Regionais : Listas, vídeos e passeatas
Enviado por alexandre em 03/04/2016 21:50:29

Listas, vídeos e passeatas



No momento por que passa o país, o risco de virar massa de manobra de algum picareta profissional

José Padilha, O Globo

Considere os seguintes enunciados e pergunte a si mesmo se são verdadeiros ou falsos:

1- Lula e o PT se apresentaram ao Brasil como guardiões da moralidade. Lula disse inclusive que no Brasil bandido vira ministro.

2- O PT apresentou quatro pedidos de impeachment contra FHC — sem base jurídica ou representação popular para tal. Hoje, o PT chama os pedidos de impeachment contra Dilma de golpe.

3- O PT votou contra o Plano Real, contra as metas de inflação e contra a Lei de Responsabilidade Fiscal.

4- Apesar da importância das privatizações e do Proer, o PSDB e alguns de seus líderes obtiveram recursos ilegais para si próprios e para seu partido durante a administração desses processos. Também o fizeram usando informação privilegiada na compra e venda da dívida externa brasileira.

5- O ex-senador, ex-governador e ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo foi condenado a 20 anos de prisão pelo STF por ter montado, com a ajuda do marqueteiro Marcos Valério, um esquema de corrupção para financiar sua campanha ao governo de Minas Gerais.

6- O PT montou, sob a batuta de vários líderes históricos do partido e com a ajuda de Marcos Valério, um sistema de corrupção para comprar votos no Congresso Nacional. O sistema ficou conhecido como mensalão.

7- Vários autores do mensalão, inclusive José Dirceu e José Genoino, foram condenados pelo STF com base em provas e testemunhos que demonstram claramente que o esquema ocorreu. Alguns estão presos.

8- Lula, então presidente da República e principal beneficiário do mensalão, afirmou que o mensalão nunca existiu.

9- Faz tempo que a Petrobras e várias outras estatais são predadas por políticos e empreiteiros, que superfaturam contratos e desviam recursos para si mesmos ou para seus partidos. Isso ocorre pelo menos desde o governo Sarney.

10- Desde a primeira eleição de Lula à Presidência, líderes do PT, associados a políticos do PMDB, chefiam uma quadrilha formada por grandes empreiteiras e agentes financeiros. Juntos, desviaram comprovadamente mais de R$ 7,2 bilhões de estatais — dos quais R$ 2,9 bilhões já foram recuperados pela Lava-Jato. O esquema ficou conhecido como petrolão.

11- Lula e Dilma receberam volumosos recursos de caixa dois e de corrupção das empreiteiras do petrolão para suas campanhas presidenciais, via esquemas operados pelos “marqueteiros” João Santana e Duda Mendonça.

12- Conforme afirmou Delcídio Amaral, ex-líder do PT no Senado, em delação premiada homologada pelo STF, Erenice Guerra e Antonio Palocci comandaram uma operação de corrupção em Belo Monte que desviou mais de R$ 40 milhões para a vitoriosa campanha de Dilma e de Temer à Presidência e à Vice-Presidência da República.

13- Conforme delatou Delcídio Amaral, Aécio Neves recebeu propina de Furnas, uma subsidiária da Eletrobras.

14- Conforme delatou Delcídio Amaral, Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras, tinha pleno conhecimento do processo de aquisição da refinaria de Pasadena e de tudo o que este encerrava.

15- O TCU condenou 11 diretores da Petrobras a devolver US$ 792 milhões pelo prejuízo causado na compra da refinaria de Pasadena.

16- Apesar de não haver provas formais divulgadas, todas as campanhas de FHC, de Serra e de Aécio à Presidência receberam recursos de caixa dois.

17- Eduardo Cunha, atual presidente da Câmera dos Deputados, recebeu milhões de dólares em propina no Brasil e no exterior, como afirmam os delatores Fernando Baiano e Mario Góes e como comprovam documentos obtidos no exterior.

