Brasil : “Nunca vi nada assim”: como as queimadas afetam a vida de moradores da Amazônia
Enviado por alexandre em 11/09/2024 15:02:38


Focos de incêndio na Amazônia. Foto: Cícero Pedrosa Neto

A devastação causada pelas queimadas na Amazônia atingiu um novo patamar, com mais de 82 mil focos de incêndio registrados entre 1º de janeiro e 9 de setembro deste ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Este número já é o dobro do mesmo período de 2023 e se aproxima do recorde histórico de 85 mil focos em 2007.

O prefeito de Novo Progresso (PA), Gelson Dill (MDB), comparou a situação atual com 2019, quando garimpeiros promoveram o “Dia do Fogo”. Para ele, nem mesmo aquela ocasião, no auge do bolsonarismo sobre as políticas ambientais, foi tão prejudicial como a que vivemos em 2024.

“Eu moro aqui há 25 anos e não me lembro de ter vivido uma seca tão grande. A brigada de bombeiros mais próxima daqui fica a 400 quilômetros. Estamos tentando usar os nossos caminhões pipas, mas eles não conseguem acesso às áreas”, disse o prefeito.

Já na cidade de Trairão (PA), à beira da BR-163, uma família foi obrigada a evacuar a casa rapidamente para conter as chamas que avançavam. “A seca deste ano foi a mais severa, não víamos algo assim desde a década de 80”, explicou o prefeito João Cleber de Souza Torres (MDB), ao jornal O Globo, destacando que muitas queimadas são acidentais, causadas pelo uso tradicional do fogo para limpar terrenos.

O município, que abriga a Terra Indígena Apyterewa, enfrenta a ação de grileiros e garimpeiros que, segundo denúncias, ateiam fogo deliberadamente para dificultar as ações de fiscalização do Ibama. As investigações dessas práticas criminosas já resultaram em 19 inquéritos abertos pela Polícia Federal em 2024.

Na região do Parque Nacional do Jamanxim, também no Pará, o fogo avança rapidamente durante a noite, com labaredas que se aproximam das margens da BR-163, transformando a estrada em uma zona de perigo. Em uma dessas ocasiões, a reportagem testemunhou uma casa de madeira ser completamente consumida pelas chamas, enquanto os motoristas reduziam a velocidade com receio de que o fogo se alastrasse até os veículos. A fumaça, intensa e densa, tornava a respiração difícil e provocava ardência nos olhos.

Fogo em floresta no Brasil. Foto: reprodução

No distrito de Jardim do Ouro, em Itaituba (PA), a cena era igualmente desoladora. Bois fugiam do fogo em direção à Transgarimpeira, buscando escapar das chamas que tomavam conta dos pastos. Ao meio-dia, o sol, encoberto pela fumaça espessa, transformou o dia em uma penumbra avermelhada.

Em meio à destruição, troncos de castanheiras se destacavam, sobrevivendo às chamas, enquanto aves como araras azuis e papagaios fugiam em revoada, e buritis ardiam no horizonte.

Em Moraes Almeida (PA), a fumaça densa já afetava a visibilidade na pista de pouso dos pequenos aviões que abastecem os garimpos da região. “Sempre tem fumaça nessa época, mas não tanto como agora”, comentou Emilia Silva, que vive nas proximidades da BR-163. O distrito, conhecido por suas serrarias, madeireiras e fazendas de gado, está no coração da devastação.

Descendo pela mesma rodovia, o município de Novo Progresso (PA) se destaca por uma história de tragédia ambiental recente: em 2019, o “Dia do Fogo” entrou para o noticiário quando fazendeiros organizaram uma vaquinha para financiar queimadas coordenadas. Hoje, o cenário é ainda pior.

“Estou aqui há 25 anos e nunca vivi uma seca tão grande”, afirmou o prefeito Gelson Dill (MDB). A cidade, com uma brigada de bombeiros distante a 400 quilômetros, enfrenta enormes dificuldades em controlar as chamas, utilizando caminhões-pipa que muitas vezes não conseguem acessar as áreas mais afetadas.

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