ASSFAPOM - Ten Cel do Espírito Santo é contra promoção por tempo de serviço. Dos praças, a dele, oficial, é a favor
Recebi um email com uma carta do Ten Cel. Walace endereçada ao Deputado Josias da Vitória, criticando de forma veemente, a proposta do deputado na criação de lei de promoção por tempo de serviço (15 anos) que beneficiará de imediato mais de 1500 soldados na PM do Espírito Santo. Vale lembrar que muitos estados esta promoção é automática aos 10 ou 8 anos de serviço para cabo e 15 ou 20 anos para sargento e, em alguns casos, não precisa nem de vagas disponíveis.
Você ficará estarrecido com os argumentos do Ten. Cel. Walace que passo a transcrever abaixo. Ao final comento minha opinião e espero a opinião de militares de todo o Brasil logo abaixo:
O dito email tem o título interessante de Mel para abelhas Obs. aqui foi transcrito na íntegra, inclusive com erros. Apenas grifamos os pontos mais polêmicos:
Amigos (as) e nem tanto,
Em face da leitura de um projeto de lei que incorre em risco de ser aprovado na Casa-de-dizer-sim, me vi compelido a escrever ao Dep. Da Vitória (proponente), emitindo minha breve opinião sobre o assunto, pois “só ovelha morre em silêncio”.
Um abraço a todos pela paciência em ler.
Ten Walace
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Deputado Josias,
Louvo suas iniciativas. Elas se espraiam no vazio de idéias que permeiam a nossa Casa-de-dizer-sim, mormente no que tange a benefícios abrangentes para a PMES.
Pelo tempo em que vc por aqui lutou, sabedor de que há muito mais coisas que sua força política poderia fazer, vc subestima sua competência com projetos de lei ( a até leis já aprovadas) que não engrandecem sua história.
A sua permissão (ou omissão) na aprovação da LC 420 me entristece. Vc poderia utilizar sua competência para modificar alguns artigos ali existentes que só nos massacram e que muito lhe seria últil politicamente se vc os modificasse, pois afetam diretamente toda a tropa, principalmente os Soldados que estão ingressando. Não estou falando dos 35 anos de serviço, nem da tabela, nem do impedimento de averbação de férias. Se quiser uma amostra, poderei lhe enviar para avaliação.
E o que poderemos falar sobre a LC 467? Vc já percebeu o tiro dado no pé e agora quer criar um novo dispositivo para incentivar os Soldados a não se preocuparem em estudar, se aperfeiçoar e, assim, se manterem incompetentes em um debate com algum meliante de colarinho que tenham de prender.
Isso é muito ruim. Vc não pode compactuar com a preguiça, com o desinteresse pela cultura, pelo aperfeiçoamento, pelo labor em busca do afastamento das rédeas que nos dominam desde o puxadinho que a Força Pública ocupava no porão do Anchieta, em 1835.
Premiar a ignorância e o comodismo pode lhe ser interessante politicamente, mas não é interessante para a Corporação, pois ela só perde com isto. Perde em qualidade, perde em credibilidade, perde em respeito.
Até entendo o seu viés político da proposta. A PM já foi o seu fim, sua fonte de sustento. Hoje, ela é o seu meio, instrumento através do qual vc se consolida como parlamentar. Também entendo que vc deve ter trabalhado com policiais tão medíocres (de Sd a Cel), que, pela experiência, qualidade e credibilidade não são virtudes que muito lhe interessam para a PMES.
Respeito sua postura, da mesma forma que respeito todos aqueles que depositaram um voto de confiança na sua ação parlamentar. Contudo, a PMES é maior que o interesse de alguns militares que, nos momentos de folga, preferiram trocar os bancos escolares pela cerveja, pelo buteco, pelo churrasco, pelo “ishkema”, certos de que a desídia e o descompromisso consigo mesmo, com seu futuro, seria premiado em algum momento, por leis oportunistas, independentemente das suas qualidades e habilidades.
E não falo isso sem conhecimento profundo de causa, pois fui soldado com muito orgulho de uma turma de 110 alunos, sem pai para me dar estudo de qualidade ou sustento sem produzir alguma coisa. Só que, ao terminar o CFSd, não me empolguei com um .38, com um Rayban e com a ilusão de autoridade que invade a cabeça de um adolescente quando ingressa na Corporação.