18- Apesar de não haver provas formais divulgadas, outros políticos implicados pela Lava-Jato e denunciados por Delcídio e/ou por empreiteiros — como Renan, Temer, Dirceu, Mantega, Mercadante, Aécio, Cabral e Sarney — participaram do petrolão ou de esquemas semelhantes.

19- Lula recebeu propina e favores das grandes empreiteiras envolvidas no petrolão e enriqueceu por conta disso. Ele usou laranjas e falsas palestras para fingir que isso não aconteceu.

20- Conforme afirmou Delcídio Amaral, Lula lhe pediu que comprasse o silêncio de Nestor Cerveró, testemunha-chave da Operação Lava-Jato.

21- O ministro Aloizio Mercadante ofereceu ajuda financeira à família de Delcídio e prometeu usar a influência política do governo para conseguir sua libertação na Justiça em troca de proteção a Dilma em sua delação.

22- Dilma nomeou Lula ministro para que ele tivesse foro privilegiado, ganhasse tempo e ficasse em posição de negociar um acordo de impunidade com outros políticos ameaçados pela Lava-Jato.

23- A Lava-Jato chegou primeiro à corrupção do PT e do PMDB porque o PT e o PMDB estão juntos no poder há mais de 13 anos e são responsáveis pelos primeiros delitos expostos pela investigação. Todavia, se a Lava-Jato continuar, vai expor delitos mais antigos de políticos de outros partidos.

24- Inúmeros políticos sabem que, eventualmente, serão implicados pela Lava-Jato. Esses políticos tentam denegrir o juiz Sérgio Moro e os procuradores, para desmoralizar a investigação antes que isso aconteça. Tentam fazer isso no contexto de uma pretensa saída negociada para a atual crise política e econômica do país.

25- Ajudar a Lula, Dilma e ao PT em sua tentativa de politizar e denegrir a Lava-Jato implica necessariamente ajudar também os políticos corruptos de outras siglas que ainda podem ser expostos pela operação.

Se você acredita, como eu, que a maioria dos enunciados acima é verdadeira, pense bem antes de assinar listas, gravar vídeos ou participar de manifestações em defesa de políticos brasileiros envolvido com a Justiça. Ao fazê-lo, você corre o risco de virar massa de manobra (vide Pierre Bourdieu) de algum picareta profissional.

José Padilha é cineasta

À espera do primeiro cadáver



Os dois lados precisam baixar a bola das paixões, reconhecer que, numa democracia, todo episódio político deve servir para fortalecê-la, fazê-la avançar

Cacá Diegues, O Globo

Repito, pela enésima vez, o que já disse aqui: embora lamente, em vários aspectos, o atual governo, sou contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff, por injusto e inconsequente.

Injusto porque ainda não se configurou nenhum crime de responsabilidade que ela tenha cometido no governo. Inconsequente porque vai dividir mais ainda o país, ameaçando seriamente a paz democrática que custamos tanto a conquistar.

Pelo que vemos nas ruas, o país está rachado ao meio, se aproximando seriamente de um impasse que pode ter graves consequências. É impossível saber qual dos dois lados tem mais eleitor, Ibope e Datafolha não são o voto universal, livre e democrático da população.

Nessas condições, o impeachment de uma presidente eleita regularmente promove uma ruptura social que pode se tornar trágica e sangrenta.

Nem por isso o impeachment seria um golpe. Pode ser (como acho que é) uma iniciativa política gravemente equivocada; mas, se o instituto se encontra na Constituição do país, não há por que chamá-lo de golpe.

Golpe seria desrespeitar a Constituição, desmoralizar seu valor, ignorar o que ela diz. Golpe seria chamar de golpe o que ela afirma ser legítimo.

Os dois lados precisam baixar a bola das paixões, reconhecer que, numa democracia, todo episódio político deve servir para fortalecê-la, fazê-la avançar. Numa democracia, as crises políticas são inevitáveis e sempre bem-vindas, desde que sirvam para aprimorar seu exercício e o do direito de todos.

