Ciência & Tecnologia : Da imaginação à pintura: Inteligência Artificial ?lê? o cérebro para criar imagens; entenda
Enviado por alexandre em 10/05/2024 11:15:55

Experimento utilizou técnicas avançadas de IA generativa e leitura da atividade cerebral por meio de uma máquina de ressonância magnética

Uma montanha escura em uma planície vermelha em torno de uma estranha forma azul: um trio de artistas franceses apresenta uma imagem gerada por inteligência artificial a partir da atividade cerebral de um deles.

 

— Pensei muito em um vulcão — explica Pierre Fautrel, um dos membros do coletivo Obvious que participou do experimento. O coletivo é o responsável pelo laboratório de pesquisa Obvious, dedicado à arte e IA, em parceria com a Universidade Sorbonne, na França.

 

Durante uma hora, Fautrel ficou em uma máquina de ressonância magnética no Instituto do Cérebro do Hospital Pitié Salpêtrière, em Paris, e imaginou várias cenas com base em uma breve descrição.

 

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No processo, eles registraram sua atividade cerebral, que foi processada por um programa de Inteligência Artificial (IA) especialmente adaptado.

 

Fautrel admitiu que o trabalho gerado não é exatamente o que ele havia imaginado, mas que “retinha alguns elementos semânticos: uma montanha com lava jorrando sobre uma paisagem com um fundo claro”.

 

No ano passado, Fautrel, juntamente com os especialistas em aprendizado de máquina Hugo Caselles-Dupré e Gauthier Vernier, à frente da Obvious, dedicou toda a sua energia ao “Mind to Image” (Da mente para imagem), um projeto que parece uma ideia de ficção científica: capturar a imaginação de um artista usando IA generativa.

 

COMO FOI O EXPERIMENTO


O coletivo de artistas baseou seu trabalho na ferramenta de código aberto MindEye, projetada para permitir que pessoas com deficiências motoras criassem imagens a partir de sua atividade cerebral, e depois começou a modificar o programa em várias etapas.

 

Primeiro, eles mostraram retratos e paisagens a um dos artistas enquanto um exame de ressonância magnética era realizado para ver quais áreas do cérebro eram ativadas e, em seguida, usaram esses dados para ajustar a IA. Em seguida, a ferramenta tentou reconstruir as imagens originais a partir dos dados coletados.

 

Esse processo foi repetido várias vezes “para criar um banco de dados”, explica Caselles-Dupré.


No segundo estágio, eles repetiram o exercício usando apenas o banco de memórias das imagens e, em seguida, tentaram fazê-lo usando os prompts, que são as instruções dadas à IA, antes que o sujeito entrasse na máquina de ressonância magnética.

 

— Há uma década sabemos que é possível reconstruir uma imagem vista a partir da atividade do córtex visual. Mas não uma imagem ‘imaginada’. Isso é um desafio — diz Alizée Lopez-Persem, pesquisadora do Instituto do Cérebro e do Instituto Nacional Francês de Pesquisa em Saúde e Medicina (Inserm).

 

São necessárias várias horas para classificar as informações das imagens coletadas com a ressonância magnética antes de fornecê-las à IA. Mas, uma vez feito esse trabalho, a geração de imagens “é mais ou menos instantânea, com computadores muito potentes”, resume Caselles-Dupré.

 

— Há dois anos, eu não poderia imaginar que isso existiria — afirma Charles Mellerio, um neurorradiologista envolvido no projeto de pesquisa junto com os artistas.

 

Para ele, essa “façanha técnica” se deve ao progresso no campo da imagem médica, que avançou “em termos de resolução e precisão”, e ao rápido desenvolvimento da IA generativa.

 

INSPIRADO PELO SURREALISMO


Os artistas foram inspirados pelo movimento surrealista, que comemora seu 100º aniversário em 2024.

 

— Tentamos ir o mais rápido possível entre a imagem mental e a realização plástica — diz Fautrel, que vê esses experimentos como uma forma de “reinterpretar o surrealismo”.

 

Caselles-Dupré conta que, como coletivo, eles acreditam que “há uma ligação entre a arte e a ciência”, mas reconhece que esse tipo de tecnologia “pode ser aterrorizante”, se usada para outros fins.

 

No futuro, esse trio de artistas espera fazer experimentos com outros formatos, como som ou vídeo. Até outubro, eles estão expondo suas criações na galeria Danysz, em Paris.

 

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Em 2018, o coletivo impactou o mundo da arte ao vender por mais de 430 mil dólares (cerca de R$ 2,2 milhões na cotação atual) na Christie's de Nova York a obra “Edmond de Belamy”, um retrato que foi anunciado como a primeira criação feita com um programa de inteligência artificial. 

 

Fonte: O Globo

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