A ordem é comprar votos
Na tentativa de barrar o impeachment, a presidente Dilma começou, ontem, no dia seguinte ao perder o PMDB, a lotear o seu fim de Governo de forma vergonhosa. Ao PP, que já tem a Integração Nacional, ofereceu Saúde. Ao PR, donatário atual da área de Transportes, ofertou Minas e Energia. Ao PSD, que ocupa Cidades, estendeu o latifúndio do Turismo.
As ofertas são as mais descabidas. Não interessa currículo ou capacidade de gerenciamento. O que está em jogo é a guerra travada com a oposição na Câmara dos Deputados para sepultar qualquer tentativa desdobramento do processo de impeachment, aberto pela Comissão Especial, que aprova o relatório provavelmente na terça-feira, 12.
O PP tem uma bancada de 49 deputados. Segundo vazou ontem, a promessa do partido é a garantia de 30 votos, no plenário da Câmara, onde o Governo só tem, hoje, 102 votos para os 172 necessários de freamento do impeachment. Dos 102, 58 seriam do PT, 20 do PDT, 13 do PCdoB, 6 do PSOL e 5 da Rede.
Na prática, o Governo precisaria de mais 70 votos, o que pode vir, no toma-lá-dá-cá, do PP, PR e PSD, que, juntos, criam uma espécie de Frentão, movimento que eclodiu na Constituinte, liderado pelo ex-deputado Ricardo Fiúza, com a expressão intenção de impedir avanços na Carta Magna.
A negociação com o novo Centrão é para tornar o deputado Cacá Leão (PP-BA) o novo ministro da Integração Nacional no lugar de Gilberto Occhi, que tem menor representatividade na bancada de 49 deputados. Occhi assumiria a presidência de alguma estatal ou autarquia federal. A Saúde ficaria com o deputado Ricardo Barros (PP-PR).
Em reunião na manhã de hoje, no gabinete do presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), o partido decidiu marcar para o dia 11, véspera da votação do impeachment na Comissão Especial da Câmara, a decisão final se vai ou não permanecer no Governo. Logo depois da reunião, o deputado Ricardo Barros disse que não foi convidado para nenhum ministério e que nem poderia discutir qualquer assunto relacionado a isto porque seu partido decidiu marcar reunião para o dia 11 para decidir sua posição sobre o impeachment.
O nome de Barros, porém, faz parte da lista que o Palácio do Planalto montou para tentar garantir a manutenção do PP na base aliada e, com isto, evitar a abertura do impeachment. Ciro se encontrou, na última terça-feira, com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comanda os entendimentos para tentar barrar o impeachment de Dilma Rousseff.
A Saúde é comandada hoje pelo deputado licenciado Marcelo Castro (PMDB-PI), cuja permanência se tornou difícil após a decisão do PMDB de romper com o Governo. Além do PP, PR, PSD e outras legendas menores, como o PTN e o PHS estão sendo procuradas pelo Governo com a proposta de ocupar o espaço que será aberto com a entrega de ministérios e cargos pelo PMDB.
SEM LARGAR O OSSO– Um dos seis integrantes do PMDB na Esplanada dos Ministérios, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, revelou, ontem, em sua conta pessoal no microblog Twitter, que permanecerá no comando da pasta. A mensagem foi postada um dia após o Diretório Nacional do PMDB ter anunciado o rompimento com o Palácio do Planalto e determinar que todos os integrantes do partido entreguem seus cargos no Executivo federal. “Continuaremos no governo e no PMDB, ao lado do Brasil no enfrentamento da crise”, postou.
Cadoca malha PMDB– Para o deputado Carlos Eduardo Cadoca (sem partido), a ex-senadora Marina Silva (Rede) foi muito feliz ao afirmar que o PMDB largou o Governo, depois de 13 anos, sem dar a menor satisfação à sociedade nem sequer pedir desculpas por ser parte importante pelo fracasso. Para ele, o PMDB errou ao fazer um ato de apenas três minutos. “Ficou faltando uma satisfação”, disse Cadoca, para quem o partido perdeu uma grande oportunidade de se recompor com o povo brasileiro ao reconhecer que errou no casamento com o PT.
Grupo investe no NE– Em meio a tantas notícias ruins, o grupo BRF, que detém as marcas Qualy, Perdigão e Sadia, assinou um protocolo de intenções que prevê o investimento de R$ 70 milhões na ampliação da do centro de distribuição e da fábrica que mantém em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata Sul. O investimento visa transferir a base das operações regionais de logística da empresa para Pernambuco.
Postura decente– Em ofício enviado ontem ao ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), o juiz Sérgio Moro reconhece que pode ter cometido um erro jurídico ao levantar o sigilo sobre as escutas das conversas telefônicas envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, obtidas nas investigações da Operação Lava jato. E faz aquilo que seres humanos normais, dotados de consciência, fazem quando cometem erros: pede desculpas.
Agora é golpe? – O deputado Raul Jungmann (PPS) não tem dúvida de que a presidente Dilma Rousseff cometeu crime de responsabilidade. "O PT entrou com o impeachment contra os presidentes José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Em nenhum desses casos, para o PT, foi golpe. Quando é a favor do Partido dos Trabalhadores, é impeachment, é legal, é constitucional. Quando é contra, é golpe? Não é assim que as coisas se resolvem. O Supremo Tribunal Federal decidiu a respeito do rito do impeachment, que está sendo rigorosamente seguido", afirmou.
CURTAS
FILIAÇÃO– O ex-deputado André Luis Farias, o ALF, ingressou no PMDB e resolveu apoiar a candidatura do deputado peemedebista Ricardo Costa à Prefeitura de Olinda. Vai, inclusive, participar do staff da campanha de Costa. ALF já disputou a Prefeitura de Olinda e conhece muito bem a geografia política do município.
VIVA! – Outra boa notícia: as chuvas torrenciais que caíram, anteontem, no Sertão do Pajeú, provocaram uma cena não vista há muito tempo: a volta das águas correndo ao longo do seco e legendário Rio Pajeú, tão decantado, principalmente por Luiz Gonzaga.
Perguntar não ofende: O toma-lá-dá-cá ajuda ou pode ser mais um tiro no pé como ocorreu com a tentativa de fazer Lula ministro? |