Regionais : 'Uma bomba': como denúncias de assédio sexual abriram crise no governo Lula
Enviado por alexandre em 07/09/2024 11:45:02

Silvio Almeida e o presidente Lula durante a posse, em 2023

As denúncias de que o agora ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, teria assediado sexualmente mulheres, inclusive a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, abriram uma grave crise em um campo caro a governos petistas: o da proteção e fortalecimento das minorias.

 

Em nota oficial, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a demissão de Almeida na noite de sexta-feira (6/9), reconhecendo que as denúncias são "graves" e que sua manutenção no cargo era "insustentável". Almeida negou as acusações em um vídeo divulgado na quinta-feira (5/9) e se disse perseguido por um grupo, sem especificar quem.

 

Para analistas políticos e especialistas em questões raciais e de gênero ouvidos pela BBC News Brasil, o episódio dá combustível para os críticos das pautas identitárias atacarem o governo petista e evidencia como o machismo estrutural e institucional também está presente em governos de esquerda.O episódio gerou reação da senadora Damares Alves (Republicanos), ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Bolsonaro.

 

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"Se algum outro ministro sabia e não denunciou, também é conivente com assédio sexual. Inadmissível esse homem se manter na pasta", criticou, em vídeo divulgado na quinta-feira (5/9), quando o caso veio à tona.

 

As acusações foram confirmadas naquele dia pela organização Me Too Brasil, após serem reveladas pelo portal Metrópoles. Já na tarde desta sexta-feira (6), a professora Isabel Rodrigues utilizou sua rede social para publicar um vídeo em que narra ter sido vítima de Almeida, em 2019.

 

Lula com olhar preocupado

 

De acordo com ela, Almeida, que na época ainda não era ministro, teria colocado as mãos em suas partes íntimas durante um almoço com outras pessoas. Foi a primeira denúncia pública feita por alguém que mostrou nome e rosto contra o ministro. "Eu acredito que foram muitas", disse Isabel sobre outras possíveis vítimas.

 

Para o cientista político Creomar de Souza, fundador da consultoria política Dharma, a rapidez com que Lula reagiu às denúncias após o caso se tornar público revela a gravidade da crise: "Uma bomba".Ele lembra que a separação do antigo ministério comandando pela Damares Alves em quatro pastas – Direitos Humanos, Igualdade Racial, Povos Indígenas e Mulheres – foi uma prioridade do governo.

 

"E a escolha do Silvio e da Anielle vem com um elemento muito simbólico, que grupos de esquerda costumam gostar muito. O Silvio por toda a intelectualidade, a questão do conceito do racismo estrutural, que passou a ser muito utilizado [após seu livro]. E a Anielle por toda essa simbologia da luta para encontrar os culpados daquele crime terrível que foi o assassinato da irmã dela [a vereadora Marielle Franco, morta em 2018]", afirma Souza.

 

Anielle e Janja abraçadas e sorrindo durante comício

Fotos: Reprodução

 

"E, de repente, a gente tem ela sendo vítima de assédio sexual pelo ministro que era a referência de direitos humanos. É uma crise que machuca [o governo], até porque ela [Anielle] ficou calada para preservar o governo. E ainda há os questionamentos se outros ministros sabiam e não agiram", acrescenta.

 

Na avaliação de Creomar de Souza, o episódio tem um impacto negativo para além do governo, podendo alimentar o racismo que já existe na sociedade brasileira.

 

"Esse é um país racista. E, em determinado sentido, para pessoas pretas, negras, é um desafio a ascensão social, a chegada no lugar de destaque. E essas pessoas [negras] sempre correm o risco de que o erro de um indivíduo [que chega a essa posição de destaque] seja considerado o erro de todas elas", analisa.

 

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"Por exemplo, quando a primeira mulher presidente da história do Brasil [Dilma Rousseff] sofre impeachment, isso é um impacto no sonho de outras meninas que queiram ser presidente. É um impacto na forma como o cidadão enxerga mulheres disputando a Presidência. Então, a gente tem um impacto [agora para os negros] que eu não consigo mensurar", acrescentou. 

 

Fonte: Uol

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