Oposição diz que Dilma não vai barrar impeachment
Na véspera da debandada do PMDB do Governo, a oposição na Câmara dos Deputados prevê que o pedido de impeachment da presidente Dilma passa com folga pelo plenário da Casa. O deputado Fábio Ramalho, da bancada do PV de Minas, disse que Dilma só conta com oito votos na bancada mineira, formada por 53 parlamentares.
Segundo ele, com a decisão do PMDB, o Governo não tem 100 votos na Câmara. “Dilma terá, no máximo, 90 votos, mas para barrar o impeachment serão necessários 172”, disse Ramalho. Fábio Faria, da bancada do PSD do Rio Grande do Norte na Câmara, foi encontrado, ao lado do deputado pernambucano Kaio Maniçoba (PMDB), fazendo a contagem dos votos pró-impeachment.
“Imaginava que o Governo ainda teria 100 votos, mas não tem”, disse Fábio. Kaio vai na mesma direção. Voto certo pelo afastamento do PMDB do Governo, Maniçoba disse que cresceu muito o movimento pelo impeachment da presidente Dilma. No seu entender, não tem mais como o Governo reverter a derrota na Câmara.
Maniçoba seguiu, há pouco, com um grupo de deputados do PMDB, para a residência oficial do vice-presidente Michel Temer, para se inteirar da reunião que o partido fará amanhã em Brasília para anunciar a saída do Governo. Temer, presidente nacional do PMDB, não comparecerá amanhã à reunião do diretório nacional que decidirá pelo rompimento do partido com o Governo, para não influenciar no resultado da votação, segundo sua assessoria.
Mas, hoje à tarde, Temer se reuniu com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e acertou que a decisão sobre o rompimento será por aclamação, sem contagem dos votos dos integrantes do diretório, de acordo com informações de interlocutores de Temer, de Renan e de um senador peemedebista. Na noite de domingo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou com Temer em São Paulo, a fim de tentar convencê-lo a manter o PMDB no governo.
Segundo assessores de Temer, o vice-presidente disse a Lula que o desembarque é "irreversível", e que o clima no partido é de "animosidade". No início da noite desta segunda, um dos sete ministros do PMDB - Henrique Alves (Turismo) - pediu demissão.
Segundo Temer afirmou a Lula, de acordo com assessores, a decisão do partido de deixar o Governo foi acelerada pela nomeação do deputado Mauro Lopes para ministro da Secretaria de Aviação Civil mesmo após a convenção nacional do PMDB, no último dia 12, ter proibido integrantes do partido de assumir novos cargos no Executivo.
Costa a Temer: Vossa Excelência será o próximo a cair
Folha de S.Paulo –Débora Álvares
Em seu discurso mais duro desde que assumiu a liderança do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE) subiu na tarde desta segunda-feira (28) à tribuna do plenário da Casa e se dirigiu diretamente ao vice-presidente da República, Michel Temer, a quem pediu cautela na decisão do PMDB de deixar o governo e apoiar o impeachment de Dilma Rousseff.
Em tom duro, o senador apelou à biografia do peemedebista. O Costa disse que os que agora atacam a presidente se voltarão em breve contra Temer e que ele, caso Dilma seja afastada, "será o próximo a cair".
"Não pense que os que hoje saem organizados para pedir 'Fora, Dilma' vão às ruas para dizer 'Fica, Temer', para defendê-lo. Não! Depois de arrancarem, com um golpe constitucional, a presidenta da cadeira que ela conquistou pelo voto popular, essa gente vai para casa porque estará cumprida a sua vingança e porque não lhe tem apreço algum. E, seguramente, Vossa Excelência será o próximo a cair".
Temer avisa Lula que PMDB aprovará saída do governo
Da Folha de São Paulo
O vice-presidente da República Michel Temer avisou ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que o PMDB, legenda comandada por ele, aprovará o desembarque oficial do governo na reunião de seu diretório nacional amanhã.
Esta foi a primeira vez que Lula conseguiu se reunir com Temer desde que o partido decidiu pela saída oficial do governo. Na semana passada, o ex-presidente, que tem atuado como articulador informal do governo, tentou se encontrar com o vice-presidente em duas ocasiões, mas Temer não o recebeu.
Na conversa, o peemedebista também avisou a Lula que não havia possibilidade de a reunião ser adiada. Inicialmente, integrantes da legenda ainda aliados do governo tentavam pressionar o peemedebista pelo adiamento para que o processo de impeachment, em tramitação no Congresso, avançasse mais e a sigla não ficasse tanto sob os holofotes.
