Funcionária: Propina é prática antiga na Odebrecht
Postado por Magno Martins
Conceição Andrade guardou lista com mais de 500 nomes de políticos. Ela trabalhou na empresa na década de 80; PF analisa documentação.
Do G1, em São Paulo
Uma ex-funcionária da Odebrecht afirma que o pagamento de propinas a agentes públicos é uma prática antiga na empresa, segundo reportagem do Fantástico deste domingo (27). Conceição Andrade trabalhou como secretária do departamento financeiro da Odebrecht por 11 anos e guardou uma lista com mais de 500 nomes de políticos, empresários e agentes públicos que, segundo ela, recebiam propina da empresa na década de 80. A Polícia Federal afirma que está analisando a documentação.
Na semana passada, tornaram-se públicas planilhas que mostram doações feitas pela empresa a mais de 200 políticos de 24 partidos. Os políticos negam ter cometido irregularidades. Em despacho, o juiz Sergio Moro afirmou que vai decidir nesta segunda-feira se a lista será encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que nela aparecem nomes de políticos com foro privilegiado. O juiz também afirmou que é prematura qualquer conclusão sobre a natureza, lícita ou não, dos pagamentos que fazem parte da planilha.
Assim como nas planilhas divulgadas na semana passada, na lista de 1988 guardada por Conceição, os políticos são identificados com apelidos. Um codinome é jargão da Justiça: Capa Preta. Há ainda "Almofadinha", "Ceguinho", "Sabiá", "Mel", "Whisky", "Boca Mole", "Gambá, "Pequeno Suíno", entre outros. "Era o próprio pessoal da empresa que dava [esses apelidos aos políticos] de acordo com o momento, de acordo com a figura física de cada um deles", diz Conceição. "Eles faziam isso em tom de deboche."
Na terça-feira (22), os procuradores da Operação Lava Jato afirmaram que havia um setor na Odebrecht dedicado exclusivamente ao pagamento de propinas. Segundo Conceição, quando ela trabalhava na empresa, entre 1979 e 1990, esse setor ainda não existia. "[Antes], eles funcionavam com esquema de caixa dois paralelo ao esquema, à contabilidade da própria empresa. Não tinha um departamento separado como hoje", diz.
Documentação A ex-funcionária afirma que guardou em casa, durante 25 anos, documentos que ela diz serem provas da corrupção que testemunhou e de que até fez parte quando trabalhou no departamento financeiro da Odebrecht. Ela diz que foi demitida por contenção de despesas. "Quando eu fui demitida da empresa, vieram dentro dos meus pertences pessoais. Quando eu cheguei em casa, eu percebi que tinha esses papéis da empresa. Eu não tive mais como devolvê-los. (...) Todos esses anos ficou [tudo] guardado", diz.
Após a demissão, Conceição afirma que entrou na justiça contra a empresa, cobrando direitos trabalhistas, mas perdeu. Questionada sobre o motivo de ter levado tanto tempo para divulgar os documentos, ela diz que, se fizesse isso na época, "seria uma briga de uma pequena com um sistema todo". "Eu fiquei com medo de retaliações, de agressões. Inclusive consultei algumas pessoas, e as pessoas me aconselharam a não mostrar", afirma. "Resolvi tornar público [agora] pela situação que o país está passando, e eu vi que era uma oportunidade para contribuir para poder passar esse país a limpo."
Mais de 500 nomes A lista tem mais de 500 nomes, entre ex-ministros, ex-governadores, ex-prefeitos, senadores e deputados. Alguns dos citados já morreram. Os que continuam na vida pública estão em vários partidos, tanto da base do governo quanto da oposição, e há pelo menos um jornalista. O Fantástico não divulgou os nomes das pessoas que aparecem na lista, pois a polícia ainda não sabe se elas cometeram alguma irregularidade ou não.
Apesar de a Polícia Federal ainda não poder afirmar que todas as anotações na lista se referem a propinas, Conceição se diz convencida. "Tudo isso era propina. Tudo que tem dentro, toda essa relação que existe nessa lista foi pagamento de propina, de caixa dois", diz.
Além da lista, a ex-funcionária guardou um dossiê com mais de 200 itens, entre bilhetinhos, contas, recibos e anotações feitas a mão.
Em um dos papéis, há um cálculo para pagar a uma pessoa identificada como "Azeitona" a comissão de 2% sobre a obra de irrigação do Formoso. Essa obra, segundo o site da Odebrecht, foi executada em Bom Jesus da Lapa (BA) nas décadas de 80 e 90. O rascunho do cálculo informa que o valor deve ser pago em "dólar black", que era o mercado negro de câmbio na época. Feita a conversão de 2% de mais de 700 milhões de cruzados, a moeda da época, dá US$ 28 mil.
Segundo Conceição, o pagamento em dólar não era incomum. "Havia pagamento em dólar (...) porque isso era exigência do político que ia receber a propina", diz. Outro rascunho da ex-funcionária revela a partilha da propina pela obra da adutora João Pessoa e os valores pagos a "Graviola", "Aviador", "Tênis", "Pardal" e "Pouca Telha".
