Regionais : Guerra de um homem só
Enviado por alexandre em 19/07/2015 21:03:12

Guerra de um homem só

Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo

A declaração de guerra de Eduardo Cunha lançou uma pergunta que pode definir o futuro do governo. Afinal, o PMDB vai abandonar a presidente Dilma Rousseff?

É cedo para responder, mas os primeiros sinais não foram bons para o presidente da Câmara. Minutos depois de ele anunciar seu rompimento com o Planalto, o partido informou à praça que continua na base aliada.

Em nota redigida por Michel Temer, a sigla classificou o rompante do deputado como a mera "expressão de uma posição pessoal". Uma decisão coletiva, esclareceu o vice, só poderia ser tomada "após consulta às instâncias decisórias do partido".

Tido como aliado fiel de Cunha, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, também evitou endossar sua radicalização. Cauteloso, tratou a fala como "posição expressa de forma pessoal" e acrescentou que a bancada debaterá o tema em agosto, após o recesso parlamentar.

O presidente do Senado, Renan Calheiros, foi mais um a deixar o deputado falando sozinho. Desmarcou uma entrevista e deixou o Congresso por uma porta lateral, em silêncio.

O PMDB comanda nada menos que sete ministérios no governo: Minas e Energia, Agricultura, Turismo, Pesca, Portos, Aviação Civil e Assuntos Estratégicos. Além disso, controla centenas de cargos em estatais, autarquias e superintendências.

Para se juntar à cruzada contra o Planalto, os peemedebistas teriam que abrir mão de todas as verbas e benesses. Seria uma guinada brusca para a sigla, escorada há mais de duas décadas na máquina federal.

Alvejado pelo delator Julio Camargo, que o acusou de cobrar propina de US$ 5 milhões, Cunha também termina a semana abandonado pela oposição, que apoiou sua escalada como tática para desgastar o PT.

Perito na arte de retaliar adversários, o presidente da Câmara conserva os poderes do cargo e ainda pode mobilizar sua tropa contra o governo. Até aqui, no entanto, parece ter iniciado uma guerra de um homem só.


Os azares desta vida

O escritor francês André Maurois dizia que "tais são os azares da vida que todo acaso se faz possível". O presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski, é do tipo que atravessa a rua para pisar numa casca de banana do outro lado. 

Quando o Supremo aceitou a ação penal do Mensalão, ele foi jantar num restaurante e falou por celular com seu irmão. Disse que a tendência era amaciar para José Dirceu mas que todos votaram com a faca no pescoço, acuados pela imprensa. Na mesa ao lado, uma boa repórter que Lewandowski não conhecia, Vera Magalhães, da Folha de S. Paulo, anotou tudo e tudo publicou. Desta vez, ele estava em Coimbra, e soube que o avião de Dilma, em vez de fazer escala em Lisboa, por acaso desceria no Porto. Viajou então uns 130 km e, no Porto, se encontrou por acaso com a presidente. Sigilo total. Ou quase total: o repórter Gérson Camarotti, de O Globo, soube do encontro e o divulgou. Os dois presidentes, da República e do Supremo, explicaram que a conversa tinha sido apenas sobre o aumento dos servidores do Judiciário. Então, tá. 

Poderiam ter conversado em Brasília, onde um trabalha a pouco mais de cem metros do outro, e sem precisar do sigilo.(Carlos Brickmann)


Cortou o barato

Michel Temer deu um corte em Eduardo Cunha na quinta-feira passa, ao ouvir do presidente da Câmara que a próxima vítima do tal complô de Rodrigo Janot e do Planalto seria o vice.

Rebateu Temer:

“Impossível, Eduardo, porque eu sequer conheço qualquer um desses delatores que estão te atacando”.

A definição usada na cúpula da Procuradoria-Geral da República para a delação premiada do lobista Júlio Camargo em que atira no presidente da Câmara é forte. Diz-se lá que Camargo “entregou a cabeça de Cunha sangrando numa bandeja

Os responsáveis pela segurança de Dilma Rousseff têm deixado de prontidão, escondido atrás do Palácio do Planalto, pronto para entrar em ação, um desses veículos da tropa de choque do Exército, equipado com armas de combate a distúrbios civis, como canhões de água e outros instrumentos.

Em tempos de revolta de Eduardo Cunha, pode ser que se faça necessário.  (Lauro Jardim – Veja Online)


Entre Floriano Peixoto e Eduardo Cunha

Carlos Chagas

Eduardo Cunha rompeu com a presidente Dilma, mais ou menos como  Floriano Peixoto desligou-se de Deodoro da Fonseca.   Passou-se para a oposição, como afirmou sexta-feira. Significa o quê, essa declaração? Nada, como deputado federal pelo Rio de Janeiro.  Mas tudo, como presidente da Câmara, capaz de dar início à  abertura de processo  de impeachment de Madame, já protocolado por um grupo parlamentar.  Porque o Cunha de  verdade é o presidente, mil vezes mais potente do que o deputado. Deixou de ser um entre 513 ao ser  eleito para dirigir os trabalhos dos  representantes do povo. Claro que perdeu apoio no próprio partido,  o PMDB, cuja maioria prefere  permanecer mamando nas tetas do governo, qualquer que seja seu chefe. Como também diminuiu-se ao não contraditar as acusações de corrupção pelo suposto  recebimento de cinco milhões de reais desviados dos cofres da Petrobras.

Mesmo assim, são muitas as armadilhas que  poderá antepor ao Executivo.  Na prática, por simples questão aritmética, chefia o  Legislativo, acima e além do dispositivo constitucional que dá ao presidente do  Senado a presidência do Congresso.  Depende dele obstar a votação de projetos do interesse do governo, assim como fazer aprovar obstáculos  capazes de emperrar a máquina administrativa federal.

