Regionais : Só um milagre salva Dilma
Enviado por alexandre em 16/04/2016 01:24:49

Só um milagre salva Dilma

Na véspera da votação do impeachment da presidente Dilma, no plenário da Câmara dos Deputados, o cenário continua extremamente desfavorável ao Governo. O discurso de golpe, pregado pelo Planalto e aliados para atrair apoio popular e sensibilizar as instituições, não pegou. Mais do que isso, foi desconstruído pelo Supremo Tribunal Federal quando rejeitou, na noite da última quinta-feira, todas as ações de anulação da sessão de votação.

Aliás, a tentativa da Advocacia-Geral da União (AGU) de anular o processo de impeachment no Supremo Tribunal Federal (STF) foi alvo de ironia. A interpretação é de que o Planalto resolveu judicializar porque se convenceu de que não tem apoio suficiente para arquivar o pedido. “É como alguém que está morrendo afogado e tenta se agarrar a uma folha que está passando”, disse Jovair Arantes (PTB-GO), relator do impeachment na comissão especial.

Mesmo após a defesa do Governo, feita pelo advogado-geral da União, José Eduardo Cardoso, logo início da abertura da sessão de ontem, nem um só voto perdido para o impeachment foi recuperado pelo Planalto, apesar de Cardoso pregar o contrário. Mais tarde, no final da tarde do primeiro dia do processo de votação, as oposições, juntas, anunciaram que a adesão ao impedimento da presidente havia crescido ainda mais, agora de 362 para 367 votos.

Num sinal desesperador de reação, a presidente preparou uma fala à Nação, que seria feito em rede nacional de TV e rádio, mas que acabou sendo suspenso porque a presidente fora orientada de que poderia ser um tiro pela culatra. A impressão que dá é que o Governo sabe que está derrotado, insiste num discurso de ofensiva, mas a postura dos próprios aliados, entre eles o pernambucano Silvio Costa, vice-líder do Governo, soa como falsa.

Pensado e articulado por Lula, foi protocolado na Câmara por aliados do Governo um pedido de criação da "frente parlamentar em defesa da democracia", com 186 assinaturas, resultado superior às 172 necessárias para barrar o impedimento. A ideia era mostrar que o jogo não está perdido, mas o documento continha nomes de parlamentares favoráveis ao afastamento, inclusive do DEM e do PSDB.

As principais lideranças petistas continuam afirmando que o Governo terá pelo menos 200 votos para enterrar o processo, mas há quem reconheça publicamente as dificuldades. “Há uma fragilidade imensa na Câmara. Queremos ter 200 parlamentares, mas, nesta Casa, não se confia. Se passar, ainda temos o Senado, que é um foro mais responsável — avaliou Zé Geraldo (PT-PA), num claro sinal de que não confia nos números que o Governo garante ter em seu poder para barrar o impeachment.

PP FECHADO– A executiva nacional do PP decidiu fechar questão a favor do afastamento. Com a decisão, parlamentares que contrariarem orientação podem sofrer punição. Na terça-feira passada, a bancada na Câmara já havia decidido votar a favor da continuidade do processo de impeachment. A decisão foi anunciada pelo líder do partido na Casa, Aguinaldo Ribeiro (PB), que já havia informado ser pessoalmente contra o afastamento da petista. Segundo ele, a orientação da liderança na votação em plenário será pela instauração do processo.

Um suplente bem distinguido– Dos quatro suplentes da bancada pernambucana na Câmara dos Deputados apenas Augusto Coutinho (PSD), primeiro-suplente da coligação que elegeu o governador Paulo Câmara (PSB), terá o direito de votar pelo impeachment. Tudo porque Danilo Cabral (PSB), André de Paula (PSD) e Sebastião Oliveira(PR), secretários estaduais licenciados e titulares dos mandatos, estão em Brasília para votar. Felipe Carreras (PSB), quarto efetivo, resolveu não assumir e disse, ontem, ao chegar a Brasília, que seria bem representado por Coutinho. Com isso, ficam de fora da sessão histórica os suplentes Fernando Monteiro (PP), Raul Jungmann (PPS) e Carlos Eduardo Cadoca (sem partido).

