Ter a possibilidade de ser anônimo e se exibir ao mesmo tempo é um dos prazeres que move os adeptos do zentai. O fetiche consiste em usar uma roupa feita de elastano que cobre o corpo inteiro, dos pés à cabeça.
O traje surgiu no Japão, como parte do figurino de performances de dança e teatro, e vem ganhando adeptos pelo mundo, inclusive no Brasil. No programa Amor & Sexo, da Rede Globo, a apresentadora Fernanda Lima chegou a ter um assistente de palco chamado Zentai, caracterizado com as típicas vestimentas colantes.
Nero Salazar, alter ego de Pedro (nome fictício), 21 anos, morador do Rio de Janeiro, teve sua primeira experiência com o zentai há quatro anos e diz que, além do anonimato, gosta do seu visual quando veste o traje. "O prazer é de se conhecer, esquecer seus defeitos físicos e imaginar que eles fazem de você algo único, perfeito", explica ele.
Pedro diz que está um pouco acima do peso, o que se torna menos perceptível com o zentai. "A malha modela o corpo e me dá uma aparência de homem parrudo. Eu me sinto mais sexy", explica Pedro, também criador da página Zentai Morph Brasil no Facebook.
O aspecto estético do fetiche também é relevante para os integrantes do Tokyo Zentai Club, que existe há cinco anos no Japão e reúne 125 membros. O grupo participa de eventos, sessões de fotos e encontros. "O corpo fica bonito com o zentai e há muitas variações de cores e estilos de tecido, o que pode ser bastante elegante", afirma Seiwa Tamura, 37, um dos participantes.
Apesar da forma ser um atrativo importante para os praticantes do zentai, não é apenas essa característica que os seduz. Paradoxalmente, criar uma identidade secreta por meio da roupa permite ir além do físico no contato com os outros. "Ficar anônimo faz com que a gente seja uma pessoa diferente ou mais real", diz Tamura.
Para o psicólogo Diego Henrique Viviani, especialista em psicoterapia com enfoque na sexualidade e integrante do grupo de estudos e pesquisas do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade), uma das motivações para a prática é justamente ser reconhecido pelo que se tem a oferecer emocional e afetivamente, e não somente pela aparência. "A pessoa é notada, mas não identificada. E, por esse motivo, as sensações podem ser tornar mais intensas", acredita.
Mesmo que as relações sexuais nem sempre se efetivem entre os adeptos do zentai, o prazer e a sensualidade fazem parte do jogo. "O apelo sexual faz parte da brincadeira, mas há várias sensações e prazeres que são diferentes para cada um", conta o integrante do Tokyo Zentai Club.
"Seja qual for a motivação, o comportamento fetichista está associado a algum tipo de prazer sexual, mesmo que não envolva o coito", esclarece Diego Viviani.