Regionais : Conheça a história e a importância do Dia Internacional da Mulher
Enviado por alexandre em 08/03/2024 00:55:26

Nesta sexta-feira, 8, países ao redor do mundo celebram o Dia Internacional da Mulher, cuja história remete a Revolução Industrial; entenda!

Maria Paula Azevedo, supervisão de Thiago Lincolins 

Mulheres notáveis: Susan B. Anthony e Rosa Parks - Domínio Público
Mulheres notáveis: Susan B. Anthony e Rosa Parks - Domínio Público

Nesta sexta-feira, 8, é celebrado o Dia Internacional da Mulher, uma data repleta de história e importância, cuja origem é desconhecida para muitas pessoas. Pensando nisso, o site Aventuras na História conversou com a coordenadora da Maple Bear Porto Velho, Elis da Silva Oliveira. 

Em 1975, durante a primeira conferência mundial das mulheres, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu que o dia 8 de março seria reconhecido como o Dia Internacional da Mulher.

Embora não seja feriado no Brasil, essa data visa celebrar a luta feminina ao longo da História e os direitos civis, políticos e trabalhistas conquistados graças as muitas manifestações e organizações femininas que lutaram ao longo dos anos. 

Manifestante vão às ruas de Melbourne, na Austrália, pelos direitos das mulheres - Créditos: Getty Images

No entanto, para compreender a verdadeira origem da data, é preciso voltar a Inglaterra do século 18, especificamente a Revolução Industrial, como explicou Elis, mestra em História e estudos culturais. 

Com o advento da Revolução Industrial, o mundo passou por mudanças profundas em suas formas de viver, pensar, agir e sentir. Tudo resultou no avanço da globalização e no crescimento da população urbana, além de influenciar as dinâmicas socioculturais. Logo, não é à toa que o movimento pelos direitos das mulheres tenha surgido nessa época, explica Elis.

Aliado a isso, o processo de escolarização e a formação de pessoas para o mercado de trabalho fabril contribuíram para a tomada de consciência das mulheres sobre sua posição e anseios, impulsionando a luta contra a falta de direitos e a busca por igualdade nos diversos contextos e sociedades, tanto ocidentais quanto orientais", afirmou a coordenadora. 

Com o passar dos anos, essa tomada de consciência cresceu, se multiplicou e se transformou em um movimento global, marcado por "manifestações, passeatas e movimentos organizados em prol da luta feminina", enfatiza Elis.

Por que 8 de março? 

É comum a associação da data com o incêndio ocorrido em 8 de março de 1857 com o intuito de impedir uma greve realizada por funcionárias da fábrica Cotton. Durante o episódio, 129 teriam morrido carbonizadas, entretanto, explica um artigo do Parlamento Europeu, essa história é uma mentira.

Um episódio verdadeiro ocorreu na fábrica têxtil localizada em Nova York, nos Estados Unidos, em março de 1911. Na ocasião, 130 operárias faleceram. 

A data está ligada a luta de mulheres operárias do período, que batiam de frente com governos e empregadores em busca de condições de trabalho humanas e salários justos, resultando em greves e passeatas.

Como as fábricas foram o berço do movimento, o dia 8 de março foi escolhido, pois, evocava os “eventos históricos significativos relacionados tanto à sua luta quanto ao seu sofrimento no contexto fabril.”, explicou Elis

A data foi oficialmente escolhida durante a guerra, em 1917. Na Rússia, mulheres em greve pediam pão, paz e direitos. Com o episódio, o czar abdicou e o governo provisório permitiu o direito do voto feminino. 

Seguindo o calendário juliano, o episódio se iniciou em 23 de fevereiro. No calendário gregoriano, entretanto, a data corresponde o dia 8 de março, o que explica a celebração. 

O Dia Internacional da Mulher ressalta a importância de, mais uma vez e em todos os anos, estudarmos e enaltecermos a história de luta das mulheres ao longo de toda a história da humanidade, fundamentando-se na constante e essencial busca feminina por vida, liberdade, igualdade de escolhas e direitos”, disse ela.
Garotas em idade escolar trabalhando em uma fábrica do século 19 - Créditos: Licença Creative Commons via Picryl

Luta e reconhecimento

Ao longo dos anos, as mulheres que iniciam a luta em meio às condições insalubres das fábricas foram deixadas de lado, entretanto, outras figuras de destaque aderiram ao movimento e se tornaram ícones da luta pelo direito das mulheres. 

Mulheres como Olympe de Gouges, Sojourner Truth, Susan B. Anthony, Simone de Beauvoir, Emmeline Pankhurst, Rosa Luxemburgo, Rosa Parks, Malala Yousafzai, Angela Davis, Bell Hooks, Rigoberta Menchú Tum e Wangari Maathai nos apresentam a importante e fundamental luta das mulheres na era contemporânea.”, relembrou. 

Após décadas de muito esforço, as mulheres conseguiram garantir seus direitos políticos e civis em larga escala, como o direito ao voto, ao trabalho digno e à igualdade salarial e civil, graças ao esforço das adeptas ao movimento. Entretanto, Elis ressalta que ainda há muito o que fazer. 

A luta feminina se estende aos dias atuais como uma busca por uma existência digna para as mulheres, com qualidade, justiça e equidade em todos os setores da vida em sociedade.”, finalizou a coordenadora. 

