Atrás de um dos gols da Arena Corinthians, a torcida organizada Estopim da Fiel avisa em seu grito de guerra favorito que eles vão “explodir a arquibancada” e por um momento parece que estão falando sério porque tem fumaça por todo lado.
Mas no caso dessa noite fria em Itaquera, a fumaça que serpenteia ao céu em dezenas de pontos da torcida empresta ao ar seu cheiro agridoce de maconha.
É minha primeira vez na arquibancada da Arena e eu já sinto ela tremer. O Corinthians faz um gol aos 35 do segundo tempo; agora está vencendo o Cruzeiro de virada e avançando à final da Copa São Paulo de Futebol Júnior.
Os corintianos cumprem sua promessa e explodem na bancada, que balança como uma tábua bamba contra o vento.
A torcida canta uma música que eu talvez nunca tenha ouvido. Um cara ao meu lado, de olhos e garganta inflamados, pula sem controle. Quando me vê parado ali, me agarra com força pelos ombros e grita contra meus ouvidos: "Tem que cantar, porra!"
Digo que não conheço a letra e antes que ele consiga pensar numa resposta estamos sendo empurrados de um lado ao outro da arquibancada. Uma fila inteira de homens e mulheres agarrados pelos ombros se move aos saltos pra direita e depois em sentido oposto, numa coreografia que em alguns minutos já me deixa sem fôlego e um pouco tonto.
E então paramos. O cara se junta a outros amigos, que lhe oferecem a ponta de um baseado apagado. Ele diz que está satisfeito por hoje e guarda a ponta no bolso para acender depois. E volta a cantar, a pular, a gritar pelo Corinthians enquanto o Corinthians batalha em campo.
Na cultura secular das torcidas, as pessoas têm feito várias coisas enquanto assistem a uma partida de futebol.
Tem torcedor que canta, que pula, que fica o jogo todo em pé. Tem aquele que senta, pede pra sentar, acende um cigarro, bebe uma cerveja, rói unha, reza, balança faixa, bandeira, bate tambor, provoca, ofende, chama pra briga.
E tem aquele torcedor que gosta de fumar maconha.
Depois do jogo, na estação Corinthians-Itaquera do metrô, um deles gira a catraca e, extasiado, canta em voz alta
"Raro prazer, sabor de emoção
Fumar maconha e torcer pro Coringão"
Fonte: uol
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