Regionais : Lula: candidatura depende da reação de Dilma
Enviado por alexandre em 30/05/2015 21:02:59

Lula: candidatura depende da reação de Dilma

Da Folha de S.Paulo – Andreia Sadi e Marina Dias

Lula avisa a aliados que só concorrerá se tiver legado para defender

Petista afirma temer derrota como a que Brizola sofreu em 1994, quando perdeu até para o nanico Enéas

Preocupado com a crise política que atinge o governo de sua sucessora, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados que só terá condições de ser o candidato do PT nas eleições de 2018 se a avaliação da presidente Dilma Rousseff melhorar e ele tiver um legado para defender para seus eleitores.

Folha ouviu relatos de amigos que conversaram com Lula antes de seu último encontro com Dilma, na semana passada, em Brasília.

Segundo eles, o ex-presidente citou a derrota sofrida pelo ex-governador Leonel Brizola (1922-2004) nas eleições presidenciais de 1994, quando perdeu para o nanico Enéas Carneiro (Prona) e terminou em quinto lugar, para ilustrar o medo que tem de perder seu capital político em uma empreitada fracassada.

Segundo um interlocutor, Lula afirmou que não adianta pensar que o povo votará nele só porque decidiu se candidatar. Brizola era "Deus" nas eleições de 1989, mas em 1994 perdeu até para Enéas, disse Lula, que ficou em segundo lugar nas duas vezes.

O ex-presidente faz esse tipo de análise para pouquíssimas pessoas. Nas demais ocasiões, prefere usar o PT como sujeito. Costuma dizer que, se o governo não melhorar até 2018, será difícil para a sigla.

Segundo o petista, a população não vota por gratidão, olhando para o passado, mas, sim, de olho no futuro.

CAUTELA

Lula avalia que, caso o governo não esteja pelo menos com avaliação "regular" às vésperas de 2018, poderá ser necessário escolher outro nome no PT para disputar a Presidência. Interlocutores do ex-presidente afirmam que ele já apresentou esse diagnóstico à própria presidente.

Depois da reeleição de Dilma, em outubro do ano passado, Lula disse pela primeira vez aos mais próximos que seria candidato em 2018. A partir dali, o PT começou a tratar a candidatura como oficial.

No entanto, com o agravamento da crise que atingiu o governo, seu afastamento dos movimentos sociais na base petista e a queda da popularidade de Dilma, alvo de protestos desde a reeleição, Lula passou a reavaliar o cenário.

O ex-presidente espera que, após o lançamento do plano de concessões prometido pelo governo para 9 de junho, Dilma organize uma agenda positiva e melhore sua imagem desgastada.

Por outro lado, aliados dizem que Lula tem se colocado como o responsável pelo projeto petista e, por esse motivo, a possibilidade de ver seu legado terminar de maneira "melancólica" mexe com ele.

Por isso, dizem petistas, uma candidatura de Lula diante de um cenário ruim é bem difícil mas, avaliando pesquisas de intenção de voto diante de um contexto político e econômico "regular", ele pode apostar novamente. Procurado pela Folha, o Instituto Lula disse que não comentaria a reportagem.


Cunha não se importa em jogar sujo, diz jornal

"Um cristão evangélico que toca bateria e tem sido comparado a Frank Underwood, o ambicioso político de “House of Cards”, série do Netflix, vem abalando a política brasileira desde que foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, há quatro meses". É assim que começa o perfil do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) publicado no site do jornal americano “The Washington Post” (original em inglês aqui). A reportagem encerra dizendo que a "política brasileira é um jogo áspero e que Eduardo Cunha não se importa jogar sujo para ganhá-la". 

De acordo com a matéria, Cunha “não apenas balançou o governo de alianças da Presidente Dilma Rousseff, no qual seu partido é supostamente o aliado mais importante. Suas ações ameaçaram inviabilizar a coligação meses após o começo do segundo mandato da presidente, levando a uma série de revoltas que abriram feridas nas frágeis alianças”.

O jornal americano citou as votações dessa semana para mostrar como Cunha trabalha: “Uma comissão do congresso trabalhou por mais de três meses nas propostas que foram jogadas fora depois que o deputado convidou alguns líderes de partidos para almoçar em sua casa e foi decidido que as medidas seriam votadas diretamente no plenário cheio”.

José Álvaro Moisés, cientista político da Universidade de São Paulo (USP), descreveu para reportagem do site do Washington Post o momento da política brasileira como um divisor de águas. "A oposição não está cumprindo bem o seu papel. Então esse espaço está sendo ocupado pelo PMDB", disse.

Segundo a publicação, o PMDB tem planos de desafiar o PT nas eleições presidenciais de 2018 e, com o Congresso agressivo que vem controlando com a presidência das duas casas, está mudando o equilíbrio de poder no Brasil. "O legislativo também quer definir a agenda do país", disse.

O jornal ressalta que críticos chamaram Cunha de perigoso, retratando ele como um operador político implacável e resiliente que dirige a Câmara dos Deputados de forma imperativa.

O jornal lembra ainda que Cunha recebeu doações da Camargo Corrêa, uma das construtoras investigadas na Lava-Jato, na campanha de 2010, e que a senha do computador dele na Câmara foi usada para fazer um requerimento com pedido de informações a uma empresa suspeita de pagar propina a políticos com dinheiro desviado da Petrobras.

