A Amazônia, maior bioma brasileiro e a mais biodiversa das florestas tropicais, enfrenta um futuro incerto. Suas funções essenciais, como a regulação do clima e a geração de chuvas, estão sob ameaça devido às queimadas, desmatamentos e eventos climáticos extremos. A população deve esperar um agravamento das secas e das cheias no futuro.
Em 2024, as perspectivas de chuva são desanimadoras. Embora a transição entre as estações seca e chuvosa geralmente ocorra entre setembro e novembro, a situação atual é mais grave que em 2023, quando o rio Negro atingiu seu nível mais baixo da história. Os oceanos Atlântico e Pacífico, que influenciam diretamente as chuvas na região, estão em neutralidade, sem sinais de melhora significativa. Com isso, espera-se que os rios amazônicos continuem em regime de descida, agravando a seca.
Os oceanos têm papel crucial no comportamento climático. Em 2023, a combinação do El Niño e do aquecimento anormal do Atlântico contribuiu para a redução das chuvas. Essa diminuição afetou diretamente a recarga dos rios, levando a uma cheia de pequenas proporções e à atual seca severa. O impacto não é apenas ambiental, mas também social, afetando diretamente as comunidades e municípios, que enfrentam dificuldades com transporte, saúde e até acesso a água potável.
A frequência e a intensidade das secas e cheias aumentaram desde o início do século XXI, uma tendência que deve continuar, pois os eventos extremos serão cada vez mais comuns na região, o que exige uma adaptação tanto das populações locais quanto dos estudos científicos para compreender e mitigar esses fenômenos.
A fumaça das queimadas em Manaus, que nas últimas semanas comprometeu a qualidade do ar, também afeta o regime de chuvas, conforme estudos recentes. As partículas das queimadas tornam a atmosfera mais estável, dificultando a formação de nuvens de chuva e aumentando a incidência de raios solares no solo.
O Inpa, por meio de programas como o LBA e o projeto AmazonFACE, tem gerado dados fundamentais para entender os impactos das mudanças climáticas na Amazônia. Esses estudos ajudam a prever e mitigar os efeitos de eventos extremos, não apenas para a região, mas para o planeta. A Amazônia enfrenta um futuro desafiador com a intensificação das secas e cheias. As pesquisas científicas são cruciais para entender essa nova realidade e buscar soluções sustentáveis.
Texto adaptado de entrevista do meteorologista Renato Senna enviada à imprensa pela Assessoria de Comunicação do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).