A falência das instituições
Postado por Magno Martins
Carlos Chagas
Sem tempo para preocupar-se com outra questão a não ser o impeachment, deveria a presidente Dilma voltar-se para o day-after da manifestação da Câmara dos Deputados, qualquer que ela seja, esta semana. Porque tendo ou não garantida sua permanência no poder, a verdade é que seu governo carece de rumos. Não produziu, até agora, um elenco de iniciativas capazes de enfrentar o desemprego em massa, a alta do custo de vida, a disparada no preço dos impostos, taxas e tarifas, e a necessidade de retomar o crescimento econômico. Nem Madame nem o PT dispõem de um roteiro para sair da crise.
Parece nosso destino manifesto a convivência com o vazio que marca a ação governamental. Se antes inexistia um programa, agora desapareceu até o ânimo para imaginá-lo. Alguém se lembra da apresentação de alternativas para o país sair do sufoco, depois da reeleição? Entre tantas mudanças ministeriais, registra-se ao menos uma capaz de apontar alterações em condições de tirar o Brasil do buraco?
A inação ultrapassa a esfera da coisa pública. Omite-se a atividade privada, que poderia contribuir para desafogar o impasse. Entre o sucessivo fechamento de empresas, não se sabe bem se começo ou fim do desemprego, emerge a apatia pela recuperação. Se o poder público dá de ombros para a função específica de contribuir para o crescimento econômico, da mesma forma não se movimentam as categorias privadas, preocupadas apenas em saber quem paga o pato.
A inteligência nacional também saiu de cena. Nenhuma iniciativa se verifica nas universidades, nos partidos políticos, nas religiões e nas entidades da sociedade civil. A mídia afastou-se da obrigação de iluminar o futuro, dedicando-se exclusivamente à crítica do presente.
Deitar a responsabilidade no governo é necessário, mas não basta. A sociedade carrega sua parcela de culpa na lambança. Se é certo que a presidente Dilma descumpre suas obrigações, também fica evidente a falência das demais instituições.
Não está favorável
Postado por Magno Martins
Valdo Cruz – Folha de S.Paulo
Na semana decisiva para o futuro da presidente Dilma Rousseff, a vida não está tranquila nem favorável para ninguém.
Pelos gabinetes da Esplanada dos Ministérios, só se faz o básico. Às vezes, nem isso. O governo parou à espera da votação do impeachment. O único departamento a todo vapor é o da distribuição de cargos.
Varejão que fez o vento soprar a favor da presidente, mas que logo mudou de rumo depois da delação da Andrade Gutierrez. Doações, segundo seus executivos, foram feitas com propina para a petista.
Tucanos também não têm o que comemorar. Seus candidatos a presidente despencaram na pesquisa Datafolha. Pior, enquanto eles caem, Lula sobe nas intenções de voto e divide a ponta com Marina.
Se tem o que festejar com o resultado do Datafolha, o ex-presidente, de outro lado, vê cada vez mais ameaçada sua posse na Casa Civil. Rodrigo Janot mudou de ideia e quer anular sua nomeação.
Um recado, por sinal, nada favorável para a presidente Dilma. A decisão do procurador-geral indica que ele pode pedir autorização ao STF para investigar a petista por tentativa de obstrução da Justiça.
Já o vice Michel Temer descobre que a delação da Andrade pode derrubá-lo junto com Dilma. E o Datafolha mostra que a maioria do eleitorado deseja que ele tenha o mesmo destino da presidente.
Num cenário de tanta incerteza, quem não está nada tranquilo é o país. A inflação caiu não por méritos do governo, mas por causa da brutal recessão, fruto dos equívocos cometidos pela presidente.
O desemprego continua a subir e não se enxerga, no horizonte, nada que esteja sendo feito para contê-lo. Pelo contrário, Dilma, para escapar da degola, compromete a cada dia mais o equilíbrio fiscal.
Não por outro motivo tem petista que se pergunta se vale a pena tudo isso diante de uma queda que muitos consideram quase inevitável.
Mau sinal
Postado por Magno Martins
Elio Gaspari – Folha de S.Paulo
Em 2002, o jornalista Larry Rohter, correspondente do "New York Times" no Brasil travou uma longa e silenciosa guerra com a burocracia do jornal para que deixassem de qualificar Lula como "leftist" (esquerdista). Prevaleceu, mas quando escreveu que Nosso Guia tinha um fraco pelo copo, ele tentou tirá-lo do país.
Há poucas semanas, o jornal fez um duro editorial contra a doutora Dilma por ter nomeado seu mentor para a chefia da Casa Civil, justificando-se com um blablablá que qualificou de "ridículo".
Nele, meteram de novo o "leftist" em Lula.
A seção de editoriais do "Times" nada tem a ver com o corpo de repórteres e correspondentes do jornal. No dia 3 de abril de 1964 o Times publicou um editorial saudando a queda de João Goulart, chamando-o de "incompetente" e "irresponsável", adjetivos que fazia por merecer. É muito provável que esse editorial tenha sido escrito por Herbert Matthews, queridinho da esquerda pela louvação que fizera de Fidel Castro. A Casa Branca cabalava editoriais contra Jango desde o dia 28 de março. |