Eduardo Cunha está convencido de partirem de Dilma as escaramuças agora  transformadas em conflito  com o palácio  do Planalto. Inovou, na presidência da Câmara, retirando do arquivo projetos de interesse nacional. Fazendo discutir e votar a reforma política, apesar dos pálidos resultados, balançou as estruturas  institucionais do país.

A pergunta é sobre que dividendos pretende tirar da agressiva postura agora adotada. Tornar-se candidato do PMDB à presidência da República  em 2018?  Não dá, pois  conhecido apenas  em  Brasília, a maioria do eleitorado nacional ignora se é beque do Flamengo ou pastor da Igreja dos  Amigos de Plutão.   

A estratégia  de Eduardo  Cunha é outra:  promover ainda este ano a ebulição final impulsionada pela crise econômica  e gerar o impeachment da presidente da República e de seu vice e correligionário,   Michel Temer, pois é o terceiro   na  linha sucessória, mesmo limitado a convocar novas eleições em sessenta dias.  Aqui as coisas poderiam enrolar, lembrando  Floriano Peixoto, que deveria mandar  realizar eleições após a  renúncia de Deodoro  da Fonseca e  governou por  todo o  primeiro  mandato republicano, com  o respaldo  da Câmara dos Deputados.  O Marechal de Ferro apoiava-se no Exército. O Cabo de Palha, na indiferença nacional.

Eduardo Cunha obteve sucesso em todas as suas artimanhas, até agora. Sacrificar a Constituição não lhe custará nada, se para  tanto tiver disposição de uns e   desinteresse  de outros.

PT quer acareação entre Cunha e o lobista

O rompimento político do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o governo da presidente Dilma Rousseff atiçou os ânimos dos parlamentares, tanto de aliados quanto de adversários do peemedebista. O deputado federal Henrique Fontana (PT-RS) adiantou que irá pedir à CPI da Petrobras a realização de uma acareação entre Cunha e o consultor Julio Camargo, que por meio de delação premiada afirmou que o parlamentar recebeu US$ 5 milhões em propinas. Já o pastor Marcos Feliciano (PSC-SP) pediu a expulsão do partido do correligionário e vice-líder do governo na Casa, Sílvio Costa (PE), em função de ter pedido o afastamento de Cunha da presidência da Câmara enquanto durarem as investigações.

Segundo o jornal O Estado de São Paulo, ao tomar conhecimento da intenção de Fontana Cunha afirmou que "da minha parte, nenhum problema em acarear com quem quer que seja". Irado, ele disse, ainda, que "ele (Henrique Fontana) deveria aproveitar e, além de requerer essa acareação, deveria também requerer as acareações de Mercadante (ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante) e Edinho (ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva) com Ricardo Pessoa e até da Dilma com Youssef, que também falou na sua delação que ela sabia", disparou. Mercadante, Edinho e Dilma foram citados em depoimentos feitos pelo doleiro Alberto Youssef.

Segundo Fontana, o requerimento pedindo a acareação de Cunha com o lobista Julio cargo será feito logo após o fim do recesso parlamentar. Segundo o petista, o pedido de acareação é fruto de uma iniciativa pessoal, sem nenhuma vinculação com o Planalto. "É uma decisão minha", destacou. Na sexta-feira, o governo tentou minimizar os efeitos das declarações de Cunha, além de barrar a iniciativa de Sílvio Costa de pedir o afastamento do peemedebista da Presidência da Câmara.

Do outro lado, o pasto Marcos Feliciano cobrou que o PSC puna Sílvio Costa com sua expulsão do partido. "Solicito que estude uma medida disciplinar com expulsão do partido contra o deputado Sílvio Costa", disse Feliciano no requerimento sobre o assunto assinado nesta sexta-feira. Segundo o pastor, O correligionário se comporta de "maneira espetaculosa" e que uma "posição dessa natureza jamais pode ser manifestada individualmente por um parlamentar, contrariando a posição da direção do partido, incorrendo, a meu ver, em infidelidade partidária".


Escrevem torto por linhas certas

Carlos Brickmann

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, está correto ao anunciar investigações sobre o BNDES e os Fundos de Pensão: se há dúvidas sobre seu funcionamento, é papel do Congresso investigá-las. Pena que Cunha não faça isso por convicção, mas para vingar-se do Governo, que tentou barrar-lhe a eleição para a Presidência da Câmara, e a quem acusa de insuflar a Procuradoria Geral da República a pedir investigações contra ele. É ótimo que a Procuradoria investigue tanto Cunha quanto o presidente do Senado, Renan Calheiros; pena que, para a Presidência, isso funcione para tentar moderar a oposição de ambos ao Governo.

Deixemos claro, impeachment é medida prevista na legislação. Por mais transtornos que cause, é lei, não é golpe. Mas vamos combinar que é preciso primeiro encontrar um fato que possa levar ao impeachment para depois invocá-lo. Decidir primeiro o impeachment e depois procurar o fato gerador é um erro.

Cabe ao Senado aprovar ou rejeitar o procurador-geral indicado pela presidente. Mas não cabe ao Senado ameaçar Janot de rejeição para vingar-se das investigações contra Renan Calheiros e das ações contra senadores do início da semana. É verdade, também, que o espetáculo para a TV da apreensão dos carros de Collor não era necessário para as investigações. Se bem que, como disse o jornalista Sandro Vaia, "se Collor repudia com veemência, coisa ruim não deve ser". 
Deus, reza o provérbio, escreve certo por linhas tortas. Escrever errado por linhas certas não é coisa de Deus, mas de seu grande inimigo.

Para boa parte dos políticos brasileiros, e para tristeza de boa parte dos cidadãos, aqui até as coisas boas são feitas por motivos errados.

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