A Camargo Corrêa informou que cerca de 50 ônibus levaram os 19 mil trabalhadores dos canteiros de obras da Usina de Jirau, no Rio Madeira, para Porto Velho, capital de Rondônia, que fica a 130 km. O esvaziamento da usina e a paralisação das obras foram medidas necessárias por causa do clima de violência que tomou conta do local desde a terça-feira, quando os operários revoltados queimaram ônibus e destruíram instalações, em represália à truculência dos seguranças da empresa.
Segundo a Camargo Corrêa, em Porto Velho, os trabalhadores ficarão alojados num local com capacidade para 10 mil pessoas, onde é realizada a Feira da Indústria do Sesi. Também estão sendo providenciadas colchonetes e 20 mil refeições, já que com a destruição do refeitório do canteiro de obras, os operários ficaram o dia todo sem comer. A empresa também liberou uma linha telefônica para dar informações aos trabalhadores e seus operários: 0800 9400810.
A revolta provocou um êxodo de 22 mil trabalhadores (19 mil da Camargo Correa e 2 mil terceirizados). Ao longo da BR-364, que chegou a ser fechada, centenas de operários caminhavam ontem com malas nas costas, abandonando seus postos de trabalho. A situação ficou ainda mais tensa com a convocação de trabalhadores para voltar ao canteiro de obras.
- Saímos da margem esquerda porque disseram que iriam incendiar os nossos alojamentos. Fomos alojados na direita e, no meio da noite, veio o fogo. Não tive tempo sequer de pegar os documentos. Saí com a roupa do corpo. A polícia usou sprays de pimenta - contou um trabalhador que conseguiu chegar a Jaci-Paraná, perto de Jirau.
Os trabalhadores reclamam que o pagamento de horas extras foi cortado pela Camargo Corrêa. Eles reivindicam o aumento da cesta básica de R$ 110 para R$ 350 - valor estabelecida por outras empresas envolvidas na obra.
No fim da tarde de ontem, ainda havia mais de 4 mil trabalhadores no município de Jaci-Paraná e cerca de 2 mil em Nova Mutum. Eles estavam sem comida desde a manhã, porque o refeitório foi destruído durante as manifestações. Operários andaram mais de 12 quilômetros para fugir do quebra-quebra em Jirau.
O gerente de relações trabalhistas e sindicais da empresa, Roberto Silva, disse que houve dificuldade para conseguir ônibus, mas que a empresa montou um esquema de logística. Sobre as queixas dos trabalhadores de que há truculência por parte dos encarregados, seguranças e motoristas, Silva afirmou que são questões pontuais e acontecem reuniões periódicas para orientá-los.
- Mas nós vamos apurar - afirmou.
Silva disse ainda que a empresa não tinha conhecimento de nenhuma reivindicação trabalhista. Ele também afirmou que todos os direitos trabalhistas dos operários serão preservados, com depósito integral dos salários e que não haverá "nenhum prejuízo para os trabalhadores".
O gerente também garantiu que todas as despesas de transporte para os trabalhadores que são de fora de Porto Velho, seja de avião ou de ônibus, serão custeadas pela Camargo Corrêa.
-Estamos preparando adiantamentos salariais, alimentação e transporte para todos.
Ele confirmou que os trabalhadores foram chamados para voltar ao trabalho hoje.
-A situação parecia normalizada. Não imaginávamos que isso ia ocorrer - justificou.
Ele também informou que ainda não há data prevista para a retomada as obras, já que a preocupação agora é garantir transporte e acomodação para todos.
Confronto com a polícia
Mesmo com os esforços da empresa, no fim da tarde dessa quinta-feira, mais de 5 mil trabalhadores ainda se encontravam na BR 364, que liga a Jirau à Porto Velho, à espera de alimentação e transporte. Pela manhã, os trabalhadores chegaram a fechar a rodovia. O comércio nas cidades de Jaci-Paraná e Nova Mutum, próximas da usina, foi totalmente fechado. Segundo os trabalhadores, foi a própria polícia militar que orientou os comerciantes a fecharem as lojas, porque os trabalhadores estavam vindo em direção às cidades.
Truculência de encarregados, seguranças e motoristas é a principal queixa dos operários. E a agressão a um deles foi o estopim da rebelião. Foram depredados 60 veículos e praticamente todos os alojamentos da margem direita da obra. Operários alojados na margem esquerda só conseguiram deixar o local sob a escolta de policiais. Segundo o governo estadual, trabalhadores atearam fogo a 45 ônibus, 15 carros e 45 instalações. O incêndio teria deixado sem abrigo 12 mil peões.
Autor: O Globo
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