Em ato Lula diz ser mais honesto que o juiz Moro
Folha de S.Paulo – Thais Arbex, Giba Bergamin JR. Cátia Seabra, Gustavo Uribe
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em ato na quadra Sindicato dos Bancários na noite desta sexta (4) que está "vivo", numa referência à disputa presidencial de 2018. "Cutucaram o cão com vara curta e, portanto, quero me oferecer a vocês", afirmou Lula.
"A partir de hoje, a resposta que posso dar é ir para as ruas e dizer: "estou vivo e sou mais honesto do que vocês".
Classificando a ação desta sexta-feira como uma "provocação banal e imbecil" e dizendo-se vítima de um "sequestro", Lula afirmou ser mais honesto do que o juiz Sergio Moro.
"Pode pegar o Procurador-Geral da República, pode pegar o doutor Moro, pode pegar o delegado da Polícia Federal e juntar todos eles. Se eles forem R$ 1 mais honestos do que eu, desisto da vida pública."
Lula chorou várias vezes diante de milhares de militantes do PT que lotaram a quadra do sindicato, no centro de São Paulo, num ato em homenagem a ele e contra as investigações da Operação Lava Jato.
O petista foi recebido sob aplausos e gritaria por volta das 20h30. Até a noite desta sexta, estimativa de público feita pelo Sindicato dos Bancários era de 5.000 pessoas. Lideranças do PT, incluindo o presidente do partido Rui Falcão e o prefeito Fernando Haddad, estavam presentes.
"Transformaram minha importância política à subordinação a empresas envolvidas na Lava Jato."
Lula afirmou também que se quiserem o derrotar, terão de o "enfrentar nas ruas desse país".
"Quero comunicar aos dirigentes que estão aqui que, A partir de segunda-feira, estou disposto a viajar esse país do Oiapoque ao Chuí. Se alguém pensa que vai me calar com perseguição e denúncia, vou falar que sobrevivi à fome. Não sou vingativo e não carregou ódio na minha alma, mas quero dizer que tenho consciência do que posso fazer por esse povo e tenho consciência do que eles querem comigo."
"Se vocês estão precisando de alguém para comandar a tropa, está aqui."
CHORO
"Hoje é o dia da indignação para mim. Já sofri muito, fui preso quando era presidente do sindicato dos metalúrgicos, já perdi eleições. Em todas as vezes que sofri revés, me comportei como democrata", disse o ex-presidente, em meio a gritos de "olê, olá, Lula".
Lula disse ser vítima das elites e de manipulações midiáticas.
"No meu governo, os negros começaram a ser mais respeitados, a juventude da periferia também. As pessoas começaram a ter acesso à universidade. Os aposentados passaram a receber aumento real de salário, o salário mínimo aumentou e sei que isso incomodava as elites. Banqueiro ganhou no meu governo, mas os trabalhadores nunca ganharam como ganharam", afirmou.
O choro ocorreu nos momentos em que o petista falou sobre a ascensão social de negros e pobres, de quando recebeu minorias no palácio do planalto e quando mencionou a eleição de Dilma.
Ao final de seu discurso de quase uma hora, em que também se defendeu das acusações, declarou em tom de desafio: "cutucaram o cão com vara curta".
A manifestação serviu para divulgar também atos nos próximos dias 8, 18 e 31 de março.
Espalhadas pela quadra havia dezenas de faixas em protesto contra a nova fase da Operação Lava Jato na qual Lula e os filhos dele foram levados à Polícia Federal para prestar depoimento. "1964 nunca mais", dizia um dos cartazes.
A plenária tinha como mote a frase "não vai ter golpe", como os petistas estão chamando a possibilidade de impeachment de Dilma. Nos discursos, todos falavam de Lula como "reserva moral em defesa do povo".
DISCURSOS
O primeiro a discursar foi o senador petista Lindbergh Farias, que foi um dos líderes do "Fora Collor", em 1992.
"Acordei no dia de hoje indignado com o que estavam fazendo com o presidente Lula. Concluí nesta tarde que eles deram um tiro no pé. Mexeram com nosso presidente Lula" disse Farias.
"Eles acenderam a nossa militância. Para a Lava Jato, o PSDB é inatingível. Aecio Neves foi citado em três delações e não foi chamado para depôr", disse Farias, que também fez vários ataques à Rede Globo.