Conceição diz que chegou a entregar dinheiro para políticos pessoalmente algumas vezes. "Tinham algumas políticos aqui de Salvador que algumas vezes iam receber o dinheiro dentro da própria empresa em 'cash'. E outras vezes a empresa repassava o dinheiro para os gerentes de obra, e eles distribuiam para os políticos daquela região. (...) [Era] bastante dinheiro. (...) Era 100 vezes mais do que eu ganhava", afirma.
Conceição afirma que acredita que, quando entrou na empresa, o esquema já existia, mas não tem certeza. Ela afirma que tudo era feito abertamente. "Todo mundo sabia na empresa. As pessoas do departamento financeiro sabiam e algumas pessoas fora sabiam que a empresa trabalhava com caixa dois", diz. Ela afirma que está disposta a falar com a polícia e com a Justiça se for chamada.
Análise da Polícia Federal Em setembro de 2015, a ex-funcionária entregou a lista e os documentos para o deputado federal Jorge Solla (PT), que apresentou a documentação na CPI da Petrobras. Solla entregou os papéis também para o Ministério da Justiça, que os repassou para a Polícia Federal. A documentação está com a Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, no Paraná, já que seria de interesse da Operação Lava Jato.
Neste domingo, a Polícia Federal informou que os documentos estão sendo analisados e que, se comprovada a autencidade, eles serão incorporados ao banco de dados da Lava Jato, pois as informações podem ajudar a esclarecer pontos da investigação. Segundo a PF, mesmo que os papéis sejam considerados legítimos, não há como processar os envolvidos, pois os crimes já estariam prescritos.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Odebrecht informou que a empresa não vai se manifestar sobre a lista da ex-funcionária.
Marchinha da Dilma
Postado por Magno Martins
Valdo Cruz - Folha de S.Paulo
Daqui não saio/daqui ninguém me tira. Eu sou honesta/ eu não roubei. Ganhei meu mandato/foi do povão. Escreve aí/creia em mim/vão me tirar/com gol de mão.
Se eu perder/pode crer/vou recorrer/ao tapetão. Assim é golpe/é armação/me derrubar só porque dei umas pedaladas lá na União.
Pintada para a guerra, essa é a marchinha que Dilma Rousseff não cansa de entoar nos últimos dias no Palácio do Planalto, transformado na última trincheira contra a batalha final do impeachment.
Reflete o desespero palaciano diante do risco real de queda do governo, pela primeira vez admitido por assessores da própria presidente, que até alguns dias se agarrava a seu canto de guerra para confiar que nada aconteceria a ela.
Um erro de avaliação. Na política, nem sempre basta ser e parecer honesto. Tem de atender seus aliados para que acreditem em você. É uma regra um pouco diferente da de são Tomé: aqui é receber para crer.
Dilma imaginou que ninguém tinha o direito de duvidar de sua honestidade e que isso bastava para se livrar do impeachment. Uma ilusão, da qual acordou um pouco tarde.
É certo que, hoje, o argumento jurídico do pedido de impeachment contra ela é frágil e, para alguns, até inexistente. Mas será usado como argumento, por uns, e pretexto, por outros, só para derrubá-la.
Dilma já deixou claro que entrará com recurso no Supremo Tribunal Federal contra essa eventual decisão. Aí, caberá ao STF decidir o rumo do país: concordar com Dilma ou com a Câmara dos Deputados.
Em Brasília, porém, dizem que Dilma pode até escapar do atual pedido de impeachment, mas não teria a mesma sorte depois que algumas delações vierem a público.
Ela seguirá dizendo ser honesta, mas sua campanha pode não ter sido tanto assim. Daí a pressa do PMDB em romper com a petista. Acelerar o que já é dado como certo. E evitar ser vítima também do que vem por aí.
Mídia distorce fala de Dilma sobre golpe
Engajadas numa tentativa de golpe contra a democracia brasileira, assim como fizeram em 1964, as três famílias que hoje controlam os três principais jornais do País, os Frias, os Marinho e os Mesquita, passaram a se dedicar a um exercício de cinismo. A ordem, agora, é encontrar personalidades que repitam um truísmo: o de que o impeachment não é golpe por estar previsto na Constituição – como se a presidente Dilma Rousseff algum tivesse dito o contrário. (Do Portal Brasil 247)
Há dois exemplos no Estado de S. Paulo de hoje (aqui e aqui), um no Globo (aqui) e um no próprio editorial da Folha.
O ponto, no entanto, é que Dilma jamais negou que o impeachment em si seja um golpe. O que ela e diversos juristas têm afirmado, assim como políticos com sólida formação jurídica, como o governador maranhense Flávio Dino, é que um impeachment só se torna um processo legítimo quando vem acompanhado de um crime de responsabilidade cometido pelo presidente da República.
