No fim de semana, o médico Henrique Prata acusou Marinha Raupp de “atrapalhar as obras do HCB”, mas a verdade é bem diferente
Brasília – Durante todo o fim de semana circulou em grupos de Whatsapp de Rondônia, um vídeo onde o médico Henrique Prata, presidente da Fundação Pio XII, que administra a instituição “Hospital do Câncer de Barretos“, acusou a deputada federal Marinha Raupp e o secretário de Saúde do Estado Williames Pimentel de estarem atrapalhando deliberadamente o cadastramento do hospital junto ao Sistema Único de Saúde (SUS) em detrimento da clínica São Pelegrino, que há anos atende os pacientes de Rondônia, Acre e parte do Amazonas.
Mas antes de entrarmos na discussão, vamos fazer um breve retrospecto. Com a chegada da soja no extremo sul do Estado, houve um aumento abrupto nos casos de incidência de câncer em Rondônia, principalmente os de estômago, considerados um dos mais agressivos. Pacientes começaram a chegar aos montes em Barretos, que passou a enviar uma unidade móvel para as regiões mais afetadas, Colorado, Cerejeiras e arredores. Com isso, mais e mais casos foram sendo diagnosticados e com isso, surgiram grupos que passaram a apoiar a construção de uma unidade no Estado. Foram realizados eventos, doações surgiram de empresas e pessoas que apóiam a causa.
Marinha Raupp, Henrique Prata e Confúcio Moura em visita a construção do Hospital em Porto Velho
O câncer, seja ele qual tipo for, é uma doença terrível e qualquer um de nós estamos sujeitos a ela. Mas no caso do tratamento, quanto mais opções tivermos, melhor tanto para os pacientes quanto para seus familiares. Os custos de Tratamento Fora de Domicílio (TFD) aumentaram devido ao crescimento nos casos diagnosticados e o Estado passou a se articular para ajudar no que podia, em relação à construção da unidade do HCB em Porto Velho.
Mas ai começam os problemas. A unidade do HCB da capital ficou pequena e começa a sair do papel a idéia de construir um grande hospital para atender a região amazônica e também começam as discussões sobre a destinação de verbas e graças a burocracia estúpida do Ministério da Saúde, o Estado e o hospital chegam ao primeiro impasse, ainda em 2015 e PAINEL POLÍTICO noticiou com exclusividade na época. Quem acompanha nosso trabalho sabe que sempre criticamos a gestão Confúcio Moura, o senador Valdir Raupp e o secretário Williames Pimentel. Mas nesse caso envolvendo o HCB, Pimentel tem razão. Em novembro do ano passado, Pimentel pediu o credenciamento, junto ao Ministério da Saúde, do Hospital do Câncer de Barretos, através do Ofício 6.157/GAB/SESAU. Em dezembro, o Ministério da Saúde informou no Ofício 047/2016 que “a habilitação deste Hospital só poderá ser solicitada quando o mesmo estiver totalmente construído e em pleno funcionamento”, além de outras observações. Ofício da SESAU de novembro de 2016
Ofício do Ministério da Saúde – Dezembro de 2016
O que Henrique Prata quer não é possível. Mas não por culpa de Marinha Raupp, Pimentel ou Confúcio, mas por conta da legislação atual. Marinha Raupp não é uma parlamentar notável, com grandes projetos em tramitação, mas ela está em seu sexto mandato como deputada federal e qualquer prefeito, vereador ou seja lá quem for que a procure em Brasília, sabe que ela recepciona e corre atrás de resolver qualquer problema que esteja a seu alcance. Acusar Marinha de “atrapalhar as obras” é quase uma leviandade, nem ela nem ninguém quer atrapalhar nada. Rondônia, assim como praticamente todo o país sofre com a precariedade da saúde pública. Prata alegou em sua fala que a clínica São Pelegrino “usa equipamento defasado”, pode até ser verdade, mas é o que o temos, o que já salvou milhares de vidas. O Hospital do Câncer poderia fazer uma parceria não apenas com a São Pelegrino, mas com todos os atores envolvidos na luta contra essa doença terrível. Isso é ser solidário, isso é filantropia. Qualquer outro tipo de discussão sobre esse tema é egoísmo e quando se trata de salvar vidas, não podemos aceitar esse tipo de debate. Nota técnica do Ministério da Saúde sobre o credenciamento de unidades de alta complexidade
Sobre a “gratuidade” do tratamento
Absolutamente nada nesta vida é de graça, principalmente quando falamos de doenças de altíssima complexidade. O Hospital do Câncer de Barretos foi fundado pelo pai de Henrique Prata, o médico Paulo Prata. Henrique assumiu em 1989 e intensificou o programa de doações para ampliação do hospital, que se mantém através de doações, eventos beneficentes, recursos do SUS e emendas parlamentares. Deputados federais e senadores de praticamente todos os estados destinam fatias de suas emendas para a instituição, que também conta com a ajuda de governos e municípios.
Grande parte dos atendimentos, portanto, vem sendo custeada com recursos públicos, e comprova que quando se tem boa vontade, o dinheiro público pode ser bem aplicado e o HCB é um dos poucos exemplos bem sucedidos nesta área. É preciso que a sociedade continue apoiando o hospital e até que se amplie. Mas é preciso também que cessem as acusações, trocas de farpas e politicagens em prol do bem estar da tão sofrida população que necessita desses serviços, que no caso, literalmente é uma questão de vida ou morte.
alan alex
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