Como será a votação– A ordem de chamada no plenário da Câmara foi estabelecida pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e validada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). As bancadas estaduais vão se alternar na votação. Será chamado um deputado da região Norte, seguido por outro do Sul, e vice-versa. Assim, votarão primeiro todos os deputados de Roraima e depois todos os do Rio Grande do Sul. No caso dos estados, a ordem será a alfabética. A Bahia vai decidir a votação. Quando sua bancada for chamada 300 deputados já terão se manifestado.

A revoada de suplentes– Segundo levantamento da mesa da Câmara, 26 parlamentares de nove Estados retomam seus mandatos, ainda que temporariamente, para votar amanhã na sessão do impeachment. As trocas levam para a Câmara 17 parlamentares favoráveis ao impeachment e nove contrários. Dos 26, quatro pertencem ao PT, seis ao PMDB, quatro ao PSD, três ao PSDB e dois ao PSB. Os demais são do PPS, PTB, DEM, PR, PSC e PV. No caso dos 17 que entram a favor do impeachment, saem 12 que declararam voto a favor, um contra e quatro indefinidos ou que não declararam voto. No caso dos nove que entram contra o impeachment, saem quatro que declararam voto contra, dois a favor e três que estão indefinidos ou que não declararam voto.

Um voto que vale dois– Num gesto que fez com o seu suplente Augusto Coutinho, o deputado federal licenciado Felipe Carreras (PSB), que não assumiu como André de Paula, Danilo Cabral e Sebastião Oliveira, fez questão e vir a Brasília acompanhar a votação, gravou um vídeo no Salão Verde da Câmara e acertou com Coutinho que na hora em que proclamar o seu voto, com direito a apenas dez segundos, também citará Felipe votaria da mesma forma, ou seja, pelo afastamento da presidente.



CURTAS

VOTO CONTRA– Voto fechado contra o impeachment, o deputado Ricardo Teobaldo (PTN) repetia, ontem, em alto e bom som, que a oposição não iria conseguir aprovar o impeachment da presidente Dilma. “Não vai ter impeachment, esqueça isso, Magno”, disse, ele, insistindo para colocar esta frase no blog.

VOTO A FAVOR– Já o secretário licenciado André de Paula, agora deputado federal no exercício do seu mandato, chegou ontem a Brasília animado. Gravou um vídeo no Salão Verde, deu entrevistas e afirmou que o Governo não reverteria a tendência de aprovação do impeachment. “Estou seguro que o impeachment passa”, afirmou.

Perguntar não ofende: Com quantos votos o impeachment será aprovado amanhã?

O ocaso da era dos postes



Por Angelo Castelo Branco

A crise que estamos atravessando está longe de ser superada, com ou sem impeachment. Em ambas as hipóteses há um longo e tortuoso caminho. Sem impeachment ganharemos um governo de zumbis. Com impeachment atravessaremos a instabilidade de um governo sub júdice da justiça eleitoral e muito barulho e revolta dos que serão apeados do poder e das mordomias a que se acostumaram.

O país subtraído precisa de sacrifícios que a maioria não entenderá. A era do poste deixa lições amargas. Transformar em presidente pessoas que nunca disputaram sequer eleições de associação de dominó, tem seu preço e a fatura chegou. A presidente conseguiu algo inimaginável ao se transformar em objeto de um processo cujos pré-requisitos são quase inatingíveis tal o número de rompimentos políticos que exige.

Por outro lado se ela vencer esse jogo como é que vai governar tendo a maioria dos congressistas contra sua gestão? A baixa percepção democrática dos atores dessa novela vai criar dificuldades nas cidades e nos campos por algum tempo. Faz parte do jogo. Aconteça o que acontecer o país não será o mesmo. E é nesse ponto que endosso o acalentador bordão de Tiririca: pior do que está não fica. Boa sorte a todos.

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