Os deputados Dr. Neidson (PTdoB) e Jesuíno Boabaid (PTdoB) consideraram positiva a audiência pública realizada na tarde de sexta-feira (4) no Centro de Treinamento São José, da Igreja Católica, em Guajará-Mirim, para discutir a situação da saúde na região. No encerramento, foi assinado um termo de compromisso entre o governo do Estado, a prefeitura e a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa.
Ao final, Jesuíno disse que destinará R$ 100 mil de suas emendas parlamentares para a saúde de Guajará. Dr. Neidson pediu aceleração da liberação de suas emendas e anunciou que destinará recursos para a aquisição de mais três leitos semi-intensivos, para estabilizar o paciente a ser encaminhado à UTI.
Jesuíno Boabaid disse esperar que sejam fornecidas informações diretas sobre os repasses de recursos do governo do Estado ao município. “A corrupção no Brasil é muito grande. Temos o exemplo do Lula, que havia prometido que no Brasil não haveria pobreza e agora foi conduzido coercitivamente, acusado de corrupção”, acrescentou.
Ele pediu informações a Maiorquim (secretário adjunto de Estado da Saúde) sobre prazos para funcionamento do novo hospital de Guajará-Mirim. Perguntou também sobre o trâmite das emendas parlamentares, explicando que se o município não tiver condições de receber, terá que ser encontrada uma forma para que os recursos cheguem às prefeituras.
Após ouvir os inscritos, Dr. Neidson, que estava conduzindo os trabalhos, perguntou a Maiorquim o que pode ser feito de imediato pelo Hospital Regional de Guajará. O secretário disse que marcará a vinda, em regime de plantão extra, de cardiologista e ortopedista. “Esses plantões serão mantidos até a inauguração do novo hospital”, acrescentou.
Ele explicou que será disponibilizado um anestesista, desde que sejam marcadas cirurgias em um único dia. Para cirurgias de emergência, Maiorquim alegou que no momento não há como enviar anestesistas. Quanto às cirurgias eletivas, aquelas que podem ser marcadas, o deputado Dr. Neidson lembrou que não há como fazer alguns exames. O secretário disse que isso pode ser resolvido no caso de cardiologia.
Dr. Neidson explicou logo no inicio da programação que a Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa já ajudou a resolver diversos problemas no Estado, como em Jaru, onde o hospital agora está funcionando. “Isso é o que queremos em Guajará-Mirim, por isso estamos aqui”, afirmou.
A secretária Municipal de Saúde de Guajará-Mirim, Sâmia Melgar, começou a apresentar um relatório mostrando que os repasses encaminhados para a prefeitura não são suficientes para cobrir as despesas das unidades hospitalares.
O pronunciamento da secretária foi interrompido momentaneamente, porque um grupo de servidores da saúde que chegou à audiência pública portando faixas protestando conta a situação do setor. O grupo permaneceu em silêncio, mas o público aplaudiu e gritou.
Posteriormente Sâmia Melgar explicou que os poucos mais de R$ 300 mil encaminhados mensalmente para a prefeitura não cobrem os gastos com despesas para atendimento de alta e média complexidade, no Hospital Regional de Guajará-Mirim.
“Não temos vergonha de pedir ajuda. Não é incompetência administrativa, é falta de recursos financeiros”, disse a secretária. Sâmia Melgar disse que houve denúncias de que faltavam luvas e esparadrapos nas unidades de saúde. “Mas estive no hospital e encontrei caixas de luvas boas, e de esparadrapos jogados no lixo. Vamos fazer uma tomada de contas especial para apurar”, adiantou.
O cirurgião geral Wenceslau Luis, representando os médicos de Guajará-Mirim, disse que recentemente ficou com vontade de ir embora da cidade. “Eu vinha de Porto Velho, pois sou funcionário do João Paulo II, e o táxi que eu vinha atropelou uma pessoa. Eu levei para o hospital daqui e houve demora em atender, por parte dos funcionários. Eu tive que gritar, coisa que não é do meu feitio. Ele foi encaminhado para Porto Velho, depois, porque aqui não havia estrutura para o atendimento”, reclamou.
O médico Wenceslau Luis disse ser inaceitável o salário pago aos médicos em Guajará-Mirim, menor do que em Nova Mamoré. “Quem vai aceitar vir para cá? Meu vencimento bruto é de R$ 2.500,00. Com o quinquênio, chega a R$ 7.500,00. O dinheiro que vem para cá não é suficiente para atender a população. Não adianta querer culpar o prefeito Dúlcio Mendes (PT) e a secretária Sâmia Melgar”, afirmou.
