Regionais : “Kids pretos”: conheça o grupo golpista que armou para matar Lula
Enviado por alexandre em 19/11/2024 15:54:21


Militares das Forças Especiais (FE) em treinamento. Apelido “Kids Pretos” é dado devido ao gorro preto. Foto: reprodução

Os “kids pretos” são uma das tropas mais especializadas do Exército Brasileiro. Com histórico que remonta a 1957, o grupo é composto por militares da ativa e da reserva treinados em Operações Especiais. O nome informal, segundo o Exército, deriva do gorro preto usado pelos membros. Internamente, também são conhecidos como Forças Especiais (FE).

Nesta terça-feira (19), 4 membros deste grupo, além de um policial federal, foram presos por tramarem golpe de Estado em 2022. Além de tomar o poder para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no cargo, eles planejaram matar, por envenenamento, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu vice, Geral Alckmin, e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Os militares que desejam integrar os “kids pretos” passam por rigorosos processos seletivos e cursos especializados, como o de Ações de Comandos e o de Forças Especiais. A formação ocorre em centros estratégicos, como o Centro de Instrução de Operações Especiais, em Niterói (RJ), o Comando de Operações Especiais, em Goiânia (GO), e a 3ª Companhia de Forças Especiais, em Manaus (AM).

Durante o treinamento, os candidatos aprendem a executar missões de alto risco e sigilo, incluindo combate ao terrorismo, guerrilha, insurreição, sabotagem, inteligência militar, e planejamento de fugas. Essas operações são classificadas como “guerra irregular”.

O lema divulgado em um vídeo oficial das forças especiais resume a mentalidade desses soldados: “O ideal como motivação. A abnegação como rotina. O perigo como irmão. A morte como companheira”.

Com um efetivo estimado em 2,5 mil militares até 2023, os “kids pretos” são treinados para atuar em todo o território nacional. Porém, sua utilização depende de ordens diretas do Comando do Exército, respeitando normas legais e protocolos de engajamento.

A especialização desse grupo inclui o uso de equipamentos avançados e táticas sofisticadas, o que torna suas ações notáveis. Um exemplo é o uso de granadas GL-310, comumente apelidadas de “bailarinas”, empregadas em treinamentos militares.

Apesar do prestígio técnico, os “kids pretos” caíram em descrédito após as eleições de 2022. Investigações da Polícia Federal identificaram a participação de membros da reserva em atos golpistas, incluindo os ataques de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Depoimentos e vídeos sugerem que as táticas empregadas nos atos de vandalismo contra o Congresso Nacional, STF e Palácio do Planalto tinham características de coordenação militar.

Entre os envolvidos estão Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mário Fernandes, os quatro presos desta quarta-feira. Outros membros do grupo, como o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, gravou vídeos incentivando os atos golpistas.

Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes, os “kids pretos” presos pela Polícia Federal. Foto: Reprodução

General revelou que Bolsonaro concordou com trama golpista em áudio, diz PF


Bolsonaro e o general Mario Fernandes, um dos “kids pretos” preso pela PF nesta terça-feira (19) – Foto: Isac Nóbrega/Presidência da República

As investigações da Polícia Federal, que culminou na prisão de militares dos “kids pretos” nesta terça-feira (19), revelaram que o general Mário Fernandes, detido por suspeita de envolvimento em planos golpistas para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esteve com o então presidente Jair Bolsonaro (PL) em 8 de dezembro de 2022, e comemorado o resultado da conversa em áudio enviado para aliados após a reunião.

O encontro ocorreu quase um mês após Fernandes imprimir, no Palácio do Planalto, o planejamento operacional que incluía a prisão e execução do ministro Alexandre de Moraes e o assassinato de Lula e do vice-presidente Geraldo Alckmin. A investigação também aponta que o ex-presidente teria participado da redação da minuta golpista.

Segundo a PF, o plano golpista foi impresso duas vezes: a primeira em novembro e a segunda em 6 de dezembro. Dois dias depois, Fernandes esteve no Palácio da Alvorada entre 17h e 17h40, conforme registros de controle de acesso. Em 9 de dezembro, ele enviou um áudio ao ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, comemorando que o ex-presidente havia aceitado o “nosso assessoramento”.

