Manifestação com dinheiro público
A CUT e os movimentos sociais aparelhados pela máquina do Governo Federal colocaram muita gente nas ruas, ontem, em Brasília, para dar uma demonstração de que a presidente Dilma ainda está viva. Numa demonstração de uso acintoso da máquina, cerca de dois mil ônibus foram fretados para levar à Esplanada dos Ministérios manifestantes com cara de militância paga.
De Goiás e entorno de Brasília vieram o maior grupo. A concentração ocorreu ao lado da Arena Mané Garrincha, no Eixo Monumental, onde ficaram estacionados os ônibus da imensa frota certamente bancada com dinheiro da União. Eram tantos os ônibus que não couberam num local apenas, tendo sido usado mais três estacionamentos, entre eles o do Teatro Nacional.
Uma das coordenadoras da Frente Parlamentar em Defesa de Dilma, criada na última quarta-feira em Brasília, a deputada Luciana Santos, presidente nacional do PCdoB, negou que os manifestantes tenham ido ao ato em troca de alguma ajuda em dinheiro. “Quando a oposição faz manifestação não se diz isso. Quem está nas ruas não deseja o pior para o Brasil, que é o golpe”, disse.
A concentração começou cedo. Já por volta de 11 horas foram vistos o desembarque de milhares de pessoas vindos dos mais diversos cantos do País. Lindava Silva, encontrada no estacionamento do Mané Garrincha, contou que estava na manifestação por ter sido convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores de Unaí, norte de Minas, a 250 km de Brasília.
Segundo ela, três ônibus foram fretados para levar o pessoal de sua cidade para Brasília. Petistas da estrutura de poder usaram outros meios. Integrante da bancada do PT no Recife, o vereador Jurandir Liberal veio a Brasília de avião, foi visto e fotografo em um hotel da cidade com o seu grupo.
“Trouxe uma delegação de mais de 100 pessoas”, contou Liberal. Durante a passeata, manifestantes usaram cartazes com a mensagem contra o impeachment para formar a mensagem "Dilma fica" em frente ao Palácio do Planalto. Eles também exibiram um "Fora, Cunha", em alusão ao presidente da Câmara dos Deputados. Parte dos manifestantes também se concentrou em frente ao Banco Central, onde pediu o não pagamento da dívida pública e a realização de reforma agrária.
Por causa da manifestação, todos os retornos da Esplanada dos Ministérios foram fechados – a única exceção foi a passagem em frente à Alameda dos Estados, rua que reúne bandeiras das unidades da federação em frente ao Congresso Nacional. A Polícia Militar informou que diversos ônibus com manifestantes pró-PT chegaram ao Estádio Nacional Mané Garrincha desde a madrugada, carregando colchões e panelas.
PAU NO PMDB– O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), manifestou a estudantes, ontem, uma crítica ao PMDB como "alternativa de poder". No início da tarde, ele teve um encontro com bolsistas da Fundação Lemann em um dos plenários do tribunal. O ministro estava sentado ao lado de um mediador que fazia as perguntas e ele respondia. Numa das respostas, comentou o ambiente político do País e disse que se tornou "um espaço de corrupção generalizada". "Quando o PMDB desembarcou do Governo e revelou ao País quem erguia as mãos, eu olhei e disse: 'Meu Deus do céu! Essa é nossa alternativa de poder. Não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando", afirmou, referindo-se ao PMDB.
E os cargos, Priscila? – Ungida pelo DEM como pré-candidata à prefeita do Recife, a deputada estadual Priscila Krause ainda não disse um pio sobre a ocupação de cargos pelo seu partido na estrutura do Governo Paulo Câmara. Mas ainda está em tempo de se posicionar sobre o assunto, até porque o Democrata, que tinha também cargos na Prefeitura do Recife, responde pelo comando do Lafepe, indicado pelo presidente estadual da legenda, Mendonça Filho.
Lula, o operador– Governo e oposição transformaram o Congresso num verdadeiro campo de guerra. Pela aprovação ou arquivamento do processo de impeachment, que tramita na Comissão Especial, vale tudo. No rádio corredor do Salão Verde se propagava a notícia, ontem, de que o ex-presidente Lula, num lugar incerto e não sabido, recebia um a um os deputados indecisos ou propensos a votar pelo impedimento de Dilma, revertendo voto com a moeda de cargos que estavam no latifúndio do PMDB.
Na defesa– Chamado a falar em defesa da presidente Dilma na comissão do impeachment, o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que o Governo fez o “maior corte da história” em 2015 e não pode ser acusado de cometer crime de responsabilidade nem “irresponsabilidade fiscal”. “No ano passado, o Governo fez o maior contingenciamento da história. Não há que se falar de flexibilidade fiscal, de irregularidade fiscal ou de crime de responsabilidade fiscal no momento em que o Governo fez o maior contingenciamento da história do País”, repetiu.
Lula fica no STF– O STF manteve, por 8 votos a 2, a decisão provisória do ministro Teori Zavascki que mandou o juiz Sergio Moro enviar todas as investigações envolvendo o ex-presidente Lula na Operação Lava Jato para o tribunal, porque alcançaram autoridades com foro privilegiado. Relator da Lava Jato no STF, Teori afirmou que "eventuais excessos bem intencionados" podem colocar em risco a validade de investigações, em recado indireto a Moro. O ministro disse "que será difícil", por exemplo, confirmar a validade do grampo feito pela força-tarefa da Lava Jato de um telefonema entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, no qual tratavam do termo de posse do petista para a Casa Civil.
Vai ser processado? – Vice-líder do Governo na Câmara, o deputado pernambucano Silvio Costa (PTdoB) fez uma gravíssima acusação ao ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União, a quem classificou de “maloqueiro jurídico” durante intervenção na Comissão Especial do Impeachment momentos após o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, fazer a defesa do Governo. "Ele é um maloqueiro do ponto de vista jurídico. Politizou as contas da Dilma", disparou. Nardes foi o relator do processo que rejeitou as contas da presidente de 2014 pelas chamadas "pedaladas fiscais".
CURTAS
FESTEJADO– O secretário estadual de Cidades, André de Paula, nunca foi tão festejado quanto com a decisão que tomou de reassumir o seu mandato na Câmara dos Deputados apenas para votar a favor do impeachment. As manifestações vieram dos mais variados recantos do País. Corajoso, André votará pelo impedimento de Dilma, mesmo que o seu partido feche questão contra.
PAI OU PADASTRO? – O Palácio está com uma pulga atrás da orelha com o deputado Rodrigo Novaes (PSD), que espalhou nas redes sociais e na mídia a condição de padrinho da estrada de Floresta a Carnaubeira da Penha, cuja ordem de serviço será assinada hoje pelo governador Paulo Câmara. O Governo não engoliu também a manifestação que o parlamentar fez, em nome da estrada, numa recente visita de Câmara à região, que pareceu hostilidade.
Perguntar não ofende: Quantos votos vale um Ministério no leilão do “fica, Dilma”? |