Temer reconduzido à presidência do PMDB: mais 2 anos
Presidente do partido desde 2001, Temer foi candidato único em convenção. À frente de seis dos 31 ministérios, PMDB vive desgaste com Planalto.
Filipe Matoso, Nathalia Passarinho e Laís Alegretti - Do G1, em Brasília
Há 15 anos à frente do PMDB, o vice-presidente da República, Michel Temer, foi reconduzido ao cargo pelos próximos dois anos em convenção realizada em Brasília neste sábado (12).
Candidato único, Temer recebeu 537 votos favoráveis de um total de 559, segundo a secretaria-executiva do PMDB. 11 votos foram contrários à chapa, 6, em branco, e 5, nulos. Ao todo, 390 convencionais votaram, mas parte deles tem direito a votar mais de uma vez.
A recondução de Temer ao cargo ocorre em meio a um momento conturbado na relação entre o Palácio do Planalto e integrantes do partido. Na Câmara, por exemplo, parte da bancada vota de forma contrária aos interesses do governo e defende o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Na convenção do partido neste sábado, os temas que predominaram nos discursos dos peemedebistas foram a defesa do impeachment de Dilma, o rompimento com o governo e um maior protagonismo do PMDB na política nacional. Também foram ouvidos da plateia vários gritos de "Fora, Dilma" e "Temer presidente".
Embora o PMDB detenha seis ministérios atualmente, nenhum dos oradores inscritos para discursar na convenção defendeu o governo. Estavam presentes à convenção os ministros Hélder Barbalho (Portos), Marcelo Castro (Saúde), Eduardo Braga (Minas e Energia), Henrique Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), mas nenhum deles se manifestou em defesa do governo.
O próprio Michel Temer, desde o ano passado, se afastou ao Dilma ao enviar uma carta a ela na qual apontou desconfiança da petista em relação aos trabalhos dele. Na mensagem, ele disse sentir-se como um vice “decorativo” da presidente, o que gerou intensa repercussão política em Brasília. Neste sábado, no entanto, ao discursar, Temer mencionou a crise política “gravíssima” e disse que não é hora de “acirrar ânimos”.
“Não podemos ignorar que o país enfrenta uma gravíssima crise política e econômica. Mas não podemos deixar – e esta é a tarefa do PMDB – que os graves problemas comprometam os ganhos sociais alcançados nos últimos tempos”, disse Temer.
Na convenção, o PMDB também decidiu que não irá assumir novo ministério até que se defina, em até 30 dias, se a sigla deixará o governo e se tornará independente. Atualmente, chefiada pelo interino Guilherme Amado, a Secretaria de Aviação Civil foi oferecida à bandada de Minas Gerais do PMDB na Câmara dos Deputados durante a eleição do líder do partido na Casa, Leonardo Picciani, no início deste ano. Picciani era o nome apoiado pelo Palácio do Planalto.
Convidado para vomandar a pasta, o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) afirmou neste sábado que definirá com Temer se assume o posto.
Giro pelo país Na tentativa de construir o apoio necessário para ser reconduzido neste sábado à presidência doPMDB, Temer deu início a uma série de viagens pelo país no fim de janeiro. Ao todo, ele visitou 15 estados, onde se reuniu com peemedebistas, representantes de entidades e empresários. Nesses encontros, ele fez discursos nos quais pregou a “unidade” ao país e reafirmou que, em 2018, a legenda terá candidato próprio ao Palácio do Planalto.
Composição
Em meio a resistências internas no PMDB em relação ao nome dele, Temer teve de buscar integrar o PMDB no Senado na composição da direção nacional do partido para evitar que houvesse uma chapa adversária patrocinada pelos caciques da legenda na Casa como Renan Calheiros (AL), Eunício Oliveira (CE) e Romero Jucá (RR) – esses dois últimos aliados do presidente do Congresso.
Nos bastidores, senadores atribuíram a movimentos de Temer e Cunha destituição do líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), no ano passado, e chegaram a cogitar uma candidatura adversária a Temer para que ele não fosse reconduzido à presidência do PMDB.
Convenção do PMDB com tom de oposição
Agência Reuters - Lisandra Paraguassu
A convenção do PMDB, neste sábado, em Brasília, tem o tom de um partido de oposição, com gritos de "Fora PT", "Fora Dilma" e defesa aberta de um processo de impeachment que conduziria o vice-presidente Michel Temer à Presidência da República, apesar da decisão da cúpula do partido de adiar a votação de um provável desembarque do governo de Dilma Rousseff para uma reunião do diretório nacional em até 30 dias.
"Não há desembarque hoje. Há a construção de uma unidade que até hoje o partido não teve", explicou o senador Romero Jucá (PMDB-RR).
"Em até trinta dias todas as moções serão apreciadas pelo diretório nacional. É importante esse tempo para que se possa ouvir a fazer um convencimento para ser uma posição de todos".
A decisão de adiar, diz o senador, é para que o partido se una em torno de Temer. "Se rompermos hoje, amanhã os ministros não entregam o cargo e vai cada um para um lado", afirmou, ressaltando que hoje a maioria do partido quer a saída do governo.
