Coluna Futebol : Cuca faz pronunciamento após estreia pelo Athletico e fala de condenação na Suíça: 'Não é só sobre mim'
Enviado por alexandre em 11/03/2024 10:10:56

Não é só sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo, diz o treinador em discurso

O técnico Cuca fez sua estreia pelo Athletico neste domingo, em goleada por 6 a 0 sobre o Londrina, pelas quartas de final pelo Campeonato Paranaense, e aproveitou a entrevista coletiva após a partida para abordar a condenação por estupro na Suíça — cujo julgamento acabou anulado pelo Tribunal Regional de Berna-Mittelland por falhas processuais.

 

Em seu depoimento, escrito e lido, o técnico diz que conversou com esposa e filhas, que o ajudaram a construir o texto. "Ainda não me sinto com conhecimento suficiente para falar sobre algo tão forte".

 

Em seu discurso, o técnico se comprometeu com ações e diz que refletiu sobre a repercussão do caso.

 

Veja também

 

Vasco sai no lucro contra o Nova Iguaçu e arranca empate no primeiro jogo da semifinal do Carioca

 

Com brilho de jovens, Botafogo vence o Sampaio Corrêa e abre vantagem na semifinal da Taça Rio

"Não é só sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo, mas consegui seguir a minha vida, enquanto uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir a vida dela sem permanecer machucada, carrega o impacto para sempre. Eu consegui seguir minha vida. O mundo do futebol e o mundo dos homens nunca tinha me cobrado nada, mas o mundo está mudando e eu acho que é para melhor", diz ele em trecho do discurso, transcrito pelo ge.


Veja o discurso na íntegra:


"Queria falar sobre os últimos meses que eu tenho vivido. Há quase um ano eu sai do Corinthians e vocês podem imaginar o que estou passando e o quanto estou refletindo. Antes de falar, precisei escutar minha esposa, minhas filhas. Escrevi esse texto com a ajuda delas. Porque ainda não me sinto com conhecimento suficiente para falar sobre algo tão forte. Por elas e por todas eu escrevi e não quero errar.

 

Tenho escutado as opiniões e tentado entender o meu papel. No começo do ano li uma coluna da Milly Lacombe, da UOL, em que ela disse que isso não era sobre mim. Eu entendi o que ela quis dizer. Não é só sobre mim, mas é sobre mim também. Eu escolhi me recolher durante muito tempo, mas consegui seguir a minha vida, enquanto uma mulher que passa por qualquer tipo de violência não consegue seguir a vida dela sem permanecer machucada, carrega o impacto para sempre. Eu consegui seguir minha vida. O mundo do futebol e o mundo dos homens nunca tinha me cobrado nada, mas o mundo está mudando e eu acho que é para melhor.


Não adianta eu ser um grande treinador, esposo, pai, avô, irmão, se eu não entender que o mundo é mais do que o futebol e que eu faço parte dessas coisas. Eu enxergava os problemas, mas me calei porque a sociedade permitia que eu, como homem, me calasse. Hoje entendo que o silêncio soa como covardia. Tenho buscado ouvir mais, entender mais, aprender mais.

 

Não posso mudar o passado. Muitos homens agora me escutam e são capazes de olhar para o passado para rever suas atitudes. Sabemos que o mundo é um lugar diferente para os homens e mulheres, e quando enxergamos isso podemos até resistir, mas as coisas começam a mudar. Só que mudanças honestas e verdadeiras levam tempo, exigem dedicação, estudo, são dolorosas e desafiadoras.

 

A realidade tem que ser transformada para que o mundo seja um lugar mais seguro para as mulheres. O mundo do futebol ainda é um mundo de muito preconceito. Entendi que quando me cobram não é só sobre mim, é sobre a forma como tratamos as mulheres. Não estou falando isso como fala isolada para agradar alguém, ou da boca para fora. Se fosse assim teria me manifestado antes. Falo isso de coração.

 

Quero e me comprometo a fazer parte da transformação. Vou fazer isso com o poder da educação. Quero ajudar. Quero jogar luz, usar a voz que tenho para, ao mesmo tempo que me educo, educar também outros homens, principalmente os jovens que amam futebol. Sucesso repentino é desafio. Muitos se perdem pelo caminho com fama e dinheiro. Somos levados a acreditar que podemos tudo, inclusive desrespeitar as mulheres. Precisamos dar aos mais novos a oportunidade de não errarem como tantos de nós erramos. É ali que podemos sensibilizar, colocar para pensar, orientar. Sucesso, dinheiro e fama não servem para nada se você se perder no caminho.

 

Curtiu? Siga o PORTAL DO ZACARIAS no FacebookTwitter e no Instagram.

Entre no nosso Grupo de WhatAppCanal e Telegram


Eu pensei que eu estava livre da minha angústia quando solucionei meu problema com a anulação do processo e a indenização. Mas entendi que não acabou porque não dependia apenas da decisão judicial, mas que eu precisava entender o que a sociedade esperava de mim. O que vocês vão ver de mim daqui para frente não serão palavras, serão atitudes. Estou junto nessa causa e me comprometo a ajudar. Obrigado por me ouvirem hoje."

 

Fonte: O Globo

LEIA MAIS

Página de impressão amigável Enviar esta história par aum amigo Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notícia