O conselheiro Municipal de Saúde de Guajará, Marcos Roberto da Silva, pediu para que os demais conselheiros ficassem de pé, para que a população visse quem eles são. Ele disse que não está defendendo a gestão municipal, mas afirmou ser impossível fazer saúde sem recursos.
“O Hospital Regional é o gargalo que consome todos os recursos. A responsabilidade é do Estado. É o governo que deve fazer acontecer a saúde. Não temos condições de tocar o hospital. Olhem o nome: é regional. Não é municipal. Atendemos também os irmãos bolivianos. É inviável. O Estado deve assumir, deixando o município com a atenção básica”, acrescentou.
O presidente do Conselho Estadual de Saúde (CES), Raimundo Nonato Soares, disse que o primeiro passo para se fazer saúde pública é acabar com a corrupção no sistema. “Já houve caso de haver processo para construção de unidade hospitalar em distrito, tudo pago, bonitinho. Mas nada foi construído. Era só no papel”, destacou.
Raimundo Nonato disse que em Guajará-Mirim estão terceirizadas a maternidade e a pediatria. “Então como vai ter dinheiro? E vão devolver o Hospital Regional ao Estado? O Estado está construindo um outro hospital aqui. E só estou aqui hoje em respeito à Assembleia Legislativa, senão não estaria. Já tivemos que intervir no Conselho Municipal de Guajará-Mirim, que tem responsabilidade de discutir políticas públicas, mas ficam brigando entre eles. Tem que fiscalizar. Médico tem que cumprir horário, tem que fiscalizar”, detalhou.
Francisca Moraes da Silva disse que não há como fazer cirurgia em Guajará-Mirim, porque não há insumos para isso. “A situação do Hospital Regional é crítica, e não adianta culpar o prefeito”, disse ela, sob vaias do público. “O ideal é pedir aqui que o governo assuma o hospital. O povo está pedindo socorro”, afirmou.
A membro do Conselho Municipal de Saúde, representando o Sindsef, Eva Bezerra, destacou que a população menos favorecida é quem sofre, porque os mais afortunados vão a hospitais particulares. Ela parabenizou o deputado Dr. Neidson.
O representante da OAB em Rondônia, Francisco Sávio, disse que vidas foram salvas no município, por isso existe uma esperança. “Me desculpe quem pensa que o problema não é de gestão, não só em Guajará, mas no Brasil. O número de médicos aqui está diminuindo. Enquanto se discute de quem é a responsabilidade, pacientes estão morrendo. Vamos parar de brigar para ver de quem é a saúde e cuidar do doente”, acrescentou.
O representante do Conselho Regional de Farmácia, Ricardo Bones, citou que falta medicamento, anestésico, soro e seringa nas unidades hospitalares. Ele reclamou que a prefeitura proibiu que o conselho fiscalizasse os hospitais, alegando que neles não há farmácia.
“O conselho precisa fiscalizar, para verificar se existe rato de duas pernas roendo o almoxarifado em Guajará-Mirim. E pelo jeito existe rato de duas pernas, sim”, denunciou.
O vereador Cleber José Freitas (PTN) disse que a saúde no município é precária, e assegurou que a Câmara sempre fiscalizou o setor. “Mas tem gente que gosta de maquiar. Teve um caso de um medico dizendo que não operou um paciente porque não tinha recebido o salário. Isso não pode acontecer”, destacou.
O representante da Defensoria Pública no município, Vitor Miranda, colocou o órgão à disposição das pessoas que precisarem de intervenção para conseguir atendimento. “Muitas demandas são atendidas sem necessidades de acionar o Judiciário, e isso acontece de forma ágil e eficaz”, complementou.
O presidente do Conselho Municipal de Saúde de Guajará, Rivan Egues, disse que na cidade falta gestão. Segundo ele, alguns servidores têm descaso com a população. “Precisei levar meu filho para ser atendido e me disseram que se eu recorresse à Justiça e conseguisse uma liminar, talvez eu fosse atendido”, citou.
