Natanael Silva estava sendo monitorado por serviços de inteligência do Ministério Público
Mais magro e usando roupas simples, foi assim que integrantes do Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Goiás prenderam o ex-presidente da Assembleia Legislativa de Rondônia, Natanael José da Silva na pequena cidade de Abadiânia, interior de Goiás, com pouco mais de 15 mil habitantes situada no entorno do Distrito Federal. O ex-deputado vinha sendo monitorado a alguns dias em seu local de trabalho, um depósito de gás de cozinha que o Ministério Público apura se pertence a ele.
Oriundo de uma família de comerciantes, Natanael é natural de Aquidauana (MT), foi bancário em Rondônia passando pelo extinto Beron e Banco do Brasil. Implantou nos anos 90 a Dismar, responsável pela revenda e distribuição de bebidas e transformou a Skol em líder de mercado, numa época em que Rondônia só bebia Antárctica. Elegeu-se deputado estadual pela região de Ariquemes e Guajará-Mirim. Foi secretário de Saúde do Estado e em uma manobra rápida, conseguiu tomar a presidência da Casa que estava nas mãos do ex-deputado Silvernani Santos, que dormiu presidente e amanheceu sem a função.
Natanael reuniu um grupo de 14 deputados dias antes da eleição das Mesa e os confinou em uma fazenda no Mato Grosso de onde só saíram para a sessão de votação que o elegeu presidente. Seu grupo tudo podia. Alteravam a Constituição do Estado em sessões noturnas, o regimento interno era modificado de acordo com as necessidades e nenhum órgão de controle tinha acesso ao legislativo. Natanael enfrentou procuradores dos ministérios públicos Federal e Estadual, amordaçou o MP do Estado em retaliação a buscas e deixou José de Abreu Bianco, então governador, refém do legislativo.
Sua rápida ascensão e ambição, o convenceram a disputar o governo em 2002. Ficou em sexto lugar. Tão logo saiu o resultado da eleição, conseguiu a assinatura de todos os deputados lhe indicando para uma vaga que sequer existia de Conselheiro no Tribunal de Contas do Estado, cargo com foro privilegiado e com as mesmas prerrogativas de desembargador federal.
Mas durou pouco, seus processos que tramitavam no Superior Tribunal de Justiça não desceram quando ele renunciou ao cargo. A ministra Cármen Lúcia ao perceber que a manobra era protelatória e que ele poderia sair impune, manteve a decisão em instância superior e em 2014 ele foi condenado a 14 anos e 8 meses de reclusão, por uma série de crimes, entre eles a supressão de documentos públicos. Na época a ministra apontou em sua decisão que ‘o réu possui índole delitiva’. E pelo jeito ela tinha razão. Natanael fugiu, conseguiu documentos falsos e vivia achando que conseguiria escapar impunemente. Demorou, mas ele vai cumprir a pena. Foi o lacônico desfecho de uma carreira política brilhante, de um homem que poderia ter feito muito por Rondônia, mas optou pela mediocridade da vaidade.
PAINEL POLÍTICO
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