Coluna Qualidade de Vida : O fisiculturismo e a arena da morte; entenda
Enviado por alexandre em 11/09/2024 15:26:16

Com os anabolizantes, os músculos crescem, sim, mas o coração sofre, o fígado, os rins, o cérebro e outros órgãos padecem

Infelizmente, o uso de anabolizantes para fins estéticos está sendo banalizado. O perigo que está por trás das injeções e comprimidos não é tão divulgado quanto seus poderosos efeitos em moldar corpos de maneira tão rápida e eficiente. Médicos e influenciadores que fazem uso tornam a prática ainda mais “normal” e incentivam milhares de jovens.

 

Por isso, aproveito trago a reflexão do doutor em endocrinologia, Clayton Luiz Macedo, especialista em Medicina do Esporte, coordenador do Núcleo de Endocrinologia do Exercício da Unifesp, presidente dos Departamento de Endocrinologia do Exercício da SBEM e da ABESO, que faz um alerta quanto à essa situação.

 

Na Roma antiga, o Coliseu era palco de competições, onde os gladiadores lutavam por glória, fama, ou simplesmente pela promessa de liberdade. Sob o olhar de milhares, o destino de cada homem era decidido com base na força e nos músculos. O espetáculo dependia da morte de um dos combatentes. A sociedade mudou, evoluiu. Nós, em teoria, nos afastamos da barbárie dos tempos antigos. Ou será que não?

 

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Hoje, não mais no centro de um Coliseu, mas nas academias e palcos de competições, vemos uma outra classe de competidores. E, assim como os gladiadores, eles também pagam um preço alto demais. Para alguns, é o preço mais caro de todos: a própria vida.

 

No cenário do fisiculturismo, a arena pode não ser de pedra, mas é tão cruel quanto. Não há leões, mas há perigos invisíveis que rondam cada treino, cada injeção, cada comprimido de esteroide anabolizante.

 

Os músculos crescem, sim, mas o coração sofre, o fígado, os rins, o cérebro e os outros órgãos padecem, a mente se perturba. A cada repique de um músculo tenso, a cada batida acelerada de um coração que luta contra uma hipertrofia imposta, o corpo grita em silêncio.

 

Mas, a sociedade de hoje finge não perceber. Ela aplaude a hipertrofia e a vascularização extrema, admira os corpos que parecem esculpidos, mas ignora o que acontece fora dos holofotes. A morte de um atleta aqui e ali é uma notícia frequentemente repetida, mas despercebida e passageira.

 

Quantos mais precisarão morrer para que admitamos que o custo está alto demais? O fisiculturismo, com seu apetite e sua fixação em corpos cada vez maiores e mais definidos, se tornou uma nova versão das antigas arenas romanas. Não aceitamos mais que alguém morra numa competição de gladiadores, mas aceitamos que jovens continuem a perder suas vidas em nome de um ideal inatingível de corpo.

 

A lógica é simples – quanto mais rápido e maior o resultado, maior o risco do mau uso de hormônios. E esses riscos são grandes, frequentemente irreversíveis. Do ponto de vista cardiovascular, o uso prolongado de esteroides pode levar à hipertensão, infarto, derrame, embolia, trombose, arritmias cardíacas, e, eventualmente, ataques fulminantes. O preço da hipertrofia é pago com o desgaste silencioso do coração e dos vasos sanguíneos.

 

E os efeitos colaterais não param por aí. De um ponto de vista neuropsiquiátrico, a “montanha-russa” hormonal a que esses jovens se submetem também pode ter um preço elevado. A agressividade exacerbada, a irritabilidade crônica e episódios de depressão profunda, além da falência do fígado, o câncer, a infertilidade, não são apenas histórias para assustar. Eles são a realidade diária de muitos usuários, cujas vidas pessoais e profissionais acabam sofrendo as consequências.

 

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A solução? Talvez esteja em resgatar o espírito verdadeiro do esporte: aquele que celebra a superação, sim, mas sem sacrificar a vida. Aquele que entende que a vitória não deve ser medida apenas pelos centímetros a mais de músculo, mas pela saúde, pelo bem-estar, pela longevidade. Talvez seja hora de reconhecer que um corpo verdadeiramente forte é aquele que dura, que resiste ao tempo, que vive. 

 

Fonte:O Globo

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