Regionais : Marina tem um novo desafio domar um saco de gatos no PV
Enviado por alexandre em 10/10/2010 15:35:45



As derrotas não têm todas a mesma cara. Ao candidato derrotado o que interessa, para saber se valeu a pena o esforço de campanha, cabe numa indagação: ele saiu da eleição maior ou menor do que entrou? Marina Silva pode dizer tranquilamente que saiu das urnas do dia 3 com outro tamanho.

Beleza. O que parecia ser o mais difícil, Marina conseguiu. Só que o triunfo foi tão expressivo que agora Marina tem diante de si uma nova e urgente tarefa, sem a qual seus planos de manter-se como uma referência na política brasileira podem sofrer um baque: tem que domar um saco de gatos chamado PV. Precisa virar, pelo menos neste momento, uma espécie de liderança inconteste.

Na campanha, para além dos 19 milhões de votos, Marina teve outros triunfos a contabilizar. Driblou temas que no início pareciam que a empurrariam para um gueto: por exemplo, o debate sobre o criacionismo (e o seu eventual ensino nas escolas) e, consequentemente, a submissão da de suas políticas às questões religiosas.

Mais: como num equilíbrio perfeito, além de não ter perdido votos por causa disso, manteve e ampliou o dos evangélicos.

Marina Silva também conseguiu fugir da armadilha monotemática. Incluiu, como era de se esperar, a temática verde em seus discursos e propostas, mas deixou espaço para falar de segurança, habitação, saúde etc. – não se está analisando aqui se eram ideias consistentes ou meros estandartes vazios, mas o fato de Marina ter abraçado outros assuntos. E, tão importante quanto, Marina saiu da campanha sem qualquer acusação relacionada à ética ou corrupção.

Agora, Marina precisa pensar no futuro. Como agir para manter e ampliar esse capital eleitoral para 2014? Como fazer para não virar uma espécie de Ciro Gomes ou Anthony Garotinho de saias? Em 1998, Ciro alcançou 11% dos votos. Repetiu o resultado em 2002. Hoje, depois de uma série de erros estratégicos, é apenas um político sem mandato que perdeu o bonde da história e faz um bico como “coordenador da campanha de Dilma no Nordeste”.

Garotinho conseguiu impressionantes 18% quando candidatou-se a presidente. Assim como Ciro, viu seu capital político derreter nos últimos anos. Foi eleito hoje o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro – quase nada para o tamanho de suas ambições.

Assim como saiu maior dessa eleição, Marina também ficou maior do que o Acre. Por isso, agora que não tem mais mandato de senadora, após dezesseis anos, irá fixar-se em São Paulo ou no Rio de Janeiro.

Numa dessas duas cidades, Marina usará um veículo certo para pilotar sua carreira política até a próxima eleição. Ficará à frente de uma ONG, a IDS (Instituto Democracia e Sustentabilidade), e com ela rodará o país, em campanha permanente – ainda que o road show não leve oficialmente o nome de campanha.

O que o entorno de Marina planeja para ela é um caminho semelhante ao trilhado por Lula. Derrotado três vezes, Lula continuou rodando o Brasil mesmo derrotado e, afinal, chegou lá. Há, no entanto, uma diferença fundamental entre os dois: Lula sempre teve um partido para sustentar suas ambições.

E o PV? Bem, o PV é ainda uma colcha verde de retalhos. Cabe de tudo do partido — tudo de ruim, inclusive. Marina terá que trabalhar duro para também tomar as rédeas do PV – assim como tomou as de sua campanha, que foi feita por uma turma à parte do comando do partido.

Na semana que se inicia, Marina terá o seu primeiro embate de verdade com o PV. Marina quer a neutralidade no segundo turno. Parte expressiva da cúpula do partido prefere apoiar José Serra em troca de cargos – assim como alguns diretórios regionais inclinam-se por Dilma pelos mesmos motivos.

Na semana passada, os primeiros ruídos das posições divergentes foram ouvidos. Nada que ainda não possa ser contornado. Como será resolvido o imbróglio? Com que conseqüências?

Já nos próximos dias se saberá se Marina está conseguindo administrar o capital surpreendente que tirou das urnas.

Por Lauro Jardim

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