O jornalista Sílvio Santos, amigo e companheiro de longa data de Manoel Mendonça, o “Manelão”, há alguns anos escreveu o que seria a verdadeira história do maior bloco de rua da região Norte, a Banda do Vai Quem Quer, que está ligada diretamente ao grande General da folia. Vai Quem Quer virou referência nacional e exaltada nos quatro cantos do Estado por ser o “Manelão” seu difusor e coordenador, comandando com amor e dedicação, um carinho extremo ao bloco mais querido que Porto Velho tem.
Confira abaixo o texto de Sílvio Santos sobre a história da Banda do Vai Quem Quer:
Antes que seja tarde, é preciso que se faça alguns reparos sobre a história da Banda do Vai Quem Quer. Na realidade, a história da Banda, tem muito a ver com a minha própria história, já que para reviver o ano do seu primeiro desfile, tenho que contar o que aconteceu comigo antes, isso para provar aos que se dizem conhecedores da história da Banda do Vai Quem Quer que em sua maioria, equivocadamente, afirmam que o primeiro desfile da Banda aconteceu no carnaval de 1980 quando na realidade, foi em 1981, se não vejamos.
Em março de 1980 tive que partir para Brasília com uma pessoa da minha família que havia sofrido um acidente e precisava de cuidados ortopédicos especiais, cuidado esses, que só existiam no Hospital Sara Kubitschek do Distrito Federal. Acontece que o tratamento que era para durar no máximo três meses, prolongou-se por sete meses, o que fez com que eu só retornasse para Porto Velho no mês de outubro.
Outra prova de que o primeiro desfile da Banda aconteceu no carnaval de 1981, é que foi o último carnaval que brinquei embriagado. Muitos sabem que eu era um tremendo "pé inchado" e que depois de uma série de acontecimentos, no dia 29 de junho de 1981 bebi meu último gole da cachaça e como a Banda só me viu uma vez bêbado...
Seu primeiro desfile aconteceu no carnaval de 1981. E como realmente nasceu a Banda do Vai Quem Quer? Quem teve a idéia? E o nome Vai Quem Quer surgiu como? E a primeira música com foi composta? Essas e outras respostas você vai ficar sabendo agora.
O nascimento da Banda
Naquele tempo, os boêmios, carnavalescos e amantes de uma boa cachacinha, tinham por hábito, se reunirem no famoso Bar do Casemiro que ficava à Rua Joaquim Nabuco esquina com a Almirante Barroso. Num sábado, do mês de janeiro de 1981, praticamente amanhecemos no Casemiro e já por volta das 11 horas da manhã o "boteco" estava totalmente lotado e o Manelão; Paulo Queiroz; Emilzinho Gorayeb; Silvio Santos; Bráulio Bigode; Cláudio Carvalho; Ivamar Mesquita; Antônio Edson o Neném e Narciso Freire já com a cabeça rodando mais que pião feito de goiabeira, discutiam exaltadamente sobre a criação de uma "Banda" carnavalesca, no estilo da "Banda de Ipanema" que a época, era a mais famosa e conhecida do Brasil.
A idéia foi colocada para discussão pelo Emilzinho que havia chegado do Rio de Janeiro e por lá, viu a "Banda de Ipanema" se apresentar. Como a discussão a respeito da criação ou não da nossa Banda estava perturbando os demais fregueses, Casemiro resolveu nos expulsar de seu bar. Foi aí que fomos todos parar no Bar Chopão que ficava à Rua José Bonifácio com a Duque de Caxias e que era do Hiran que também passou a ser considerado como fundador da Banda. A discussão que havia começado no Bar do Casemiro e continuou no Bar Chopão era quanto à denominação do bloco. Entre uma cerveja e várias doses de uísque e umas e outras talagadas de cachaça e antes que a noite chegasse, Emilzinho bradou "Banda do Só Vai Quem Quer", Manelão que estava roncando de tanto dormir, acordou aprovando o nome no que foi seguido pelos demais. Será que ali realmente nasceu a Banda.