Ana Paula de Lima Carvalho, do Hospital Bom Pastor, disse que em Nova Mamoré pacientes são atendidos em um hotel. “Em Guajará, a maternidade foi para o Bom Pastor, senão iria para um hotel também. Desde então, foram feitos 998 partos, que não sei onde teriam acontecido se a maternidade não estivesse lá. Mas se assim for decidido, entregamos imediatamente a responsabilidade”, detalhou.
A assessora da deputada federal Marinha Raupp (PMDB-RO), Lurdes Maria, disse que as reivindicações serão levadas à parlamentar e também ao senador Valdir Raupp (PMDB-RO). “No momento que temos uma demanda, precisamos levá-la para a frente. Vejo pessoas interessadas em resolver o problema”, considerou.
Alan Erik Souza Barros, que explicou estar representando o povo, disse que viu o Legislativo Municipal colocar a culpa no Executivo, o Executivo colocar a culpa no governador e a saúde ficar na mesma. “Por isso fizemos um abaixo assinado dizendo que Guajará-Mirim também é Rondônia, e isso não é só na hora de pedir voto. Quando é eleição, eles vêm aqui comer farinha com o povo. E não adianta fazer um hospital novo, se não estão cuidando nem desse”, reclamou.
O prefeito de Guajará-Mirim, Dúlcio da Silva Mendes, foi chamado para falar, sob vaias. O deputado Jesuíno Boabaid pediu ao público que respeitasse a palavra do prefeito. “Vamos ouvir. Se depois vocês quiserem se manifestar, tudo bem. Mas vamos ver o que o prefeito tem a dizer”, solicitou.
Dulcio Mendes disse que o Hospital Regional de Guajará-Mirim precisa ser assumido pelo governo do Estado. “Reconhecemos o apoio que recebemos da Secretaria de Estado da Educação, mas não investimos mais na saúde e em outras áreas simplesmente porque não há dinheiro para isso”, explicou.
Ele disse que não há ambulâncias para transportar pacientes, citando que nesse caso Guajará-Mirim é atendido por Nova Mamoré. “Levantamos a bandeira do governador Confúcio Moura no segundo turno, e esperamos mais dele”, completou.
O secretário adjunto da Sesau, Luiz Eduardo Maiorquim, disse que sem planejamento e pouco recurso há o caos. “Com muito recurso e sem planejamento também há caos”, considerou. Ele afirmou que desde que assumiu o cargo, juntamente com o secretário Williames Pimentel, o governo tem ajudado Guajará-Mirim.
“Já vi que a prefeitura não tem condições nenhuma de receber o hospital que está sendo construído. Ninguém faz saúde pública entregando (hospitais) uns aos outros. Não é pegando um problema e colocando no colo de um governo ou de uma estrutura que a situação está solucionada. É preciso planejamento e gestão”, detalhou.
Ele disse não concordar com a alegação de que o hospital que está sendo construído é um elefante branco, citando que a obra não está esquecida. “Construir um hospital de mais de 7 metros mil quadrados é o reconhecimento da importância de Guajará. E foi o governador que foi em Brasília, com o senador Valdir Raupp e a deputada Marinha para conseguir isso”, destacou.
Maiorquim afirmou que o governador enviou insumos para Guajará, e que o governo mantém funcionários pagos pelo Estado à disposição do município. “E se precisar resgatar paciente com avião, a aeronave vem. Em 2015 gastamos mais de R$ 300 mil com transporte aéreo de paciente, com aeromédicos. E o valor gasto não importa, porque vida não tem preço”, acrescentou.
A advogada Cherislene Pereira de Souza, da OAB em Guajará-Mirim, disse que a saúde tem jeito no município. Ela agradeceu ao Dr. Neidson pela realização da audiência pública, dizendo que o deputado representa bem a Pérola do Mamoré.
O bispo Dom Benedito disse que foi procurado em 2013 pelo administrador executivo do Hospital Regional de Guajará-Mirim, pedindo uma parceria com a Igreja Católica. Ele queria que cedêssemos nossa cozinha, porque a do hospital estava comprometida e seria construída em três meses. Neguei a solicitação, dizendo que se eu fizesse isso a cozinha não seria construída em três meses.
Na ultima terça-feira eu estive lá. “A única diferença é uma modificação na parte onde entregam a comida. Gostaria que o secretário Maiorquim comunicasse ao governador que precisamos de apoio, e que diga que no rito da administração pública, quem não tem paciência são aqueles que dela precisam os pobres e os infelizes”, finalizou.
NILTON SALINA
|