Em Recife (PE), uma tecnologia inovadora foi utilizada recentemente: uma inteligência artificial que lê prontuários médicos e cruza os dados para identificar ocorrências de violência contra a mulher até 92 dias antes dos casos se agravarem. Os resultados dessa iniciativa tecnológica vem de um estudo desenvolvido pela Vital Strategies (uma organização internacional de saúde pública) em parceria com a FrameNet Brasil (o laboratório de linguística computacional da Universidade Federal de Juiz de Fora).
O projeto realizou uma análise detalhada de 13 mil registros médicos, todos provenientes de mulheres vítimas de violência em Recife em um período de dez anos. A tecnologia coloca o sistema médico um passo à frente para prevenir que os casos de violência piorem, uma vez que as vítimas tendem a mudar de uma UBS (Unidade Básica de Saúde) para outra para que os agentes de saúde não percebam que elas são agredidas. Veja mais informações a seguir.
Mulheres que se encontram em um ciclo de violência doméstica tendem a procurar ajuda médica sempre que os ferimentos são muito graves. Porém, elas costumam mudar de uma UBS para outra quando os episódios de agressão estão prestes a ficar ainda mais violentos. É isso o que relata o levantamento de dados feito pela Vital Strategies em parceria com a FrameNet Brasil. Essa mudança de hábito ocorre cerca de 92 dias antes de serem gravemente feridas ou assassinadas.
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Para impedir que as estatísticas dos casos de agressão –– e, no cenário mais grave, de homicídios –– continuassem a decolar, o projeto tecnológico associou uma inteligência artificial a uma análise semântica para cruzar informações do Sinan (Sistema de Informações de Agravos de Notificação) com os dados obtidos de prontuários médicos eletrônicos. Este cruzamento de informações utiliza o banco de dados de ambos os sistemas para identificar, de forma precoce, pacientes atendidos nas UBS que demonstram sinais de violência.
Foto: Reprodução
Uma vez que uma potencial vítima de violência é encontrada, torna-se mais fácil auxiliá-la de maneira direta e previne que as agressões sofridas piorem ou que resultem na morte dessas mulheres. O estudo informa que conseguiu identificar essas vítimas justamente nos 92 dias que antecedem a piora das agressões e antes que as vítimas resolvam mudar de UBS.
É importante destacar que o Sinan é regulado pelo Ministério da Saúde e pelas demais secretarias estaduais e municipais de saúde. As notificações dos casos de violência contra a mulher são compulsórias, então, o banco de dados da inteligência artificial permanece atualizado.
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O sistema com funcionamento via IA se mostra tão promissor que identificou um equívoco em um caso notificado pelo Sinan: uma mulher que anteriormente havia sido declarada como morta devido a um acidente de carro, na verdade, havia sido arremessada de um caminhão pelo seu parceiro. A confusão de informações ocorreu porque o Sinan registrou como acidente o caso que, nos prontuários médicos, era claramente um homicídio.
Fonte: Olhar Digital