"O que aconteceu hoje foi desnecessário. Colocar centenas de pessoas para escoltar um homem? Escoltaremos da próxima vez. Estamos disponíveis para proteger o presidente. Não foi um ataque ao presidente, mas ao cidadão Luiz Inácio Lula da Silva" disse o prefeito Haddad.
O movimento teve apoio de centrais sindicais, movimentos sociais de moradia, educação e lideranças de partidos da base de apoio da presidente Dilma Roussef.
Além do presidente municipal do PT, Paulo Fiorilo, compuseram a mesa partidos da base aliada como PC do B, Vagner Freitas, presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Nivaldo Orlandi (PDT) e várias centrais de movimentos populares.
Fiorilo disse que haverá pelo menos dez plenárias para convocar a militância para "combater a tentativa de golpe".
"Querem ser governo, tentem em 2018. O tapetão deixa o Brasil nervoso. Botem a mão na consciência, golpistas. Não seremos derrotados com as mãos nos bolsos. Vamos fazer um processo democrático de combate ao golpismo", disse Vagner Freitas.
Karina Vitral, presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) acusou a mídia.
"Aqui está o povo que sabe muito bem o que está em jogo nessa delação premiada e na operação lava jato. Isso não é uma operação policial, é uma farsa midiática. Resistiremos nas ruas", disse Mitral.
Vergonha
Carlos Chagas
Nem se prendessem a Dilma ficaria pior. Porque a prisão do Lula, filhos e dirigentes de empresas a ele ligadas equivaleu, na manhã de ontem, à maior das vergonhas jamais registradas no Brasil. Preso ele já tinha sido, mas com honra, por haver liderado greve geral de trabalhadores em pleno regime militar. Daí, porém, a ser levado à representação da Polícia Federal no aeroporto de Congonhas, para explicar os recursos entregues sem prestação de serviços ao Instituto Lula, é olímpica a distância. Provas de que um ex-presidente da República tenha se beneficiado por receber dinheiro de empreiteiras, jamais havia sido evidenciado. Nunca governantes jamais foram liberados para agir como se tivessem liberdade para fazer do país o seu quintal. A acusação é de que, a pretexto de palestras e conferências pretensiosamente pronunciadas por ele, chegou a faturar 20 milhões de reais.
A ser verdadeira a acusação, concluir-se-á não ter limites a desfaçatez com que se avança sobre a coisa pública. Não tarda a se conhecer os limites de até onde o Lula considerou como sua e de seus familiares a propriedade coletiva.
Conduzido à prisão, mesmo por poucas horas, o ex –presidente acaba de destroçar a imagem do partido um dia tido como a esperança da redenção nacional. Leva com ele os companheiros, os filhos, e os empresários envolvidos mas, acima de tudo, apanha a sucessora. Madame não vale mais nada, como presidente da República. Mesmo que nada tenha a ver com as lambanças do antecessor, Dilma encontra-se umbelicalmente ligada a ele.
O espetáculo verificado no aeroporto de Congonhas, para onde o Lula foi levado, exigiu a presença da Polícia Militar de São Paulo. Não foi fácil evitar a confusão entre os militantes do PT, exasperados pela prisão do Lula, de um lado, e seus adversários, de outro. O grave foi e ainda é o choque.
Há quem suponha que essa inusitada ação da Polícia Federal se deu à demissão do ministro da Justiça, por muitos meses acusado pela
oposição de não conter o ímpeto da Polícia Federal contra o PT. Assim,o novo ministro teria decidido avançar sobre o partido, para demonstrar que não se intimida.
Ministro critica condução coercitiva de Lula
Segundo Marco Aurélio Mello, medida deve ser o último recurso para ouvir alguém
O Globo - André de Souza
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), criticou a autorização dada pelo juiz federal Sérgio Moro para que a Polícia Federal realizasse a condução coercitiva - quando a pessoa é obrigada a depor - do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Marco Aurélio afirmou que esse recurso só deve ser usado quando houver a recusa do intimado em comparecer, o que, segundo ele, parece não ter sido o caso.
— Eu só concebo condução coercitiva se houver recusa do intimado para comparecer. É o figurino legal. Basta ler o que está no código de processo — disse Marco Aurélio, acrescentando:
— Uma medida de coerção que deve ser o último recurso para ouvir alguém. Você hoje, por exemplo, é um cidadão e pedem que você seja intimado para prestar um depoimento. Em vez de expedirem o mandado de intimação, podem conduzir coercitivamente, como se dizia antigamente, debaixo de vara? |