No encontro, Temer reclamou a Lula do isolamento que tem sofrido pelo Palácio do Planalto. Em conversas reservadas, ele tem dito que Dilma não o recebe nos últimos dois meses.
Ele se queixou ainda das intervenções da presidente em decisões do comando nacional do partido, como a nomeação do deputado federal Mauro Lopes (PMDB-MG) para a Secretaria de Aviação Civil.
Ela ocorreu após decisão do partido para que nenhum filiado aceitasse cargos até a decisão oficial da sigla de desembarque da Esplanada dos Ministérios.
REUNIÃO DO PMDB
Com a avaliação de que a saída do PMDB do governo federal tornou-se "irreversível", o Palácio do Planalto tenta agora esvaziar a reunião do diretório nacional do partido que definirá o desembarque oficial.
A estratégia, que foi discutida nesta segunda-feira entre a presidente Dilma Rousseff e ministros da sigla, tem como objetivo tentar deslegitimar o encontro com a ausência de caciques de peso, como o ex-presidente José Sarney e o presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (AL).
Além disso, o propósito é tentar passar a mensagem pública que, apesar da decisão de saída, o governo federal ainda conta com respaldo de uma ala importante do partido.
Na reunião com a petista, os ministros reconheceram, contudo, que o grupo governista conta apenas com o apoio de cerca de 10 de um total de 127 membros do diretório nacional do partido, o que dificultaria um esvaziamento.
VOTAÇÃO SIMBÓLICA
Temer retornou a Brasília nesta segunda-feira com o objetivo de tentar chegar a um acordo sobre as condições para o desembarque.
Em reunião com a cúpula do partido no Senado, o vice-presidente tenta chegar a um acordo para que a votação seja simbólica e para que a decisão seja feita por aclamação. O objetivo é não mostrar a divisão interna no partido.
Os ministros peemedebistas estão ainda tentando convencer o vice-presidente a estender de abril para junho o prazo para a saída deles da Esplanada dos Ministérios.
Com o argumento de que ainda têm projetos e iniciativas para concluir nas pastas, a estratégia é ganhar tempo na tentativa de reverter a decisão de desembarque caso o plenário da Câmara dos Deputados arquive o processo de impeachment.
Com a avaliação de que a "batalha desta terça-feira está perdida", o foco do Palácio do Planalto é tentar agora segurar a maior parcela possível do partido no movimento contrário ao impeachment. Nas palavras de um assessor da presidente, "amanhã é uma batalha perdida dentro de uma guerra maior".
Novo pedido de impeachment provoca tumulto
Da Folha de São Paulo
Numa semana considerada decisiva, parlamentares e militantes contrários ao impeachment da presidente Dilma Rousseff bateram boca com manifestantes e representantes da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que foram até o local para protocolar um novo pedido de impedimento.
A confusão aconteceu no Salão Verde da Câmara dos Deputados, onde os grupos a favor e contra o afastamento de Dilma trocaram insultos e gritos de guerra, impedindo que o documento fosse apresentado no horário previsto, às 14h30.
A Polícia Legislativa foi acionada e, após cerca de 30 minutos de conflito, começou a esvaziar o local. O presidente nacional da OAB, Claudio Lamachia, ainda aguarda no salão o fim do tumulto.
DISCURSO CONTRA IMPEACHMENT
Deputados e senadores do PT, PCdoB e do PSOL estavam desde o começo da tarde reunidos em uma área de trânsito do prédio principal para o anexo II, onde discursaram na presença de militantes contrários ao impeachment e funcionários de alguns gabinetes. Participaram cerca de 70 pessoas.
Aos gritos de "não vai ter golpe, vai ter luta", rebateram o argumento das pedaladas fiscais utilizado para embasar o pedido de afastamento de Dilma. Distribuíram também rosas vermelhas.
Um grupo pró-impeachment que acompanhava o movimento respondia os gritos de guerra dos defensores da petista com "vai ter impeachment".
Também houve discursos contrários ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que deflagrou o processo de impeachment em dezembro e tem atuado pessoalmente nos bastidores para acelerar o processo.
Essa semana é considerada decisiva pelo Palácio do Planalto. Amanhã, a cúpula do PMDB, maior partido da base, se reúne para decidir o futuro no governo. A tendência é de desembarque, o que deve gerar um efeito cascata em outros partidos aliados, como PP, PSD e PR, que devem acompanhar o movimento.
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