Dois derrotados
Carlos Chagas
A quem debitar a queda da presidente Dilma? Para começar, a ela mesma. Tanto pela arrogância, a prepotência, a presunção? Ou terá sido pelo despreparo? Há quem aposte no Lula? Afinal, o ex-presidente poderia ter escolhido melhor.
Madame deixou-se levar pelas falsas impressões. No seu primeiro mandato valeu-se da imagem do antecessor. Afinal, o Lula deu certo por conta da conjuntura nacional, internacional e de sua capacidade de absorver as más notícias em favor das boas. Dilma não apenas imaginou repetir a performance do torneiro-mecânico, mas pelo menos chegar ao seu discutível diploma de curso superior. Só que embaralhou muita coisa. Começou a perder pontos. Deixou de contar com fiéis seguidores do PMDB. Dos pequenos partidos, também. O resultado está aí, à vista de todos. Ainda mantém maioria na Câmara, mas caminha para a débâcle. Saberemos domingo, ou seja, daqui a cinco dias.
É cedo para previsões, mas tudo indica que a presidente deixará de ser presidente. Uma reviravolta desse jeito só aconteceu com Fernando Collor, não faz tanto tempo assim.
Dos dois lados,a deterioração é comum, porque a oposição não anda melhor nas contas. Se conseguir afastar Dilma, terá que começar tudo do zero. Que governo comporá com Michel Temer? Para organizar que governo? Sensibilizar que forças?
A situação está de vaca não conhecer bezerro, ainda mais porque a queda não arrefeceu, do lado de Dilma. Em suma, os dois grupos em cheque pode dar-se por derrotados.
Lula tenta manter parte do “centrão” ao lado de Dilma
Cresce no PMDB e no PP número de defensores do impeachment
Blog do Kennedy
O ex-presidente Lula e articuladores políticos do governo têm marcado reuniões com deputados do PMDB, do PP, do PR e do PSD a fim de tentar manter nesses partidos uma tropa mínima para a defesa do mandato da presidente Dilma Rousseff. Esses deputados, que negociam com governo e oposição, formam um “centrão” que tende a ser decisivo na guerra do impeachment.
Após a aprovação do relatório de Jovair Arantes (PTB-GO) na comissão especial do impeachment, cresceu nas bancadas do PMDB e do PP da Câmara o número de favoráveis à saída da presidente do poder. É uma notícia ruim para o governo. Daí a reação de Lula e articuladores petistas.
Hoje, oposição e governo dizem que já teriam votos suficientes para vencer em plenário. Um dos lados está mentindo ou, no mínimo, iludido. Mas isso é também um sinal de que ainda há jogo duro pela frente.
A aprovação do relatório de Jovair Arantes criou um fato favorável à estratégia da oposição. Com o placar de 38 a 27, os defensores do impeachment chegaram perto dos 40 votos que almejavam. Os aliados de Dilma tiveram um voto a menos do que esperavam. Agora, a guerra será na votação no plenário da Câmara, batalha prevista para domingo.
Dilma: não há consenso que havia em relação a Collor
Negociação de votos no plenário será mais fragmentada que na comissão
Na comparação com o impeachment de Fernando Collor de Mello em 1992, falta hoje contra a presidente Dilma Rousseff o quase consenso que havia na época em relação ao então presidente da República. Atualmente, há uma divisão maior entre as forças políticas e também na sociedade.
Se Dilma cair, haverá uma parcela significativa da sociedade e do mundo político a contestar o resultado. Por isso, qualquer um dos lados poderá vencer no próximo domingo, dia para o qual está prevista a votação do pedido de abertura de processo de impeachment no plenário da Câmara.
Quem vencer terá uma missão dura no dia seguinte, porque não será fácil para Dilma reinaugurar seu governo. Tampouco o vice-presidente Michel Temer terá facilidade para obter estabilidade política.
Na atual crise, o Brasil perdeu a capacidade de criar consensos políticos, estimulando a divisão na sociedade, acirrando a disputa partidária e trazendo reflexos negativos para a economia.
No dia seguinte à votação do impeachment, Dilma ou Temer terão de estar conscientes de que precisarão reconstruir pontes. Ou só terão mais ruína a administrar, piorando a vida dos brasileiros, sobretudo dos mais pobres. (Kennedy Alencar)
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