Marta Castillo está frustrada com a imigração. “Há muitos imigrantes em minha cidade”, disse ela. “Eles nem falam o idioma. Fomos invadidos.” Em frente ao restaurante onde trabalha, Marta explicou: “Antes, não tínhamos isso por aqui, mas agora, em todo lugar, vemos pessoas que não são daqui.” Marta é mexicana e mora no México. Contudo, como muitos de seus conterrâneos, sua visão sobre os imigrantes em sua comunidade tem se tornado cada vez mais negativa – mesmo vivendo em um país onde milhões possuem laços com quem imigrou para os Estados Unidos.
Enquanto Donald Trump, presidente eleito, se prepara para retornar à Casa Branca, ele pressiona o México a intensificar os esforços para controlar os milhares de imigrantes que atravessam o país rumo à fronteira com os EUA. Paradoxalmente, ele pode encontrar apoio entre os próprios mexicanos.
Não faz muito tempo, era comum ouvir no México que praticamente todas as famílias tinham um parente ou amigo que havia partido para “el norte” em busca de trabalho ou para escapar da violência. Porém, o perfil demográfico dos imigrantes mudou: agora incluem centro-americanos, haitianos, venezuelanos e pessoas de diversas partes do mundo. Essa transformação tem endurecido a opinião de muitos mexicanos.
Segundo uma pesquisa da Oxfam México, realizada em 2023, 7 em cada 10 mexicanos consideram que o fluxo migratório para o país é “excessivo”. Mais da metade acredita que a imigração não traz impactos positivos para a economia ou a cultura, e 40% defendem limitar ou proibir a entrada de imigrantes. Este sentimento tem levado a protestos e surtos de violência em algumas regiões, preocupando até mesmo a ONU, que realizou sua própria pesquisa sobre o tema no México.
Os dados mostram que quase um terço dos mexicanos acredita que os imigrantes deveriam apenas atravessar rapidamente o país rumo aos EUA, enquanto 13% defendem o fechamento das fronteiras e a deportação dos imigrantes. Mesmo nos EUA, onde as opiniões também são polarizadas, 55% dos entrevistados em uma pesquisa Gallup em junho de 2024 disseram querer menos imigração.
“A paciência com os imigrantes está se esgotando”, disse Emilio Gonzalez Gonzalez, da ACNUR, a agência de refugiados da ONU. Ele ressalta que estigmas e preconceitos influenciam a percepção pública, especialmente quando comunidades enfrentam desafios diretos, como a criação de acampamentos improvisados no coração da Cidade do México, onde imigrantes lutam contra a precariedade enquanto esperam uma chance de atravessar para os EUA.
A crescente hostilidade reflete uma ironia: enquanto milhões de mexicanos foram imigrantes nos EUA, hoje muitos enfrentam os mesmos preconceitos dentro de suas próprias comunidades. Alexandra Haas, diretora da Oxfam México, destaca que o principal problema parece ser a falta de infraestrutura do governo mexicano para lidar com os desafios da imigração, o que agrava discursos xenofóbicos.
Embora o México tenha políticas para proteger os imigrantes, na prática, a pressão dos EUA transformou o país em um agente de fiscalização migratória, com números recordes de detenções e deportações nos últimos anos. “O México adotou, na prática, políticas de imigração baseadas na repressão, alinhadas com os interesses dos EUA”, afirma o ex-embaixador Arturo Sarukhan.
Enquanto isso, mexicanos como Ernesto Anguiano Ayala, que veio de Michoacan para tentar um visto para os EUA, ainda veem na imigração uma oportunidade de buscar uma vida melhor. “Todos têm o direito de buscar um futuro melhor, seja aqui no México ou em outro lugar”, diz sua esposa, Jessica Hernandez.