Há, no entanto, grupos que resistem à saída neste momento. Entre eles, o PMDB do Rio de Janeiro, liderado pelo líder do partido na Câmara, Leonardo Picciani, que tem ainda na mão dois ministérios: o da Saúde, com Marcelo Castro, e da Ciência e Tecnologia, com Celso Pansera.
"A questão não é se vai sair, mas quando. Cada um tem seu cronograma. Para o PMDB do Rio não interessa sair agora", afirma uma fonte próxima ao PMDB fluminense.
Hoje minoritário nessa posição, Picciani desconversa ao tratar do desembarque. "Já era esperado, tem essas divisões. O importante agora é assinalar uma unidade na chapa única, propondo soluções que não necessariamente sejam impeachment", disse o deputado. "Vamos deixar falar".
Picciani tem ainda o apoio de alguns ministros, como Henrique Eduardo Alves, do Turismo. Alves foi um dos que mais batalhou para se manter no cargo em outubro de 2015, quando a presidente fez uma reforma ministerial, e não tem nenhum outro cargo.
O ministro propôs ampliar para até 60 dias a decisão sobre as moções sobre independência do partido, mas a tese não deve ganhar muito espaço.
O PMDB observa a temperatura dos acontecimentos dos próximos dias, das manifestações marcadas para este domingo à abertura do processo de impeachment, que pode ser votada na Câmara nas próximas duas semanas, mas peemedebistas confirmam que dificilmente não haverá desembarque.
Nesta manhã, por acordo da cúpula, não falarão defensores do governo. Entre os que discursaram, a senadora Marta Suplicy (SP), ex-petista, foi uma das mais exaltadas. "O PT precisa sair do governo o mais rapidamente possível", disse, classificando o mandato de Dilma Rousseff como o "mais corrupto e incompetente".
Depois de dizer que Michel Temer "irá assumir o poder", Marta garante que o PMDB tem "o DNA da democracia".
O Palácio do Planalto observa com apreensão o resultado da convenção, apesar de ter sido avisado que o desembarque não será feito neste sábado, disse à Reuters uma fonte palaciana, sabe que o futuro do partido no governo é curto e segurou a nomeação do deputado Mauro Lopes (MG) para a Secretaria de Aviação Civil, acertada com Picciani, para depois do encontro.
PMDB não aceita cargos até decidir se deixa o governo
Mauro Lopes disse que definirá com Temer se chefiará Aviação Civil. Pasta foi prometida ao PMDB de MG na eleição de Picciani a liderança.
Nathalia Passarinho, Laís Alegretti e Filipe Matoso - Do G1, em Brasília
O PMDB decidiu, em convenção do partido neste sábado (12), que a legenda não assumirá ministérios até definir se romperá ou não com o governo Dilma Rousseff. O PMDB definirá, em até 30 dias, se vai se tornar independente.
Depois de manifestações de peemedebistas para que o partido não assuma ministérios no governo Dilma nos próximos dias, o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG), convidado para assumir a Secretaria de Aviação Civil (SAC), disse ao G1 que definirá com o vice-presidente Michel Temer, na segunda-feira (14), se chefiará a pasta.
“Hoje não toco neste assunto. À tarde, temos eleição da executiva. Depois da executiva é que vou definir [sobre a SAC], junto com Michel Temer, na segunda-feira", afirmou.
O ex-ministro da Aviação Civil Eliseu Padilha, secretário-executivo do PMDB, submeteu a votação simbólica no plenário uma moção para que o PMDB não assuma cargos nos próximos 30 dias – prazo para que seja definido se o partido romperá ou não com o governo Dilma Rousseff.
“Recebi do presidente Michel Temer a informação que ele conversou com o PMDB de Minas Gerais e o PMDB de Minas disse que não via óbice a que fosse submetido a votação”, disse Padilha, antes da votação.
Mauro Lopes criticou as votações propostas por Padilha durante a convenção. "Isso é oba oba. Não serve de deliberação. É proposta convencional. Não tem validade essas deliberações que o Padilha está fazendo. Está usurpando. É usurpação de poder", afirmou o deputado.
Atualmente, a Secretaria de Aviação Civil é chefiada por Guilherme Ramalho, ministro interno, que assumiu após a saída de Padilha, em dezembro do ano passado. A pasta foi oferecida à bandada de Minas Gerais do PMDB na Câmara dos Deputados durante a eleição do líder do partido, Leonardo Picciani, no início deste ano. Picciani era o nome apoiado pelo Palácio do Planalto, que temia a vitória de Hugo Motta (PMDB-PB), aliado de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara.
Ex-ministro de Dilma Rousseff, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, afirmou que todos os peemedebistas que ocupam ministérios e outros cargos no governo terão que deixar suas funções se, em 30 dias, o partido decidir romper com o PT. Ele ressalvou, porém, que Temer continuará na vice-presidência da República, ainda que o PMDB desembarque do governo Dilma.
“Os companheiros terão que sair dos cargos ou serão ‘saídos’ do PMDB, se for decidido pelo rompimento. A vice-presidência só tem, de fundo, uma função, que é substituir a presidente da República. Ele [Temer] fica como está”, disse.
Questionado se o fato de todos os discursos proferidos na convenção serem contrários ao governo demonstra uma tendência de rompimento, Moreira Mendes disse: “Você já respondeu à pergunta”. |