Tratei de Estudar, pois ainda que na época não houvesse esta premiação pela preguiça, e exatamente por isto, desde o início percebi que só quem se qualificasse poderia se habilitar a ser um graduado ou um Oficial.
Certo estou de que, se por aquela época já houvessem estas leis que premiam e louvam a desídia, a preguiça e o relaxo cultural, bem me seria possível que eu me desleixasse e me entregasse à esbornia, com a garantia de que, em algum momento, as lagartinhas cairiam do céu, digo, da mão de algum santo integrante da Casa-de-dizer-sim, e eu não precisaria me esforçar para distinguir se assembleia se escreve com um “S”, com dois ou com “Ç”.
O projeto atual, da mesma forma que foi a LC 467 é mais um desserviço à PM. Enquanto outras corporações lutam para que todos os seus membros tenham ou já ingressem com um curso superior, exatamente para podermos pleitear junto ao governo melhores salários e condições de trabalho, estes dispositivos legais nos colocam na margem do processo evolutivo-cultural da sociedade.
Melhor seria que vc propusesse um dispositivo legal que voltasse a ter o CFS e o CFC, devendo serem feitos anualmente, não extinguindo o CHC ou CHS, mas reservando um percentual de até 20% do efetivo previsto para ambas as graduações, ficando o restante para aqueles que não se entregassem à esbornia e à certeza de que a moleza será premiada.
Vc poderia estar, com isto, dignificando ainda mais sua função, agora em nível institucional, pois saberia que daqueles Sargentos e Cabos que vc encontrasse pelas ruas, um número pequeno haveria “ganhado” as divisas. E não venha me dizer que aquilo que fazem no CFA os qualifica para coisa nenhuma, que isso não cola, pois para ser da forma que é, preferível seria que recebesem as divisas nos Batalhões e recebessem os salários de acordo com as novas graduações.
Muito me preocupa como serão os Sargentos de amanhã. A última turma que realmente fez um Curso de Sargentos foi em 1995, e, ainda assim, com um curso de formação, temos uma meia resma por aí que não deveria ser nem Soldado, pois só se garantem pelo Salário que recebem e vivem disseminando a discórdia e a desunião dentro da própria graduação e da Corporação.
E elo de ligação entre o Comando e a Tropa já deixou de ser o Sargento há muito tempo. E o escrivão de IPM? e o encarregado de Sindicância, quem será? e o chefe de Guarnição? Muitos, saem do CFA ostentando divisas de Cabos e Sargentos apenas pelo salário. Ao voltarem para suas Unidades continuam com o mesmo comportamento anterior, onde o subordinado tomava as decisões e decidia o roteiro do preventivo.
Dep. Josias, se vc quer realmente fortalecer a Corporação que outrora lhe recebeu e da qual até hoje vc se beneficia, alimente-a com sementes de esperança. Não lhe dê mesas fartas de guloseimas de fácil digestão e que lhe cause fome em curto prazo.
Utilizar-se dela para seus objetivos eleitorais, é aceitável, é o seu papel. Mas não se esqueça que a perpetuação dela só será possóvel com a melhoria da qualidade de seus membros, com a exigência de qualificação dos seus integrantes, com a criação de leis que a deem credibilidade perante a sua clientela externa, pois é em função desta que a PM existe.
Criar leis que apenas transformem todos os Soldados em Cabos não os qualifica, não os dignifica. Isto só aumenta o salário e só aumento de salário não os torna mais dignos, mais compromissados com o serviço ou mais preocupados com os rumos da corporação, pois se assim o fosse, os membros do Poder Judiciário e do Legislativo seriam as pessoas mais preocupadas com o funcionamento da sociedade que qualquer outra. E a coisa não é assim!
Caso vc keira alguma idéia de modificação de normas que regem a PM e que lhe poderia ser interessante analisar e apresentar em plenário, estou ao seu dispor.
Mas, premiar o preguiçoso, o desinteressado…não!
Um fraternal abraço.
Ten Cel Walace walace.brandao@hotmail.com
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