A força da imprensa escrita na criação da Banda Após aquela bebedeira que havia começado na sexta feira e terminada no sábado, parecia que nenhum de nós tinha condições de lembrar de qualquer coisa que havia acontecido no sábado no Bar Chopão, até porque, alguns dos que estavam na reunião do Chopão como eu o Emilzinho e o Cláudio Carvalho passamos o domingo no sítio do Manelão que ficava na Colônia Viçosa tomando banho de igarapé e como não poderia deixar de ser, bebendo cachaça, só que degustando uma deliciosa galinha caipira e outras iguarias e nenhum de nós tocou no assunto Banda do Só Vai Quem Quer. Segunda feira no Chaveiro Gold que funcionava na Galeria do Ferroviário, também ninguém tocou no assunto e olha que naquele tempo, a turma se reunia no final da tarde na porta do chaveiro para colocar as "fofocas" em dia e nenhuma frase foi dita a respeito da reunião no Chopão.
Na terça feira pela manhã, Manelão ao abrir o jornal "O Guaporé" viu estampada a seguinte manchete. "Porto Velho Terá uma Banda" e na matéria os detalhes do que havia acontecido nos bares do Casemiro e Chopão e ainda dizia: "O empresário Manoel Costa Mendonça o Manelão, proprietário do Chaveiro Gold havia assumido a presidência da recém criada, "Banda do Só Vai Quem Quer"".
Manelão ao ver seu nome estampado no jornal O Guaporé assumindo a presidência da Banda, não teve alternativa, isso porque ele não tinha certeza se o Ivamar Mesquita que era editor do jornal, havia realmente escrito o que fora decido naquela reunião de sábado. Diante da dúvida, o "Gordo" que já havia sido o Rei Momo do carnaval de Porto Velho em 1980, assumiu a coordenação da Banda. Aliás, um dos motivos do surgimento da "Banda do Só Vai Quem Quer", foi justamente em virtude da Corte do Rei Momo ter sido desconsiderada pela prefeitura no carnaval de 1980. Manelão era o Rei e sua Corte era formada pelo Emilzinho; Neném. Finado Zé Carlos Músico; Narciso Freire, Jurandir Sena e outros.
Acontece que a prefeitura, havia autorizado que o empresário da Lanchonete "Roda Viva" que funcionava na Galeria do Ferroviário, atendesse a Corte do Rei Momo com bebida e comida durante o carnaval, num valor considerável. Quando o Michael após o carnaval, apresentou a conta, o prefeito desautorizou o pagamento o que fez com que Manelão e mais alguns membros da Corte, assumissem a dívida. Esse foi realmente, o principal motivo da criação da Banda.
"Se nós pagamos as despesas que eram da prefeitura, porque não pagarmos as nossas despesas durante o carnaval. Vamos criar um bloco nosso", disse Manelão. Foi daí que o Emilzinho teve a idéia de criar uma banda nos moldes da Banda de Ipanema. E graças à publicação do jornal O Guaporé, Manelão assumiu a presidência da "Banda do Só Vai Quem Quer".
O hino da Banda
Como o amigo leu no primeiro bloco dessa história, voltei de Brasília no mês de outubro de 1980 e como estava desempregado o Narciso Freire que era encarregado pelo Cartório de Imóveis, me convidou para trabalhar com ele no cartório que funcionava na galeria Central. Você viu também que eu era uma "pé inchado" de carteirinha e por isso não conseguiu me fixar em nenhum emprego.
Bom, quando ficou decido que Porto Velho teria sua Banda, o Narciso chegou ao cartório e foi logo me dizendo, "sua permanência no emprego fica condicionada a composição do Hino da "Banda do Só Vai Quem Quer", te vira"! Meu primo Gilson Macedo que também trabalhava no cartório, a partir de então, passou a me instigar, dizendo que eu não tinha mais condições de compor nenhuma música, porque a cachaça havia consumido o meu cérebro. Aquilo me deixava perturbado, em vez de tentar contradizer o pensamento do Gilson eu deixava o cartório no meio do expediente e ia me embriagar no primeiro boteco que encontrava. Todo dia o Narciso me cobrava a música e o Gilson voltava a me encher o saco, foi então que resolvi mostrar que ainda tinha capacidade para compor uma música.
Na semana que a Banda ia desfilar pela primeira vez, eu cantei em pleno expediente, com o balcão do cartório cheio de gente o Hino da Banda – "Chegou a banda a banda, a Banda do Vai Quem Quer/Nós não temos preconceito/Na brincadeira entra quem quiser/Já tentei brincar organizado/Isto nunca deu pé/Hoje estou realizado/Na Banda do Vai Quem Quer". Essa música foi gravada em 1984 pelo Baba na gravadora Top Tap no Rio de Janeiro e é sucesso até hoje. O interessante foi que o Gilson foi o primeiro, depois de mim, a cantar o Hino da Banda.
