Hotel Royal Tulip, onde Lula se hospeda em Brasília
Folha de S.Paulo - Marina Dias
Em uma uma mesa redonda de cinco lugares na antessala do quarto 4050, no segundo piso de um hotel de luxo em Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta fechar os termos de um acordo para salvar o governo Dilma Rousseff.
Pessoas que participaram dessas conversas resumem o discurso vendido por Lula em uma frase: "O que você precisa para ficar com a gente?"
A pergunta é acompanhada da promessa de que os que forem fiéis a ele agora serão recompensados em uma nova fase do governo, que estará sob sua coordenação.
O ex-presidente afirma que vai mexer na condução da economia tão logo o governo consiga barrar o impeachment no plenário da Câmara e ajudará a restabelecer a interlocução do Executivo com o Congresso, uma das principais críticas dos parlamentares em relação à presidente.
Apesar da baixíssima popularidade de Dilma e de seu próprio desgaste pessoal, Lula se tornou o principal ativo da articulação política do Planalto desde que o processo de impedimento da petista se acelerou. No hotel, ele tem se reunido com presidentes e líderes de diversos partidos, além de deputados, senadores, governadores e até mesmo ministros de Estado.
O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), por exemplo, esteve três vezes no hotel com Lula nos últimos dez dias. Após as conversas com o ex-presidente, o PP se tornou, junto com PR e PSD, parte do bloco para o qual o governo prometeu três dos seis ministérios hoje ocupados pelo PMDB.
Além de traçar a estratégia para conseguir os 172 votos necessários para derrubar o impeachment, Lula acompanha pessoalmente um mapa de potenciais votos dividido por Estados.
"Ele tem conversado com todo mundo, de vários partidos, com as pessoas com quem tem relação, porque tem gente que é só com ele. Ele é o Lula", disse à Folha o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), responsável direto pela articulação política do Planalto.
"Lula é uma referência dentro do governo ou fora dele, mas é claro que o preferimos dentro", completa.
A ressalva para o discurso de Lula diante dos aliados veio nesta quinta-feira (7), justamente quando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mudou sua avaliação e enviou parecer ao Supremo Tribunal Federal pedindo a anulação da nomeação do ex-presidente como ministro da Casa Civil.
Publicamente e até mesmo nos bastidores aliados e integrantes do governo afirmam que Lula não está tratando de cargos para convencer os deputados a votar contra o impeachment, mas tem feito toda a amarração política para "dar esperança" de que "as coisas vão mudar".
Para a oposição, a movimentação de Lula e dos governistas para angariar apoio a Dilma envolve mais do que cargos e verbas. Fala-se abertamente de compra de deputados por valores que variam entre R$ 400 mil por uma ausência e até R$ 2 milhões por um voto pró-governo. Nos corredores da Câmara, o assunto é corrente, mas até aqui não surgiu nenhum caso comprovado. O governo nega a prática.
Os dirigentes partidários contam que a tratativa de cargos é feita com Berzoini e com Jaques Wagner, que saiu da Casa Civil para abrir espaço a Lula e hoje é chefe de gabinete da Presidência.
Indiretas já, o retorno
Bernardo Mello Franco - Folha de S.Paulo
A nova pesquisa Datafolha mostra que Dilma Rousseff e Michel Temer estão empatados em impopularidade. O percentual de brasileiros que desejam a renúncia da presidente e do vice é o mesmo: 60%. A dupla rejeição sugere que a sociedade continuará insatisfeita, seja qual for o desfecho da crise.
A votação do impeachment na Câmara está prevista para o próximo domingo, dia 17. Será comandada pelo réu Eduardo Cunha, ainda mais detestado do que Dilma e Temer.
Como a renúncia coletiva não está nos planos de ninguém, caberá aos 513 deputados escolher quem ficará com a faixa presidencial. O povo não foi convidado. O futuro do país será decidido por uma versão reciclada do velho Colégio Eleitoral, que indicou o avô de Aécio Neves em 1985.
O tucano sonhava em antecipar a eleição de 2018, mas aderiu às Indiretas Já. A explicação está nas pesquisas. Desde dezembro, suas intenções de voto despencaram dez pontos. Se a disputa fosse hoje, Lula e Marina passariam ao segundo turno.
Há diferenças entre as novas indiretas e as de Tancredo e Maluf. A principal é que Dilma precisará apenas de um terço da Câmara, contando as ausências. Temer tem que conquistar 342 votos. Nos últimos dias, ele abandonou a discrição e se lançou em campanha aberta, fazendo corpo a corpo com deputados.
O duelo também valorizou o passe de políticos sem mandato que andavam na sombra, como os condenados no julgamento do mensalão. Na quarta-feira, Temer abriu o Palácio do Jaburu para o ex-deputado Roberto Jefferson, chefe do PTB.
Outro caso curioso é o do ex-deputado Valdemar Costa Neto, dono do PR, que ainda cumpre prisão domiciliar. Até o início da semana, ele era cortejado por Lula e visto como cabo eleitoral de Dilma. Há quatro dias, recebeu uma ligação do vice.
Maluf já mudou de lado. Era aliado de Dilma, mas decidiu apoiar Temer. "Ela é correta e decente, mas voto pelo impeachment", declarou.
PR, PP e PSD têm alto histórico de traição ao governo
O histórico de fidelidade dos partidos do “centrinho” mostra que o Planalto arrisca muito ao apostar suas fichas em PR, PP e PSD. Em decisões recentes importantes para Dilma Rousseff, os três partidos têm dado menos da metade de seus votos ao governo — e até dirigentes das siglas têm consciência de que o índice não deve melhorar muito agora. O PP, por exemplo, promete entregar até 30 dos 51 deputados, mas estimativas mais conservadoras veem um limite de 11 votos pró-governo.
A assinatura de empréstimos de Estados com bancos públicos se tornou um item tentador para melhorar o humor de governadores e fazer com que eles busquem votos em favor de Dilma nas suas bancadas.
O governador Robson Faria (PRB-RN) esteve em Brasília durante a semana para cobrar a liberação de R$ 850 milhões do Banco do Brasil. (Painel - Folha de S.Paulo)
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