Justiça : STF toma mais de 600 decisões que afetam parlamentares
Enviado por alexandre em 24/06/2024 09:08:03

Levantamento mostra uma das razões para o aumento da tensão entre o Judiciário e o Congresso

Fachada do edifício sede do Supremo Tribunal Federal (STF)
Fachada do edifício sede do Supremo Tribunal Federal (STF) Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Em um mapeamento realizado pelo Grupo de Pesquisa sobre Judiciário e Democracia da Universidade de São Paulo (USP), foi identificado um aumento significativo nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) que impactam os mandatos de parlamentares do Congresso Nacional. Entre 1988 e 2004, foram registradas 36 deliberações desse tipo, enquanto de 2005 em diante, esse número saltou para cerca de 636, um aumento de 1600%. As informações são do Estado de São Paulo.

A doutoranda em Harvard e cientista política Gabriela Fischer Armani, responsável pela pesquisa, explicou que o levantamento examinou decisões em três áreas: criminal, eleitoral e parlamentar. As decisões criminais incluíam buscas e apreensões, remoção de sigilo bancário e telefônico, prisões e afastamentos do cargo. Na esfera eleitoral, envolviam condenações por crimes eleitorais. Na área parlamentar, tratavam de questões iniciadas no Congresso que acabavam no STF, como casos de cassação.

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Até 2004, ocorreram poucas decisões, com apenas 36 registradas em 16 anos. Entre 2005 e 2014, a atuação do Supremo aumentou significativamente, com 240 decisões, impulsionadas pelo julgamento do Mensalão. Entre 2015 e 2018, foram registradas 275 decisões, destacando-se a Operação Lava Jato. De 2019 a 2022, ocorreram 121 decisões, e em 2023, foram registradas 38 decisões.

Ao comentar o levantamento, o pesquisador e jurista Diego Werneck Arguelhes disse ao Estadão que, nos anos anteriores, os ministros exerciam suas prerrogativas constitucionais de maneira mais autocontida e que as poucas decisões levadas ao Supremo eram frequentemente decididas de forma a não interferir nos mandatos. Mas tudo mudou a partir de 2005, após o Mensalão.

– É a primeira vez que começamos a ver políticos sendo presos de maneira mais frequente pelo Supremo, como o ex-senador Delcídio Amaral, além de políticos afastados de cargos e com a implementação de restrições mais rígidas pelo STF. Me parece que aí está o calcanhar de Aquiles das novas relações entre o Supremo e o Congresso, que é o fato de que, até então, sempre discutimos o ativismo do Supremo quanto a políticas públicas, quanto a derrubar leis feitas pelo Congresso. Agora, a partir daqui, também se discute o ativismo na dimensão individual do político. Então, temos ainda o controle de política pública, mas agora temos controle do político.

DECISÕES INDIVIDUAIS
As decisões individuais dos ministros do STF contribuíram para o aumento do tensionamento entre os poderes, segundo especialistas. Decisões monocráticas e sem prazos definidos aumentam as críticas e tensões entre o STF e o Congresso, impactando a percepção de legitimidade da Corte.

O jurista Rubens Glezer, um dos coordenadores do Supremo em Pauta e professor da FGV, entende que esses conflitos entre os poderes ” contribuem para desgastar a própria autoridade, a percepção social de imparcialidade e a legitimidade da Corte”.

– Esse tipo de ação, que vai testando os limites do que é permitido, gera um déficit na percepção de legitimidade da população. Vai se tornando cada vez mais difundida a ideia de que o STF é político num sentido partidário, de que ele deturpa suas funções, de que interfere excessivamente nos outros poderes de um jeito pouco técnico – pontuou o especialista ao Estadão.

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