A primeira camiseta
Diante da noticia publicada no jornal O Guaporé, Manelão resolveu assumir de vez a direção da Banda e sem ter alternativa, usou o nome de sua empresa Chaveiro Gold para conseguir confeccionar as camisetas em uma fábrica em São Paulo faturada para 30 dias. A arte da primeira camiseta foi criada pelo arquiteto João Otávio Pinto conhecido também como "Jotapi" e foi impressa numa camiseta de cor amarela. Essa camiseta pode ser admirada no Chaveiro Gold que agora funciona a Rua Presidente Dutra ao lado do BASA.
No dia do desfile da Banda sábado de carnaval de 1981, Manelão solicitou ao Jurandir Sena o Zé Bonitinho que fosse vender camiseta na Avenida Sete e juntamente com os demais membros da diretoria da banda subiu a ladeira rumo ao Chopão local de onde a banda sairia. Acontece que aquele sábado amanheceu chovendo e a chuva por volta do meio dia persistia em cair. Eu, Silvio Santos, cheguei ao Chaveiro e vi uma faixa estendida no chão e já mais pra lá de Bagdá, pensando que aquela faixa não deveria ficar ali, a enrolei, resultado, a tinta aplicada pelo artista Julio Carvalho estava fresca e a faixa ficou toda manchada o que me fez levar uns catiripapos do Manelão.
Julio pintou outra faixa com os dizeres "A Banda agradece ao povo e pede passagem". Se você não sabia, no primeiro desfile da Banda, quem estivesse vestido com a camiseta teria direito a beber cerveja de graça. A cerveja foi colocada pra gelar em caixas d´água instaladas na área do Bar Chopão, acontece que naquele tempo só existia cerveja em garrafa e por isso a cerveja só poderia ser consumida antes ou depois do desfile da Banda. Quanto ao Zé Bonitinho, foi encontrado após o desfile da Banda, dormindo na calçada dos Correios sem nenhuma camiseta e sem nenhum tostão e o Gordo presidente, teve que arcar sozinho com o pagamento da confecção das camisetas perante a fábrica em São Paulo.
O estandarte, a banda da banda e o público
Por volta das três horas da tarde do sábado de carnaval de 1981, a chuva deu uma trégua e o Manelão se benzeu agradecendo. Uns quinhentos foliões apenas, estavam no Chopão vestidos com a camiseta.
"É prejuízo puro", coçava a cabeça Manelão pensando em sanar as despesas com a confecção das camisetas, cerveja, segurança e músicos da banda. A Banda da Banda foi formada com todos os músicos da Banda de Música da Guarda Territorial a nossa "furiosa". Assim que tivemos certeza que a chuva não voltaria demos largada na Banda. O Emilzinho havia comprado um cetim amarelo e franjas pretas e levou pra Terezinha mãe dos meus filhos confeccionar o estandarte, só que esquecemos de ir buscar.
A Banda vinha desfilando pela Rua José Bonifácio e quando chegou a Carlos Gomes com a Gonçalves Dias o Emil lembrou do estandarte e pediu que fosse buscar, a sorte era que a minha casa era ali perto, na Carlos Gomes mesmo perto da Tenreiro Aranha. Outro detalhe interessante foi que até 1984 os músicos da Banda da banda faziam o percurso tocando a pé.
O carro de som que saiu no primeiro desfile da Banda era um, fusquinha do Miguel Silva com o Lucivaldo Souza com duas cornetas que servia apenas para a gente cantar para os músicos de a Banda descansarem um pouco. A Banda que havia saído do Chopão com aproximadamente quinhentos brincantes retornou com aproximadamente cinco mil, daí dizermos na letra da marcha dos 15 anos da Banda que ela não teve adolescência, de criança passou a mulher.
O percurso foi o seguinte Rua José Bonifácio; Carlos Gomes; Joaquim Nabuco; Sete de Setembro; Rogério Weber; Duque de Caxias até o Bar Chopão local da saída. Só as partir do seu terceiro ano foi que a Banda passou a sair da Praça das Três Caixas D´água. Muitas outras histórias existem sobre a Banda do Vai Quem Quer que nasceu em janeiro de 1981 com o nome de "Banda do Só Vai Quem Quer".
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