Nunca é demais lembrar que o golpe conduzido por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com apoio da oposição e de diversos parlamentares acusados de crimes gravíssimos, tem como fundamento as chamadas "pedaladas fiscais" – algo que, como diz Delfim Netto neste domingo, ocorre no Brasil desde D. João VI.
Folha, Globo e Estado, que colaboraram com o golpe militar de 1964 e agora articulam o "golpe institucional" de 2016, são incapazes de demonstrar um ponto singelo: qual foi o crime de responsabilidade cometido pela presidente Dilma Rousseff.
Enquanto isso não ocorrer, o impeachment, ainda que mascarado pela legalidade, não poderá ser chamado de outra coisa, a não ser o que efetivamente é: um golpe contra a democracia, apoiado por meios de comunicação que deveriam, em tese, defendê-la. (Do Brasil247)
Dilma diz que aguenta pressão
"Podem ficar tranquilos porque eu aguento bem a pressão. Sou resistente", disse a presidente, em reunião com ministros
Do Correio Braziliense
Sob intenso cerco político, Dilma Rousseff deixou impressionados os ministros com quem conversou nesta semana. Não sem motivo: com uma frieza a toda prova, ela expôs planos de governo para os próximos dias, meses e até para 2018. "Podem ficar tranquilos porque eu aguento bem a pressão. Sou resistente", disse a presidente, ainda gripada, em uma das reuniões com a equipe.
Sem tempo, Dilma trocou a leitura frenética de livros pela análise minuciosa de mapas de votação na Câmara, onde uma comissão com 65 deputados vai definir o destino do impeachment. Ampliou o escopo, mirando em mais do que os 171 votos necessários para barrar o processo no plenário, e exibiu habilidade em decorar o Estado de cada parlamentar a ser fisgado
A ordem é abrir o cofre, atender os aliados fiéis, desalojar os "traidores" e dividir o PMDB, que na terça-feira deve oficializar o divórcio do governo. Na estratégia do "tudo ou nada", Dilma partiu para o varejo das negociações políticas, virou uma espécie de "ouvidora" dos insatisfeitos, coisa que sempre abominou, e montou um gabinete de crise permanente.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teve a nomeação suspensa como ministro da Casa Civil e aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal para saber se poderá assumir o cargo, atua de longe na coordenação geral dos trabalhos, sem pisar no Palácio do Planalto.
A batalha de comunicação do governo é agora direcionada para "vender" a imagem de Dilma como mulher "guerreira", que lutou contra a ditadura e hoje enfrenta um "novo modelo de golpe". Todos os dias, Dilma recebe no Planalto ou mesmo na residência do Alvorada líderes e dirigentes de partidos aliados, além de ministros do PMDB. Pede apoio e promete mudanças.
Deputados do PP e do PR informaram a ela que será difícil manter o aval ao governo se o PMDB desembarcar e alertaram sobre um possível efeito dominó em outros partidos.
"Foi um aviso de que o gato subiu no telhado. A ficha dela caiu, mas, por incrível que pareça, não se abateu", contou um dos deputados que estiveram com a presidente. "Parece que, se morrer, vai morrer lutando".
Numa contraofensiva arriscada, o governo decidiu, na quinta-feira, desafiar o vice Michel Temer - que comanda o PMDB e é chamado por petistas de "chefe da facção" -, exonerando o presidente da Funasa, Antônio Henrique de Carvalho Pires, homem de sua confiança.
Nos bastidores, auxiliares de Dilma afirmam que tudo será feito para enfrentar a "conspiração" do grupo de Temer e contemplar com cargos quem pode ajudar a derrubar o impeachment na Câmara. É uma disputa voto a voto, no mais fiel estilo do "toma lá, dá cá".
Tática semelhante foi usada em dezembro, quando Dilma dispensou o vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa Econômica Federal Fábio Cleto, indicado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como retaliação à atitude do deputado de aceitar o pedido de impeachment.
Em conversas reservadas, Dilma mostra inconformismo com o fato de Cunha, réu no Supremo Tribunal Federal, acusado de corrupção na Petrobras, conduzir o processo que pode levar a seu afastamento. "Eu não cometi nenhum crime para justificar a interrupção do meu mandato. Brigarei até o fim", diz ela, enquanto a Operação Lava Jato avança sobre o governo.
No PT há quem pregue até mesmo que, em caso de impeachment, Dilma recorra à Organização dos Estados Americanos (OEA). Nesse combate, há ainda táticas de guerrilha que circulam na internet, com ameaças de fim de programas sociais, como o Bolsa Família, se a presidente cair.
Foi após a campanha da reeleição, em 2014, que Dilma terminou de ler a biografia do ex-presidente Getúlio Vargas, escrita pelo jornalista Lira Neto. Não por acaso, outro dia voltou a dar uma espiada no terceiro volume, segundo relato de um ministro. "Tudo a seu tempo", costumava dizer Getúlio, quando era pressionado.
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