Não podemos usar as crises como pretexto para eliminar o outro, o que pensa diferente de nós. Nem usá-la como alavanca para a reversão do que é certo.

A presidente Dilma errou quando disse, aos artistas que se reuniram em Brasília, que seu impeachment, com base nas “pedaladas fiscais”, não se justifica porque todos os governos anteriores ao dela também as praticaram.

Ora, é uma insanidade ou uma desfaçatez moral achar que um crime deixa de ser crime porque os outros já o cometeram impunemente e ele se tornou “prática corriqueira”, como disse um senador governista.

Nesse mesmo encontro com artistas, a presidente acertou em cheio ao dizer que “ninguém vai unir o país destilando ódio, rancor, raiva e perseguição”. Como fez a tal pediatra gaúcha, Maria Dolores Bressan, que se recusou a atender uma criança de 1 ano, porque era filho de uma mãe filiada ao PT. Aí, é quase Holocausto mesmo.

Como pode ser um holocausto cultural a censura que os dois lados tentam fazer ao “inimigo”. A Editora 34, por exemplo, vetou a publicação do livro mais recente do pensador e escritor baiano Antonio Risério, “Que você é esse?”, sob o argumento de que, no capítulo oitavo do romance, um personagem vai se prostituir no marketing político, correndo o risco de ser identificado, pelos leitores, aos marqueteiros de Dilma e do PT.

Esses são os intelectuais que denunciam o complô midiático da grande imprensa que, segundo eles, não dá visibilidade às pessoas, aos fatos e às ideias do outro lado.

Mesmo que Sérgio Moro e sua turma tenham cometido erros, notadamente na condução coercitiva de Lula e no grampo do telefonema da presidente, nem por isso deixam de ser heróis nacionais.

Quando antes, neste país, vimos banqueiros e empresários corruptos na cadeia? Quando antes vimos políticos poderosos ameaçados de perder seus mandatos ou simplesmente já em cana?

Atá agora, a Lava-Jato já bloqueou, em bancos suíços, 800 milhões de dólares da nossa corrupção; obteve 93 condenações criminais de corruptos e corruptores, lavadores de dinheiro e formadores de quadrilha; revelou departamentos de propina em respeitáveis empresas clientes do Estado.

Quando antes, neste país, esperávamos assistir, um dia, a esse espetáculo de limpeza política e financeira, só comparável à bem sucedida Mani Pulite, de Antonio di Prieto, que mudou a vida pública na Itália? É preciso blindar a Lava-Jato de toda resistência a ela.

Diante do mau exemplo dos poderosos, o cidadão comum se acha no direito de fazer suas próprias regras, a partir de suas próprias necessidades pessoais. Essa semana, um réu ameaçou atear fogo a uma juíza, se ela não gravasse um vídeo inocentando-o.

Se nossos líderes preferem a companhia de Jader Barbalho e Jair Bolsonaro à de Sérgio Moro, eles estão dizendo ao povo que vale qualquer coisa para conquistar o poder e permanecer nele, custe o que custar.

Os militantes estão nas ruas, com os nervos à flor da pele; é dever dos líderes acalmar os que acreditam neles. Não estou pedindo conciliação, esse clássico instrumento de poder das oligarquias no Brasil; estou pedindo entendimento e concertação, um acerto de modos.

Em vez de gastar o tempo com poses de estadista e ranger de dentes, esse devia ser o papel de gente como Fernando Henrique Cardoso e Lula — um encontro cívico para negociar a distensão.

Se não, o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social, é que terá razão: “A radicalização não está no seu auge e, se algo não for feito urgentemente, vai piorar. Vamos esperar o primeiro cadáver? Porque ele vai existir”.


Página de impressão amigável Enviar esta história par aum amigo Criar um arquvo PDF do artigo
Publicidade Notícia