A chegada da primeira mulher à Presidência da República deu um sinal positivo para a igualdade de oportunidades com os homens em outras esferas da sociedade brasileira, mas a atenção de Dilma Rousseff com adversários do movimento feminista coloca isso em cheque. É essa a avaliação de Sônia Coelho, porta-voz da SOF (Sempreviva Organização Feminista) e membro da Marcha Mundial de Mulheres (MMM).
Em entrevista ao UOL Notícias, em virtude deste Dia Internacional da Mulher (8) a militante afirmou que a vitória de Dilma deve incentivar empresas e políticos a diminuírem o histórico preconceito de gênero. Mas acredita que a petista cedeu a pressões de grupos religiosos durante a campanha na temática do aborto e se aproximou de críticas do feminismo, como a apresentadora Ana Maria Braga, da TV Globo.
“Na campanha eleitoral foi criado um compromisso para o mandato. A discussão sobre o direito de escolha foi travada. As dificuldades hoje não são maiores do que antes, mas com uma presidenta no Palácio do Planalto isso deveria ser diferente”, disse Sônia. “Também achei um mau sinal a ida da Dilma à Ana Maria Braga. Quando fomos ao programa dela, fomos muito atacadas. Ela tem uma posição muito conservadora e a Dilma deve saber.”
Dilma se aproximou da apresentadora ainda durante a campanha eleitoral. Ambas tiveram câncer. A petista agradeceu à global pelo apoio recebido naquele período. Tornaram-se amigas. A respeito do aborto, a presidente, que já defendeu a descriminalização da prática, afirma defender a lei atual, permitindo a interrupção da gravidez exclusivamente nos casos de estupro e de risco à vida da mãe.
Sônia Coelho faz parte de uma marcha que reúne mulheres nos cinco continentes. No Brasil, a iniciativa conta com o apoio do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), da CUT (Central Única dos Trabalhadores), da UNE (União Nacional dos Estudantes) e do MMC (Movimento de Mulheres Camponesas). Todas essas entidades apoiaram Dilma nas eleições de outubro, contra o tucano José Serra. “Apoiar não significa não ver”, disse.
Apesar disso, a porta-voz do SOF acredita que a campanha pela erradicação da miséria contribui para a criação de melhores condições para as mulheres. “Esse é o slogan que o governo dela adotou. E no Brasil miséria tem gênero, é o feminino, e tem cor negra. Combater a pobreza extrema é obrigatoriamente melhorar a condição da mulher”, afirmou. “Estamos no começo do governo e não dá para cobrá-la demais. Com o tempo veremos melhor."
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