De acordo com o depoimento ao jornal de Rodrigo Motta, professor de história da UFMG e autor de livro sobre o PMDB, o presidente da Câmara não tem ideologia. "Ele não tem nenhuma ideologia. A sua ideologia é a do poder", disse Motta à reportagem do Washington Post.


Coluna do sabadão

Coligações salvam nanicos

Nem distritão, o chamado voto majoritário, nem tampouco proibição às coligações proporcionais. Na discussão e votação da reforma política, a Câmara dos Deputados manteve uma postura conservadora e não fez nenhum tipo de mudança no sistema eleitoral para as eleições municipais do ano que vem.

O atual sistema proporcional acaba cometendo injustiças, porque um candidato a deputado ou vereador filiado a um grande partido pode ter uma expressiva votação e não se eleger, enquanto um representante de uma legenda nanica, obtendo um percentual de votos bem menor, acaba atropelando os grandes, conquistando um mandato pelo chamado voto de legenda.

Em resumo, hoje os votos de todos os candidatos de um mesmo partido ou coligação são somados. Se o partido ou coligação atingir uma vez o quociente eleitoral — que é o número mínimo de votos necessários, raramente alcançado por um candidato só —, leva uma cadeira no parlamento. Se atingir duas vezes, leva duas, e assim por diante. Quem ocupa essas vagas conquistadas, aí sim, são os mais votados do partido.

Na verdade, o fim das coligações teria como consequência acabar com a "indústria" de partidos nanicos que, durante as eleições, tornam-se meras legendas de aluguel ao aliar-se a outras agremiações para negociar tempo de televisão e cargos. No entanto, com um número recorde de 28 legendas na Casa na atual legislatura, das quais muitas seriam prejudicadas, o projeto não conseguiu maioria necessária - recebeu 206 votos favoráveis, sendo que o mínimo era de 308.

Durante a votação, os partidos de menor peso, como representantes do bloco comandado pelo PRB, com nove legendas e 38 deputados, fizeram um apelo contra o fim das coligações. "É muito fácil defender a medida gastando fortunas nas eleições. Quero ver gastar pouco e gastar sola de sapato", disse o deputado Edson Moreira (PTN-MG). "Temos de garantir a liberdade de associação partidária", discursou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

 Deputados contrários às coligações destacaram a quantidade de partidos no Brasil - atualmente são 32 - para questionar a necessidade deles, que sobrevivem às custas do dinheiro público do fundo partidário. "Nós somos contra coligação e contra carona. Política é para ter voto e ter representatividade nesse Parlamento", afirmou o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA).

"As coligações proporcionais viraram um instrumento de perda de qualidade no sistema político-decisório brasileiro. Você vota em 'a' e elege 'z'. O eleitor é induzido ao erro", disse o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG).

CLAÚSULA– Os deputados também aprovaram a cláusula de desempenho segundo a qual o acesso dos partidos aos recursos do Fundo Partidário e a tempo gratuito de rádio e TV dependerá da eleição de, ao menos, um representante em qualquer das Casas do Congresso. O partido também deverá ter concorrido com candidatos próprios à eleição para a Câmara. Esse texto faz parte do relatório inicial do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a reforma política, gerando uma grande frustração.

Reforma: piorar o que já está ruim

Blog do Kennedy

A votação da primeira rodada da reforma política mostra que as mudanças aprovadas tendem a piorar o que já está ruim.

O financiamento eleitoral é um exemplo disso. A Câmara aprovou, em um primeiro turno, a inclusão na Constituição das doações de empresas a partidos políticos. A medida será votada mais uma vez pelos deputados e depois, se aprovada, seguirá para o Senado.

O fim da reeleição para cargos executivos foi votado de forma abrupta. É uma alteração muito importante para ser feita sem maior reflexão.

A tendência é o Senado também acabar com o mecanismo. Portanto, poderá ser a reforma do fim da reeleição, criada em 1997, há menos de 20 anos


Coerentes na incoerência

Carlos Chagas

Para proteger as galinhas, o cidadão trancou o galinheiro com cadeado. No dia seguinte, entregou a chave para a raposa. Nenhuma imagem definirá melhor o que se passou na Câmara,  terça e quarta-feira. Num dia os deputados votaram a proibição de as empresas doarem dinheiro para as campanhas eleitorais. No outro, aprovaram as doações das empresas para os partidos políticos financiarem as campanhas dos  candidatos.

Melhor fechar a extinta Casa do Povo. Pelo menos, deixar que o Supremo  Tribunal Federal legisle contra a corrupção. Hoje os empreiteiros amanheceram em festa. Os banqueiros também. E outros empresários. Todos garantiram seus investimentos até o final do  século. Basta que cada  um escolha o seu parlamentar, adiantando-lhe recursos para comprar um mandato nas próximas eleições.  Depois, será exigir   a compensação através de emendas, de leis, facilidades e benesses.  A Câmara acaba de decretar a  República dos Contrários. No espaço de 24 horas votou contra e a favor.  Claro que vai prevalecer  a doação desenfreada. Não se votará teto algum.

O pior nessa história de horror é que a imensa maioria da Câmara apoiou a segunda  proposta. Eduardo Cunha e Celso Russomano puxaram a fila, mas não se exime culpa de ninguém.

Na mesma quarta-feira da aprovação de doações empresariais, a Câmara extinguiu o princípio da reeleição para presidentes da República, governadores e prefeitos, por 452 votos a 19. A Constituição exige outra votação. A dúvida é se Suas Excelências da próxima vez votarão em massa pelo segundo mandato. Estariam, ao menos, sendo coerentes na incoerência.

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