Praias são cartões postais de uma cidade. A praia de Del Chifre, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife, entretanto, espanta muitos banhistas. Toda sua extensão está imunda. Um lixão de uma ponta a outra. Plástico, garrafa, pneu, roupas, sapatos, inclusive um rato foi avistado entre os dejetos. Pescadores contam que vez ou outra aparece a carcaça de algum bicho. Quem conhece o local diz que o problema não é de agora. A praia fica próxima dos Rios Beberibe e Capibaribe e recebe os dejetos lançados dos canais. O período de inverno, quando há as fortes chuvas, é quando a situação fica ainda mais gritante. Alguns moradores da área, da Ilha do Maruim, parecem não se incomodar muito com as condições da praia. Mesmo com a visível sujeira, eles continuam passeando por lá, tomam banho e surfam. Também não há qualquer aviso sobre o tema que alerte a população. A única placa na praia adverte sobre as fortes correntes e pede que, por conta disso, as pessoas mantenham-se fora da água. Desde 1974, a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) realiza um monitoramento da qualidade das praias de Pernambuco. Semanalmente, o órgão divulga as praias impróprias para banho. A praia de Del Chifre, porém, não é analisada. A assessoria da CPRH disse que o trecho não é monitorado, mas que os pontos são selecionados com base em estudos técnicos. Para muitos pescadores, Del Chifre ainda é fonte de sustento. Para o pescador Severino de Oliveira, de 74 anos,os resíduos prejudicam bastante. “Dá pouco peixe. Só peguei um até agora. A sujeira atrapalha porque às vezes o peixe vai engolir a isca lá mas a sujeira atrapalha, ele solta e vai embora”, lamenta. Dioclécio Francisco, 61, também é pescador e mora na Ilha do Maruim há quase 40 anos. Ele explica que a situação tem piorado. “Aqui onde a gente mora, quando a maré estava cheia, o peixe vinha parar aqui. A gente pegava tudo aqui, hoje em dia não pega mais”. Há três peixarias próximas à praia. Elas vendem o que é pescado ali perto. O comerciante Jaime Francisco de Lima, 50, proprietário da Peixaria do Jaiminho, nota que a poluição é prejudicial para os negócios. “E isso também é ruim para o pescador, que pega micróbio com essa água, isso é ruim para o marisqueiro que se senta perto da lama, é ruim para o meio ambiente, é ruim para tudo”, conclui. De acordo com a dermatologista do Hospital do Câncer, Dra. Merciene Mendes Rodrigues, o lixo acumulado na água e na areia pode gerar uma série de malefícios.
“Pode haver infecção da pele; infecções em órgãos internos; reações alérgicas no contato com o lixo, com bactérias; além de vírus e fungos”, detalha a especialista. Um cachorro foi flagrado na areia. As fezes dos animais também são prejudiciais. O ambientalista Clemente Coelho, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), participou dos estudos do arquivado Projeto Urbanístico Recife-Olinda, de 2006. Ele foi um dos responsáveis por analisar se a praia de Del Chifre poderia voltar a ser atrativa. “Notou-se que, independente da direção do vento, a correnteza seguia derivando no sentido Norte. A praia de Del Chifre, então, recebe tudo que sai pela boca da bacia portuária”, resume Coelho. Ou seja, enquanto houvesse lixo no Rio Capibaribe e Rio Beberibe haveria lixo naquela orla de Olinda. A conclusão que o estudo teve para que houvesse uma solução foi de que seria preciso investir no saneamento básico, estimulando o investimento na área e melhorando a coleta do lixo. Isto não ocorreu. Através de nota, a Prefeitura de Olinda informou que a limpeza da praia é feita, no mínimo, uma vez por semana. A próxima manutenção está agendada para a semana que vem, dia 28 de julho.
A reportagem também perguntou a prefeitura se Del Chifre é imprópria ao banho e se há algum projeto para mudar esta situação, mas não houve resposta a esses questionamentos. Por enquanto a praia segue sendo utilizada de modo improvisado, com banhistas e surfistas se misturando com o lixo. No canal que separa a Ilha do Maruim de Del Chifre, crianças continuam entrando descalças. “Aqui só vem para a praia, no final de semana, pobre. Porque rico não vem aqui de jeito nenhum. O pobre que vai, toma um banho aí, toma uma cervejinha na praia, bota umas barracas, aí anima o negócio. Os ricos não tomam banho aqui, não ligam”, reflete o pescador Dioclécio. Diariamente, o catador Josenildo Vieira, 53, se mete no meio na imundice da areia, coletando plástico. Ele minimizou as condições da praia. “É bom, dá para ganhar um trocado. Uns 300, 350, 400, 500...”. (iG)