Se Confúcio não pode contar com o PT na ALE, por que mantê-lo no governo? Apenas no dia da eleição da mesa da Assembléia foi que se soube que o presidente regional do PT, Eduardo Valverde, estava blefando, presumivelmente numa tentativa de ficar bem na foto.
Por Paulo Queiroz - Tudorondonia, de Brasília
Depois do que ocorreu na Assembléia Legislativa neste 1º de fevereiro, ao governador Confúcio Moura não restará outra coisa a fazer senão exonerar todos petistas do seu governo. E quando precisar do PT rondoniense no lugar onde o Executivo normalmente necessita de aliados, tratar diretamente com quem pode socorrê-lo – com os que detêm votos. Senão vejamos:
Apenas no dia da eleição da mesa diretora da Assembléia Legislativa de Rondônia foi que se soube que o presidente regional do PT, o ex-deputado Eduardo Valverde, estava blefando, presumivelmente numa tentativa de ficar bem na fotografia. Confira o leitor.
Como chegaram a divulgar na véspera alguns veículos eletrônicos do pedaço, entre eles o “Tudorondonia”, o “Rondoniasim”, “Oobservador” etc., o governo havia jogado a toalha e caminhava para tentar alguma espécie de acordo com os articuladores da candidatura do deputado Valter Araújo.
Pelas informações de que dispunha o Palácio Presidente Vargas, politicamente, era, senão a melhor alternativa, seguramente o mais sensato a fazer. O que se pretendia era evitar o desgaste e, eventualmente, os traumas da humilhação de uma previsível derrota na hipótese de que o governo decidisse partir para o confronto. Pelas contas do Palácio, tornara-se praticamente impossível reverter o processo.
Foi quando aos articuladores palacianos chegou a mensagem com uma proposta a partir da qual valeria a pena um derradeiro esforço para tentar a salvação da lavoura: Eduardo Valverde havia ligado e assumira o compromisso de garantir os votos dos três deputados petistas – Hermínio Coelho, Epifânia Barbosa e Ribamar Araújo -, desde que o deputado jesualdo Pires (PSB), a opção tardia do governo no processo, reunisse outros 10 apoios.
Não deu tempo para confabulações mais demoradas. Entrevisto o sinal de luz no fim do túnel, após cálculos apressados e confirmação de probabilidades favoráveis, os articuladores palacianos trataram de cair na capoeira para tentar a missão quase impossível. Àquela altura, as próprias estimativas oficiais contabilizavam 18 intenções de voto na postulação do petebista Valter Araújo. Para se ter uma idéia das dificuldades que se teve de transpor, coube ao ex-prefeito de Porto Velho e atual primeiro suplente do senador Valdir Raupp (PMDB), Tomás Correia, localizar e trazer de volta ao ninho antigo a ovelha desgarrada Edson Martins (PMDB), de quem se sabia fechadíssimo com as forças oponentes, até porque com lugar assegurado na futura mesa diretora da ALE, não obstante tido e havido como líder do governo.
Martins terminaria por ser localizado em Manaus, numa espécie de estância de pesca. Ao contrário do que se andou propalando, não estava na companhia dos demais apoiadores de Valter Araújo. Desta vez, não houve o cogitado confinamento. Ao menos o coletivo. Aos que fecharam acordo com a postulação petebista, foi sugerido que, por precaução, se pusessem fora do alcance de propostas diversionistas. Cada um tomou um destino da sua predileção. O peemedebista escolheu pescar no Solimões.
Não deve ter sido fácil, mas quem conhece Tomás Correia sabe que, em missões dessa natureza, mesmo quase impossíveis, dificilmente se verá ele retornar de uma delas de mãos abanando. Com Martins não foi diferente.
Mas por aí se tem uma idéia do esforço que o governo teve que fazer para atingir a cota exigida por Valverde como condição para garantir os três votos do PT no candidato governista. Atingiu. O governo pensou ter amanhecido o primeiro dia de fevereiro com a ALE na algibeira. Durou pouco.
O tempo de estabelecer os primeiros contatos diretos com os titulares propriamente ditos dos votos prometidos por Valverde. “Sei dessa história não”, retrucou cada um deles, sucessivamente, sempre que alcançado por um telefonema governista.
Que Valverde blefara, não restava dúvida. Mas custou a cair a ficha para saber com que propósito. Para encurtar a conversa, aos palacianos, ficou a impressão de que o dirigente petista apostara no insucesso governamental ao tentar reunir os 10 apoios por ele exigidos como condição de garantir os votos da bancada. Ou, mais provável ainda, teria apostado em que o Palácio sequer tentaria.
De modo que, ao fim e ao cabo, Valverde poderia dizer que só não entregara a mercadoria que garantiria a vitória na ALE porque o governo não conseguira fazer a sua parte. Deu xabu.
Quando ficou claro que os deputados petistas estavam mais era se lixando para os eventuais devaneios disciplinares da direção do partido, dois dos 10 titulares de votos que o governo conseguira reverter decidiram voltar para o lugar de onde não deveriam ter pensado em sair.
Mas aí, ao governo, não sobrara mais a alternativa de evitar o confronto e a derrota anunciada. A um Edson Martins, por exemplo, não restava mais a chance de voltar para o lugar de onde fora tirado. Até porque o posto que lhe coubera originalmente na mesa petebista agora estava ocupado - ora, ora, ora – por um petista.
Conquanto próceres do PMDB já tivessem descoberto o logro petista desde as primeiras horas da manhã, não se sabe se o governador Confúcio Moura entrou na Casa de Shows Talismã feita plenário da ALE sabendo disso. Não faz sentido.
Para achar alguma coerência no fato de se ter ausentado em meio à solenidade, seria preciso supor que não tinha confirmada a viagem para Brasília quando entrou no recinto. Dificilmente teria entrado lá se soubesse que teria de sair em meio à cerimônia, dando margem às mais desconfortáveis interpretações.
O certo é que, pelos manuais mais elementares da política, ao governador Confúcio Moura parece não restar escolha, senão exonerar os petistas do seu governo. A partir do momento em que o espaço que o PT ocupa no governo deixou de garantir a este o apoio político de que precisa, a legenda tornou-se peso morto.
Aos partidários do Chefe do Executivo, resta torcer para que os quadros do PT nomeados para a administração estadual não tenham sido indicados pelos deputados da legenda que se aliaram ao PTB na Assembleia. Pelo jeito, não teve nada a ver.
Desse modo, o Palácio Presidente Vargas poderá buscar legitimação no compartilhamento do Poder com quem pode, de fato, assegurar retorno político às demandas governamentais. Pelo que se viu, a direção do PT rondoniense é incapaz de garantir o que, de fato, interessa à governabilidade.
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