segundo investigadores, provas contra si mesmo ao abordar diretamente as suspeitas que recaem sobre ele. Na ocasião, a minuta golpista encontrada na sede do PL em Brasília. Para os investigadores, o discurso mostrou que ele sabia da existência do documento.
O ex-presidente ainda negou ter planejado um golpe e criticou o que chamou de “abuso por parte de alguns” que contribuem para a insegurança no país.
Apesar das investigações em curso, a cúpula do PL acredita que as mesmas não devem prejudicar o capital político de Bolsonaro nem sua capacidade de transferir votos nas eleições municipais. O partido continua apostando em candidaturas como a do Delegado Ramagem, no Rio de Janeiro, e do apoio ao prefeito Ricardo Nunes, em São Paulo, como estratégias-chave para as eleições futuras.