Leia também

Dia Internacional da Mulher: A verdadeira história do 8 de março


Russas contribuíram para estabelecer o 8 de março como o Dia Internacional das Mulheres. Arte: Wilcker Morais

Março das Mulheres: Conheça a verdadeira história do 8 de março

Pesquisadora afirma que a origem da data foi propositalmente dissociada da luta das trabalhadoras da União Soviética

Por Lu Sudré, no Brasil de Fato/08 de março de 2019

Todos os anos, divulga-se a história de que o Dia Internacional da Mulher surgiu em homenagem a 129 operárias estadunidenses de uma fábrica têxtil que morreram carbonizadas, vítimas de um incêndio intencional no dia 8 de março de 1957, em Nova York.

Segundo a versão que circula no senso comum, o crime teria ocorrido em retaliação a uma série de greves e levantes das trabalhadoras.

Embora essa seja a narrativa mais conhecida, quando se fala sobre a origem da data comemorativa, ela não é verdadeira.

O primeiro registro remete a 1910.

Durante a II Conferência Internacional das Mulheres em Copenhague, na Dinamarca, Clara Zetkin, feminista marxista alemã, propôs que as trabalhadoras de todos os países organizassem um dia especial das mulheres, cujo primeiro objetivo seria promover o direito ao voto feminino. A reivindicação também inflamava feministas de outros países, como Estados Unidos e Reino Unido.

No ano seguinte, em 25 de março, ocorreu um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, em Nova York, que matou 146 trabalhadores — incluindo 125 mulheres, em sua maioria mulheres imigrantes judias e italianas, entre 13 e 23 anos.

A tragédia fez com que a luta das mulheres operárias estadunidenses, coordenada pelo histórico sindicato International Ladies ‘Garment Workers’ Union (em português, União Internacional de Mulheres da Indústria Têxtil), crescesse ainda mais, em defesa de condições dignas de trabalho.

As russas soviéticas também tiveram um papel central no estabelecimento do 8 de março como data comemorativa e de lutas.

Por “Pão e paz”, no dia 8 de março de 1917, no calendário ocidental, e 23 de fevereiro no calendário russo, mulheres tecelãs e mulheres familiares de soldados do exército tomaram as ruas de Petrogrado (hoje São Petersburgo).

De fábrica em fábrica, elas convocaram o operariado russo contra a monarquia e pelo fim da participação da Rússia na I Guerra Mundial.

A revolta se estendeu por vários dias, assumindo gradativamente um caráter de greve geral e de luta política. Ao final, eliminou-se a autocracia russa e possibilitou-se a chegada dos bolcheviques ao poder.

A atuação de mulheres russas revolucionárias como Aleksandra Kollontai, Nadiéjda Krúpskaia, Inessa Armand, Anna Kalmánovitch, Maria Pokróvskaia, Olga Chapír e Elena Kuvchínskaia, é considerada imprescindível para o início da revolução.

“A história real do 8 de março é totalmente marcada pela história da luta socialista das mulheres, que não desvincula a batalha pelos direitos mais elementares — que, naquele momento, era o voto feminino — da batalha contra o patriarcado e o sistema capitalista”, ressalta a historiadora Diana Assunção, integrante do coletivo feminista Pão e Rosas.

Por “Pão e paz”, mulheres deram início à Revolução Russa. Foto: Reprodução

A pesquisadora explica que houve uma articulação histórica para esvaziar o conteúdo político do 8 de março, transformá-lo em “uma data simbólica inofensiva” e em um nicho de mercado, apagando sua origem operária.

“No dia da mulher, compram-se flores e presentes para as mulheres. Tentam esconder o conteúdo subversivo do significado desse dia, que é questionar o patriarcado. Tentam esconder que a luta das mulheres sempre esteve vinculada à luta socialista, perigosa para o status quo”, acrescenta Assunção.

Em 1921, na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, o dia 8 de março foi aceito como dia oficial de lutas, em referência aos acontecimentos de 1917. A data foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1975.

RETORNAR ÀS ORIGENS

A cada 8 de março, as mulheres trazem à tona questionamentos sobre a hipocrisia em torno das homenagens que recebem apenas nessa data. Em todos os dias do ano, o gênero feminino é o principal alvo da violência e da desigualdade.

Em resposta, trabalhadoras em todo o mundo se organizam cada vez mais pela defesa de seus direitos. Em 2017 e 2018, elas organizaram uma greve internacional com adesão de 40 países, com o lema “Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós”.

Assunção comemora o “resgate de um método de luta da classe operária de enfrentamento aos patrões e aos capitalistas”.

“O que estamos vendo é justamente que a revolta e a luta de classes têm rosto de mulher a nível internacional, com a luta a que estamos assistindo nos últimos anos, com essa verdadeira primavera feminista no mundo inteiro, com enormes marchas. Mas, agora, com uma cara cada vez mais operária”, ressalta.

“As mulheres são metade da classe operária, e as mulheres negras estão mostrando que são linha de frente em vários processos de luta”.

A historiadora avalia que é importante resgatar a verdadeira origem do Dia Internacional da Mulher, pois, segundo ela, foram as proletárias que avançaram efetivamente em medidas concretas para atacar os pilares que sustentam a opressão às mulheres.

“Mais do que nunca, precisamos da organização dos trabalhadores com as mulheres à frente, mostrando que são vanguarda, inclusive da classe operária. Enfim, sacudindo os movimentos, os sindicatos, com toda força expressada internacionalmente”, enfatiza.

Edição: Mauro Ramos

Leia também

Iriny Lopes: ‘A luta de gênero precisa começar nas escolas’

Página de impressão amigável Enviar esta história par aum amigo Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notícia