PMDB arrasta Dilma para o poço
Esta e as três próximas semanas serão decisivas para o desfecho da maior crise dos últimos 50 anos. Até aqui, tudo conspira a favor do impeachment de Dilma, a começar pela opinião pública. Segundo o instituto Datafolha, 70% dos eleitores gostariam que a presidente fosse destituída do cargo.
Amanhã, para complicar a sua situação de debilidade e fragilidade no Congresso, onde, na Comissão Especial do Impeachment, só tem 25 dos 65 votos, o PMDB anuncia seu desembarque do Governo. Isso, na verdade, será o começo do fim. Afinal, Dilma precisa reunir pelo menos 172 votos entre os 513 deputados para barrar o impeachment.
Parece pouco, mas agora, sem o PMDB, é quase impossível. O único fator a favor de Dilma, ou que pelo menos atrapalha o seu impedimento, está na qualidade dos políticos envolvidos no processo, a começar pelo vice-presidente Michel Temer, o novo presidente em caso de impeachment.
Em breve, estará sujeito a um inquérito. O senador Delcidio do Amaral disse em sua delação que Temer foi padrinho da indicação de Jorge Zelada, para a Diretoria Internacional da Petrobras. Zelada chegou a ser preso no petrolão por coletar propinas de empreiteiras para os peemedebistas.
Outro que ocupa posto central no processo de impeachment, o presidente da Câmara Eduardo Cunha, está mais enrolado do que a presidente Dilma. É réu no STF por suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, acusado de receber cinco milhões de dólares em propinas do petrolão.
Adversário pétreo de Dilma, Cunha tem se empenhado para apressar o processo contra ela, mas cada vez que aparece cumprindo essa tarefa consegue apenas poluir a lisura do impeachment, que é um desejo da maioria da população brasileira, segundo todos os levantamentos nos últimos meses.
TIRO NO PÉ– A intromissão de Dilma nos tribunais pode complicar ainda mais a sua vida no STF. Ao afirmar que cinco ministros da corte votam conforme sua orientação provocou a ira de Celso de Mello, o decano. “Prefiro acreditar que a senhora presidente da República jamais tenha afirmado o que declarou o senador Delcídio do Amaral, por revelar-se moralmente repugnante, politicamente desprezível, institucionalmente inaceitável e superlativamente estúpido o gesto presunçoso de quem pensa que, no Estado democrático de direito, o STF constitua expressão do seu domínio pessoal”, disse Mello.
Atacados pelas redes – A bancada pernambucana está tendo marcação cerrada pelas redes sociais. Os que se declaram a favor de Dilma e, consequentemente, contra o impeachment, são viralizados em todas as ferramentas online da sociedade. Os mais atacados têm sido Humberto Costa, líder do Governo no Senado, e Silvio Costa, vice-líder do Governo na Câmara dos Deputados. Só não são chamados de arroz doce.
Efeito cascata– Dilma começa a semana tentando fazer o último movimento para evitar o seu impeachment. A avaliação é que o desembarque do PMDB, dado como certo, estimulará outros partidos da base, como PP, PR, PTB e PSD, a seguir o mesmo caminho. A contabilidade realista feita pela coordenação política do Governo acendeu o alerta: o Planalto hoje conta com apenas 130 votos seguros para barrar o impeachment – número muito distante do mínimo de 171 votos necessários na Câmara dos Deputados.
Temer busca unidade – O vice-presidente Michel Temer desembarca em Brasília, hoje, para tentar criar um consenso no partido pelo desembarque do governo Dilma. Vai trabalhar pessoalmente para tentar demover as últimas ideias de resistência dentro do PMDB. A constatação do núcleo mais próximo de Temer é que, depois que o PMDB do Rio de Janeiro oficializou a saída do governo, ficou possível tentar buscar um resultado por aclamação na reunião do diretório nacional, amanhã. A avaliação dos aliados mais próximos de Temer é que é fundamental dar uma prova de unidade neste momento, com a sinalização de capacidade política de um eventual futuro governo de Temer.
Conselho a Moro– Na oportuna entrevista às páginas amarelas de Veja, a socióloga italiana Donatella Della Porta, estudiosa da operação que devassou a corrupção na Itália, dá um conselho infalível ao juiz federal Sérgio Moro: não permitir que se crie dele uma imagem de que é um juiz partidário. “É importante que todos os partidos brasileiros sejam investigados se houver indícios de corrupção contra eles. “Ele tem que passar essa mensagem com transparência à população”, diz ela.
CURTAS
ACERVO– Toda a documentação produzida pela extinta Delegacia de Ordem Política e Social (DOPS) durante (e até antes) da ditadura de 1964 começa a ser digitalizada hoje em parceria do Arquivo Público Estadual com o Nacional. A documentação é composta por, aproximadamente, 1.800.000 páginas, o que permite classificá-la como o maior acervo documental de polícia política do Nordeste e um dos maiores do Brasil.
CORRUPÇÃO– As entidades médicas de Pernambuco (Simepe, Cremepe e Ampe) promovem, hoje, a palestra 10 Medidas Contra a Corrupção, com o procurador Regional da República, Marcelo Torres, na Associação Médica de Pernambuco. Durante o evento serão recolhidas assinaturas para conclamar o Congresso a promover alterações estruturais e sistêmicas necessárias, visando prevenir e reprimir a corrupção.
Perguntar não ofende: Rompendo amanhã, o PMDB entrega os cargos de imediato? |