No áudio, Fernandes celebra a postura de Bolsonaro em se dirigir a apoiadores no Alvorada e agradeceu ao então ajudante de Ordens da Presidência: “Força, Cid. Meu amigo, muito bacana o presidente ter ido lá à frente ali do Alvorada e ter se pronunciado, cara. Que bacana que ele aceitou aí o nosso assessoramento. Porra, deu a cara pro público dele, pra galera que confia, acredita nele até a morte. Foi muito bacana mesmo, cara. Todo mundo vibrando. Transmite isso pra ele”.

Além de exaltar Bolsonaro, Fernandes demonstrou preocupação com a proximidade da posse dos novos comandantes das Forças Armadas, marcada para 20 de dezembro. Segundo ele, a mudança na cúpula militar poderia frustrar os planos golpistas, indicando a urgência de uma ofensiva para interromper a transição.

O general Mário Fernandes cumprimenta o ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: reprodução

A PF apontou o general como um dos principais elos entre o governo Bolsonaro e os manifestantes golpistas que se concentravam em frente aos quartéis. “Além de receber informações, também servia como provedor material, financeiro e orientador dos manifestantes antidemocráticos instalados nas adjacências do QG do Exército em Brasília”, afirma a investigação.

Os acampamentos em frente aos quartéis, organizados com apoio do general, também foram destacados pela PF como cruciais para a tentativa de golpe de Estado culminada nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Fernandes, identificado como “ponto focal” do governo com os golpistas, teria articulado o fornecimento de recursos e coordenado estratégias de mobilização.


Militares planejavam usar “técnicas terroristas” para matar Lula e Alckmin, diz Moraes


O presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Foto:
Joédson Alves/ Agência Brasil

O plano de militares para assassinar o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin incluía uso de “técnicas militares e terroristas”, segundo o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), também alvo dos golpistas. Em decisão que autorizou a Operação Contragolpe, que prendeu o grupo, o magistrado ainda apontou a “extrema periculosidade” dos envolvidos.

“Os elementos comprovam a existência de gravíssimos crimes e indícios suficientes da autoria, além de demonstrarem a extrema periculosidade dos agentes, integrantes de uma organização criminosa, com objetivo de executar atos de violência, com monitoramento de alvos e planejamento de sequestro e, possivelmente, homicídios”, escreveu o ministro.

Quatro militares do Exército ligados às Forças Especiais da corporação, os “kids pretos”, e um policial federal foram presos nesta terça. No despacho que autorizou a ação, o ministro ainda cita suspeitas de uso de aparato público-militar no plano, com o uso de um veículo oficial do Batalhão de Ações de Comandos.

“Os investigados contribuíram para o planejamento de um Golpe de Estado, cuja consumação presumia a detenção ilegal e possível execução, com uso de técnicas militares e terroristas, além de possível assassinato dos candidatos eleitos nas Eleições de 2022, Lula e Alckmin, e, eventualmente, as prisões de pessoas que pudessem oferecer qualquer resistência institucional à empreitada golpista”, prossegue o documento.

Rafael Martins de Oliveira, Hélio Ferreira Lima, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Mario Fernandes, os “kids pretos” presos pela Polícia Federal. Foto: Reprodução

O grupo monitorou Lula, Alckmin e Moraes após uma reunião na casa do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato a vice-presidente, no dia 12 de novembro de 2022, segundo o magistrado.

Os investigados planejavam envenenar as autoridades ou usar explosivos contra elas e admitiam a hipótese de morrerem durante o atentado.

“Claramente para os investigados a morte não só do ministro, mas também de toda a equipe de segurança e até mesmo dos militares envolvidos na ação era admissível para cumprimento da missão de ‘neutralizar’ o denominado ‘centro de gravidade’, que seria um fator de obstáculo à consumação do golpe de Estado”, diz outro trecho da decisão.

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